Texto por Mari Laviaguerre

O show do Twenty One Pilots em Seattle, Washington, aconteceu no Climate Pledge Arena e marcou o quinto da nova turnê do álbum Clancy (2024).

A apresentação foi uma imersão no universo no sétimo álbum de estúdio do duo. Tyler Joseph e Josh Dun, conhecidos por sua capacidade de criar experiências ao vivo que vão além da música, transformaram o palco em um cenário vivo de Dema, o mundo fictício que simboliza as lutas internas de Clancy, o protagonista da narrativa – e alter-ego de Tyler -, que começou a ser contada no álbum Trench, de 2018. 

O público foi ao delírio quando a dupla subiu ao palco às 20h45, logo após a apresentação de abertura do duo neo-zelandês Balu Brigada. Os fãs, muitos vestidos de preto e vermelho, lotaram a arena. Alguns seguiram a tradição de usar fitas adesivas nas roupas, em referência ao visual de Tyler, enquanto outros optaram por roupas que remetiam ao novo álbum, com muito amarelo e faixas com a nova logo da banda.

A noite começou com “Overcompensate”, uma faixa que imediatamente estabeleceu o clima da batalha final de Clancy contra Nico, o antagonista de toda a trama. Fogos de artifício e fumaça acompanharam a entrada da dupla, e mesmo com o álbum disponível há apenas três meses, o público já cantava junto em coro, assumindo os vocais quando Tyler direcionava o microfone para a plateia. As luzes vermelhas e os visuais intensos espelhavam a tensão da música, e o público, desde o primeiro acorde, estava completamente entregue à narrativa. 

Logo em seguida, a banda revisitou seu passado com “Holding On to You”, do álbum Vessel (2013), quando Tyler literalmente se entregou à multidão, que o ergueu pelos pés enquanto ele cantava. Esse tipo de interação física é uma das marcas dos shows do Twenty One Pilots, onde a banda frequentemente se mistura à plateia, seja surfando na multidão ou tocando bateria no meio do público – o que ainda ia acontecer mais tarde na noite.

A dupla alternou entre álbuns e estilos musicais, sem dar espaço para pausas. Após a nova e cheia de sintetizadores oitentistas – tocados ao vivo – “Vignette”, veio um dos momentos mais aguardados com “Car Radio”, quando Tyler surpreendeu a todos ao aparecer nas estruturas superiores da arena, interagindo com os fãs mais distantes do palco.

Ficou claro que o foco do show era criar uma experiência interativa para os fãs. Durante “The Judge”, foi exibido um vídeo com imagens dos fãs do lado de fora da arena, se preparando para o show, cantando a faixa e mostrando seus figurinos. Tyler, emocionado, declarou que podia sentir que aquela noite seria especial, elogiando a beleza da multidão presente. 

A dupla seguiu com uma sequência de músicas que abrangeram mais de uma década de carreira, mesclando clássicos como “Tear in My Heart” com novos sucessos como “The Craving (Jenna’s Version)”, escrita para a esposa de Tyler – neste momento, um pequeno alvoroço aconteceu em frente ao palco, que logo foi explicado pelo vocalista: “Alguém acabou de ser pedido em noivado aqui na plateia, parabéns!”. A plateia, composta por quase 18 mil pessoas, cantava em uníssono, especialmente no refrão marcante de “Tear in My Heart”.

Outro ponto alto foi quando Tyler e Josh apareceram em palcos separados em meio à pista, onde interpretaram a nova “Routines in the Night”, e um medley de “Addict With a Pen / Migraine / Forest / Fall Away”. Neste momento, o vocalista dividiu a arena em seções para cantar o refrão de “Mulberry Street”, faixa do álbum Scaled and Icy (2021). Tyler conduziu o público como um maestro, e brincou que a seção que se saísse melhor ganharia merchan grátis da banda. 

Quem foi ao show e talvez ainda não conhecesse o álbum Clancy, mesmo assim pode aproveitar o concerto, já que um dos sucessos da dupla nunca estava a mais de três músicas de distância no setlist. Favoritas dos fãs como “Heavydirtysoul,” “Fake You Out” e “Guns for Hands” foram intercaladas entre faixas mais novas como “Oldies Station”, “Navigating” e “Lavish,” e todos na arena cantavam junto com Joseph, seja na plateia em frente ao palco ou na seção 200, nos assentos localizados quase no teto da Climate Pledge, casa do time de hóquei de Seattle.

Tyler foi novamente para o piano no pit no final de “Lavish,” quando a batida instantaneamente reconhecível do sucesso de 2015 “Ride” começou. O cantor pausa a música e um dos momentos de maior destaque da turnê acontece logo em seguida, quando ele convida um jovem fã ao palco para cantar junto. “Estamos apenas você e eu aqui”, ele diz quando percebe que o integrante da “nova geração” – como ele mesmo chama – está nervoso em subir ao palco. 

A apresentação terminou com “Paladin Strait” – que em Clancy é a catarse de toda a obra e também a última faixa do álbum -, com Josh tocando bateria em uma plataforma literalmente em cima dos fãs mais próximos ao palco, sendo sustentado por eles. A banda logo voltou para um bis de quatro músicas, começando com “Jumpsuit”, “Midwest Indigo” e o mega hit “Stressed Out”.

O show encerrou de forma épica, com Tyler avisando aos fãs que estavam em pé mais ou menos no meio da arena que se eles se afastassem, veriam um círculo no chão. Se todos se posicionassem lentamente em volta desse círculo, eles conseguiriam fazer a próxima (e última) parte do show. E após seguir as ordem do vocalista, o duo reaparece em duas plataformas dentro deste círculo, cercado pelos fãs, sem seguranças, apenas confiando que tudo vai dar certo ao executarem a última canção da noite, “Trees” – uma música que se tornou o tradicional fechamento dos shows da banda, com uma explosão de confetes vermelhos e Josh e Tyler tocando bateria. E sim, deu tudo certo, e a cena é linda de ser vista.

O show de Seattle foi uma verdadeira celebração da arte e da criatividade do Twenty One Pilots. Cada canção, cada visual, e cada interação com o público contribuiu para criar uma noite inesquecível. A saga de Clancy pode ter chegado ao fim, mas o impacto dessa performance e a mensagem de luta e superação que ela carrega continuarão a ressoar com os fãs por muito tempo.

O Twenty One Pilots traz a Clancy World Tour para o Brasil em janeiro de 2025, quando se apresenta em Curitiba, 22, Rio de Janeiro, 24, e São Paulo, 26. Os ingressos estão à venda no site oficial da Eventim.

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