Twenty One Pilots está de volta com o sexto álbum, Scaled and Icy. O álbum foi lançado no dia 21 de maio e contém a coleção de músicas compostas por Tyler Joseph e Josh Dun durante o período de pandemia. 

Scaled and Icy é um anagrama para “Clancy is Dead”. Clancy, no caso, é o personagem e eu lírico do álbum Trench da banda, que foi lançado em 2018. Muitos fãs podem teorizar sobre o que pode ter acontecido, qual será o legado da narrativa intrigante que a banda criou ou se, simplesmente como dito no anagrama, a história acabou. 

O que importa da transição de Trench para Scaled and Icy é a sensação geral do álbum. Se antes a vibe era de depressão, ansiedade, medos e aflições, agora temos tudo isso em uma nova edição colorida, com batidas 80s inspired, com letras sobre sair de sua zona de conforto e buscar mudanças, oferecendo coragem e força.  

Já na primeira faixa dá pra ver que a diferença é óbvia e suas expectativas não serão correspondidas. O piano animado e o synth levinho no fundo de “Good Day” pode ser interpretado como uma abertura fraca em relação aos álbuns anteriores, mas a verdade é que ela dá o tom. E o tom é um álbum de verão para te fazer sentir bem agora que a pandemia acabou (atenção: essa frase é apenas para americanos). As reflexões sobre um ano e alguns meses de solidão de lockdown estão no álbum, mas nada para fazer alguém surtar.

“Chocker” e “Shy Away” são singles para atender a base de fãs que permaneceu desde Blurryface, mas mudando justamente a visão mais pessimista para algo mais positivo, sem tirar o emo da equação. Infelizmente, as duas canções não chegam nem perto do impacto de “Stressed Out” ou “Jumpsuit” e a falta de uma liderança de pulso firme é sentida ao decorrer das músicas.

Com o synth pop super groovy na mão, “The Outside” é muito interessante depois de ouvir três faixas mais voltadas ao público geral. A dupla não está preocupada com a recepção dessa faixa em si, ela não foi feita para impressionar ninguém. A preocupação aqui é a linha da bateria dando oportunidade para que o ouvinte comece a dançar e se divertir. 

De novo com o synth, o baixo e o groovy, “Saturday” te chama para uma festa. A letra, apesar de seus momentos mais cabisbaixos, ainda é um hino de perspectiva, movimento e inspiração. 

“Never Take It” tem a sensação de um pop rock mais comum e amigável para o rádio, com um high note digno de Harry Styles, mesmo com as letras levemente políticas. “Mulberry Street” também parte da ideia de ter algo mais amigável para todas as audiências, com a execução voltada mais para um indie pop animadinho. Ela lembra, entretanto, as canções de Vessels, lançado em 2013.

Já perto de fechar o álbum, a sequência iniciada por “Formidable” deixa aquele gosto de “Friday I’m In Love” do The Cure na boca. Seguindo para “Bounce Man”, é um pop divertido, mas nada espetacular, um filler para ouvir no carro sem prestar muita atenção. 

O tom muda ao chegar em “No Chances”. A canção poderia facilmente ter saído de Trench, com uma pegada mais pesada, com rap um pouco mais forte antes de entrar no refrão. O coro utilizado no fundo realmente dá a impressão que a música está no álbum errado. 

Por fim, o álbum fecha com “Redecorate”. Até parece um crime a faixa estar por último, já que ela é a que tem mais personalidade e ainda dá saudades do antigo Twenty One Pilots. Em teoria, a faixa não é tão diferente dentro do contexto de Scaled and Icy, mas a utilização dela muda totalmente a direção do álbum. O que “Redecorate” passa é já um indicativo de que não há um único caminho para o grupo. A essência sempre vai estar onde ela sempre esteve.