Para o público brasileiro, Måneskin está em casa. Não só pelas calorosas palavras em português aprendidas pelo vocalista Damiano David (“Vamo, caralho. Porra!”) ou pelo cover de “Exagerado”, do Cazuza, incluído na setlist, mas também porque fãs e banda agora parecem mais familiarizados com a presença um do outro. 

Em sua primeira passagem pelo Brasil, há apenas um ano, existia um sentimento contagiante de euforia. A fama viral e meteórica advinda da vitória do Eurovision e do sucesso de um cover de “Beggin'” transformou o Måneskin em uma febre mundial. Na ocasião, completamente deslumbrados com o público brasileiro e a recepção ensurdecedora da cidade de São Paulo, banda e fãs quase fizeram o Espaço Unimed vir a baixo.

Já agora, em seu retorno, o Måneskin se apresentou na mesma casa de shows para um público menos arrebatador. A setlist enérgica, eletrizante e consistente manteve a plateia vibrando e dançando sem parar até o final das quase 2 horas robustas de show, mas não existe mais aquele sentimento geral de anseio por parte dos artistas e dos fãs que levava os integrantes a passarem a maior parte do espetáculo grudados na grade e abraçando-se ao público.

Conhecidos pela energia sensual e sexual que exalam no palco, o Måneskin se encontra agora em uma fase mais madura e menos latente. No show de sexta-feira, em São Paulo, o grupo apareceu vestindo ainda muito couro, mas com roupas que deixavam menos pele à mostra. A presença de palco dos integrantes ainda atrai o olhar de forma magnética, mas eles agora passam menos tempo interagindo fisicamente uns com os outros. Até mesmo a baixista Victoria Di Angelis, que costuma ser um destaque à parte nas performances do Måneskin, apareceu pouco durante a apresentação e recebeu menos holofotes que o guitarrista Thomas Raggi, que executou dois longos solos ao final de “FOR YOUR LOVE” e antes de “The Loneliest”.

Ignorando completamente seu primeiro álbum de estúdio, Il ballo della vita (2018), o Måneskin tocou quase todas as faixas do Teatro d’Ira (2021) e algumas do novo disco, Rush! (2023), incluindo a inédita “THE DRIVER”, que será lançada em uma versão deluxe na próxima sexta-feira, 10 de novembro. A banda já entendeu o poder e a popularidade de suas músicas em italiano — reconhecido verbalmente por Damiano em um de seus discursos — e abandonou por completo a setlist repleta de covers em detrimento de seu trabalho autoral. As únicas exceções foram a já mencionada versão acústica de “Exagerado”, do Cazuza (cantada lindamente em português por David), e o cover de “Beggin'” que pavimentou o caminho para o estrelato. 

Nem a banda e nem o público se empolgam mais com a música originalmente cantada pelo Four Seasons. Antes da performance, Damiano admitiu que eles ficam meio incomodados de receber pedidos para cantá-la, mas se no exterior “Beggin” ainda é um sucesso, no Brasil o público facilmente abriria mão dela por uma canção autoral. Foi inclusive a pedido da plateia que a banda improvisou um pedacinho de “BABY SAID”, faixa do disco mais recente que ficou de fora da setlist, e incluiu também a emocionante “VENT’ANNI”, cantada somente nos shows do Brasil.

A relação de carinho e admiração mútua entre os fãs brasileiros e o Måneskin é uma das coisas que fazem os shows da banda no Brasil serem tão inesquecíveis. O público faz questão de mostrar seu respeito pela discografia da banda e, eles, por sua vez, agradecem atendendo prontamente a pedidos, chamando fãs no palco em “KOOL KIDS” e deixando transparecer seu afeto e sua satisfação em estar de volta. O maior presente foi, com certeza, a setlist longa e repleta de músicas autorais, assim como o excelente show de luzes que transformou o Espaço Unimed em uma pista de dança frenética e complementou a performance da banda perfeitamente.

Para a próxima passagem do Måneskin por terras brasileiras, fica a expectativa de melhoria para apenas uma coisa: o fim da reprise desnecessária de “I WANNA BE YOUR SLAVE”. E talvez o esquecimento completo do cover de “Beggin'”.

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