A 11ª edição do Sensacional! desembarcou na última sexta-feira, 21, na capital mineira. O tradicional festival aconteceu em um dos cartões postais da cidade, o Parque Ecológico da Pampulha. Com seus 30 hectares de áreas verdes, o local foi palco de uma deliciosa junção de fauna, flora e expressão artística.

A abertura dos portões aconteceu às 17h, mas foi somente às 20h que aconteceu a apresentação de Xande de Pilares — no Palco Petra — que marcou o início do festival. O artista trouxe ao Sensacional! o seu show “Xande canta Caetano”, um tributo a um dos gigantes da Música Popular Brasileira. 

Cantar Caetano Veloso definitivamente não é uma tarefa fácil, mas o ex-integrante do Grupo Revelação o fez com maestria. Trazendo alguns dos clássicos do músico baiano com roupagem enraizada nos ritmos afro-brasileiros, Xande conseguiu colocar o samba no pé do público. 

“Força Estranha” de Pilares é potente, cantada com o coração. Não há quem não se emocionou com a versão do cantor, que tornou a música inteiramente sua. E, para encerrar, Xande cantou dois clássicos do Grupo Revelação, “Tá Escrito” e “Deixa Acontecer”, que foram recebidas com empolgação da plateia.

Após o fim do show de Xande de Pilares, o palco vizinho, o Yelum, se preparava para receber uma das maiores lendas da música brasileira, — e, quiçá, do mundo — Djavan.

Antes do artista alagoano entrar no palco, o público ouviu um manifesto escrito pela ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, destacando a importância da preservação do meio ambiente e dos saberes ancestrais. Logo depois, os instrumentais marcantes de “Curumim” invadiram o Parque, e, assim que Djavan entrou no palco, sussurros de “Meu Deus, é ele!” podiam ser ouvidos entre a plateia. 

Qualquer coisa que eu escreva sobre o show de Djavan não chegará nem perto da sua grandiosidade. Vê-lo ao vivo foi como uma experiência semi-religiosa, parece que todo o público foi transportado temporariamente para um universo a parte, bem longe daqui. Os painéis coloridos que embelezavam o cenário ao fundo, feitos por artistas plásticos indígenas, contribuíram ainda mais para o aspecto de “sonho” da apresentação. 

A plateia cantou e dançou com o artista ao som das vibrantes “Samurai”, “Sina” e “Lilás”. No entanto, foi no bloco acústico que a conexão entre o público e o artista se fortaleceu. “Meu Bem Querer” e “Oceano” se consagraram como os momentos mais emocionantes do show, não era difícil olhar ao redor e encontrar pessoas se beijando, se abraçando, chorando juntas. Não há ninguém na música que consiga traduzir a essência do amor tão de forma tão bela quanto Djavan, e caso houvesse alguma dúvida em relação a isso, ela evaporou naquele momento. O show acabou e saí de lá me sentindo a pessoa mais afortunada do mundo por compartilhar a mesma língua que o músico e lamentando aqueles que não tiveram a mesma sorte.

O segundo dia de festival aconteceu no sábado, 22. Desta vez, os portões abriram às 13h e o dia começou com a participação do Comitê Indígena Mineiro, que realizou um ritual através da fumaça sagrada e cânticos que evocam seus ancestrais para abrir o festival. 

As primeiras atrações foram Ladogz, dupla francesa que venceu o edital da Groover com o Sensacional!. Influenciados por Kanye West, 2Pac e Miles Davis, os franceses esbanjaram simpatia e até arriscaram um português. Depois, veio a Babadan Banda de Rua, que, com repertório instrumental, nos apresentaram músicas de renomados artistas mineiros e arranjos próprios, abrangendo ritmos como samba, afrobeat, jazz, funk e soul. 

Às 15h quem invadiu o palco Chacoalha foi a dupla mineira Ogoin & Linguini, entregaram show animado que mistura inluências de drilll, rap, r&b com disco e soul. Com fanbase fiel, o duo vem crescendo cada vez mais na cena belo-horizontina e nacional. Logo depois, no mesmo palco, veio Ana Frango Elétrico, que abriu o show com sua viciante “Coisa Maluca” e cativou os fãs que cantaram palavra por palavra de cada música sua.

Já no palco Yelum, quem soltava a voz era Marina Sena, que cantou — e encantou — com seu show dedicado à Gal Costa, que nos deixou em 2022. Confesso que estava apreensiva antes da apresentação começar, porque cantar Gal não é para qualquer um e requer muita seriedade e respeito a sua obra. Porém, fui surpreendida pela técnica da jovem cantora mineira, que apresentou um grande amadurecimento desde o The Town, no ano passado. Apesar do setlist ter grandes clássicos de Gal, senti falta de músicas dos álbuns “Índia” e “Fantasia”, que teriam ficado incríveis na voz de Marina.

Depois de Marina, veio FBC, que, junto a sua incrível banda de apoio, entregaram um show impecável. O público sabia as músicas de cor e o coro de “Se Tá Solteira” podia ser ouvido de longe. O Padrim ainda recebeu a artista carioca Letrux, com quem contracenou bem no palco. E, depois de um hiato de 6 anos, a Banda Uó entregou show divertidíssimo que não deixou ninguém parado.

Outro grande destaque do dia foi Marcelo D2, que apresentou um de seus álbuns mais emblemáticos, À Procura da Batida Perfeita, lançado em 2003, que firmou sua assinatura única: a fusão entre rap e samba. D2 cantou também alguns clássicos do Planet Hemp, para a alegria dos fãs. Além disso, o artista puxou o coro de “Cadê o isqueiro?”, de Mr Catra, que prontamente formou um mar de pequenas chamas na plateia.

Por fim, o maior destaque do segundo dia de festival foi Olodumbaiana, a mágica combinação entre BaianaSystem e Olodum. O conjunto conseguiu levar todo o calor do carnaval baiano para o inverno belo-horizontino, unindo clássicos de ambos, como “Faraó”, “Várias Queixas”, “Capim Guiné” e “Sulamericano”.

Essa junção, descrita pelo próprio Russo Passapusso como “sul-amefricanidade”, foi a escolha perfeita para fechar um festival que fica à altura de seu nome.

O Sensacional! promoveu com virtuosidade o encontro dessa enorme colcha de retalhos sonora que é o nosso país, nos fazendo lembrar o quão rica, bela e diversa é a cultura brasileira. 

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