O Coala Festival, um dos maiores festivais de música brasileira no sudeste, celebrou 10 anos em 2024 e o Mad Sound esteve presente no evento no último domingo, 8 de setembro. O dia foi marcado pelo esperado reencontro da banda 5 a Seco e pelo expressivo show do Planet Hemp.
Apesar da temperatura abafada de 37°C em São Paulo, o público compareceu em peso no último dia de evento. Já às 14h30, o espaço estava bem cheio.
A pernambucana Joyce Alane, uma das poucas mulheres a se apresentar no palco principal, entregou uma performance digna de horário nobre. Dona do hit “Idiota Raiz (Deixa Ir)”, mistura pop e piseiro em um som autêntico. Embora tenha uma carreira recente, seu repertório estava repleto de músicas autorais, com destaque para o álbum Tudo é Minha Culpa.
Em 2024, o Coala Festival repaginou o visual. O palco principal, antes rodeado por samambaias, foi decorado com enormes pedras nas laterais. A disposição dos palcos permaneceu a mesma: o Palco Principal na área mais ampla do Memorial da América Latina, o Palco Tim no Auditório Simón Bolívar, e o Club Coala, destinado aos DJ sets.
Mesmo com o maior público registrado no domingo, os serviços funcionaram bem. Bares bem organizados, caixas espalhados por todo o espaço, e vendedores circulando entre o público ajudaram a evitar filas nos pontos fixos. Os banheiros químicos também se mantiveram limpos e abastecidos até o fim do evento.
Às 15h30, o carioca Xande de Pilares levou uma multidão ao palco principal. Ele apresentou seu projeto Xande Canta Caetano, uma releitura das músicas de Caetano Veloso, além de seus clássicos autorais indispensáveis, “Tá Escrito” e “Perseverança”.
Xande traz uma energia única do samba. Na música “Luz do Sol”, sua banda apresenta um instrumental suave, enquanto a potente voz do artista domina e envolve o público, que canta junto com entusiasmo. Nervoso, Xande até pede uma água e expressa sua grande honra em estar ali, interpretando canções de seu ídolo e amigo, Caetano Veloso. Durante o show, ele também presta uma homenagem emocionante à eterna Gal Costa com a canção “Força Estranha”.
A apresentação de Xande já pode entrar para a história do festival como uma das mais bonitas e marcantes.
5 a Seco: o retorno aos palcos
Após cinco anos de hiato, a banda 5 a Seco, formada por Tó Brandileone, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Leo Bianchini e Vinicius Calderoni, voltou para uma apresentação única no Coala Festival. Os paulistas tocaram canções de todos os seus álbuns de estúdio, com destaque para “Pra Você Dar O Nome”, “Faça Desse Drama” e “Feliz Pra Cachorro”. Perto do palco, era possível ver diversos fãs cantando todas as músicas. A sintonia do grupo parece estar ainda mais forte.
Vinicius Calderoni comentou que a pausa era necessária e fazia sentido para todos naquele momento, principalmente para a “manutenção do amor”. Ele também explicou que, assim como a pausa foi importante, estar juntos novamente em 2024 também era algo natural. Para a felicidade dos fãs, Calderoni anunciou que a banda já está trabalhando em um novo álbum, com 15 faixas inéditas, e novos shows estão por vir.
Timbalada e Afrocidade trazem o carnaval de Salvador
O palco principal do Coala Festival foi tomado pelos baianos do Timbalada e Afrocidade, que trouxeram a energia vibrante do carnaval de Salvador. Com uma super banda composta por 23 pessoas, entre dançarinos e músicos, o show foi uma explosão de cores, dança e tambores ressoando. Os looks impecáveis e a coreografia contagiante transportaram o público direto para a folia baiana.
Denny Denan, Buja Ferreira, Fernanda Maia e Eric Mazzone comandaram o espetáculo, mantiveram a plateia em constante movimento. Hits como “Beija-Flor”, “Baby Te Liguei”, “Água Mineral”, “Que Swing É Esse” levantaram a multidão.
Sem se preocupar com o lugar na grade ou espaços marcados, o público se entregou à festa. Havia rodas de bate-cabeça e a energia vibrava de todos os lados. Foi mais um show histórico para a conta do Coala Festival.
Yago Oproprio e Planet Hemp
O rapper Yago Oproprio junto de Gabriel Sielawa e a DJ Maah Fernandes ficaram mais pertinho do público, na parte da passarela, devido a montagem do palco para o Planet Hemp. Se você já foi ao show do Yago, sabe o quanto ele é energético e não fica parado. Embora o espaço reduzido tenha exigido algumas adaptações no show, a essência do artista foi mantida.
Yago Oproprio foi um dos destaques entre os artistas novos com álbum lançado este ano no festival. Ele traz rimas sobre amor, classe trabalhadora e vivências urbanas, sempre com um flow único. Seu álbum de estreia, OPROPRIO, é uma virada de chave em sua carreira.
Durante o show de 40 minutos, Yago apresentou sucessos como “Fora do Tom”, “La Noche”, “Inofensiva” e “Rajada”. A apresentação contou ainda com a participação especial de Rô Rosa, que se juntou a Yago para performar o hit “Imprevisto”. Para encerrar, Yago pediu para acenderem as luzes durante a última música da noite, “Amor Incendiário”, um dos primeiros singles de sua carreira.
Planet Hemp – o mais aguardado do dia – entregou um completo show de hardcore.
Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia, Daniel Ganjaman e Nobru entram no palco logo após uma apresentação breve nos telões sobre os 30 anos de banda.
Diferente dos shows solo do Planet Hemp, o público desta vez foi mais diversificado e o ambiente mais calmo. Embora Marcelo e BNegão tenham incentivado as rodas punk, a energia foi moderada para garantir uma diversão mais segura e controlada. No entanto, o Memorial estava completamente lotado, da frente do palco até o fundo. Com certeza, a energia do show foi intensa.
Marcelo fala novamente “abre essa roda aí! agora sim… isso é um show de hardcore”.
“Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-quadrilha Da Fumaça”, “Cadê O Isqueiro? / Quem Tem Seda”, “Legalize Já” e “Jardineiro” foram os grandes clássicos que não podiam faltar nesta noite.
Planet Hemp te faz entrar na história da banda, narrando os anos e álbuns que a próxima música faz parte. E te leva a uma reflexão ao futuro, ao falar sobre o genocidio da Palestina, ao refletir sobre o atual coach e candidato Pablo Marçal, em suas palavras “E aí São Paulo, Pablo Marçal não dá né?” — em seguida o público faz um coro de “Ei Marçal, vai tomar no cu”. Marcelo então rebate — “Se não for ele, vai ser essa cidade que vai tomar”.
Mc Carol de Niterói, Chorão e Black Alien foram citados no show e ganharam agradecimentos sobre a importância de sua música para a história da banda, e da música no Brasil.
A banda é responsável por dar um passo enorme desde os anos 90 por falar sobre maconha, política e violência do estado contra a população marginalizada. Planet Hemp é a história da música brasileira junto com a resistência contra a arte considerada indecente.