Após se apresentarem em Belém no festival Se Rasgum, os Californianos do DIIV voaram para São Paulo fazendo um traslado coincidentemente bastante comentado na última semana. Se as queimadas e toda a crise que estamos vivendo no Brasil ultimamente se apresentam como uma possibilidade de rever nossas ações e o modo como vivemos e olhamos para as coisas, um show do DIIV repaginado fez todo o sentido para os fãs paulistas.
A noite teve abertura da banda de Blumenau Adorável Clichê, que se apresentou pela primeira vez para um público grande. É mais uma vez a apresentação de ciclos, uma adição à matemática de contrastes e coincidências do último domingo.
Já a atração principal da noite foi introduzida em gritos ansiosos com uma apresentação mais complexa que as últimas feitas no Brasil, com a abertura feita por um vídeo de um idoso comentando sobre “este show não ser apenas um show, e sim uma experiência” (os fãs de Tame Impala já estão familiarizados com essa dinâmica), a banda lembrou o público de todo o espaço etéreo existente em performar para fãs. Shows não são uma experiência binária – não se faz uma apresentação de sucesso somente com músicas e aplausos.
Pelo contrário: DIIV surpreendeu desde o lançamento de Frog in Boiling Water (2024) com a profundidade merecida (e talvez esquecida) do shoegaze. Com a densidade sonora do gênero, trouxeram questionamentos políticos e sociais, que no show de ontem foram traduzidas nestas imagens projetadas com diálogos mais introspectivos.
Muito mais cuidadosos e profissionais no palco, a meticulosidade técnica e a performance ajudaram o DIIV a se tornar uma das maiores bandas de shoegaze atualmente – e hoje em dia pode ser difícil encontrar o equilíbrio entre ser profissional e ser somente estético, principalmente neste gênero – mas o DIIV parece ter encontrado uma fórmula sincera e capaz de perpetuar uma identidade cada vez mais atraente para os fãs.
Num show que fez bem em mesclar sucessos de toda a carreira da banda (como “Under the Sun”, “Doused” e “Taker”), mostrando a evolução da banda desde a última vinda dos caras no Brasil em 2017, o Cine Joia quase cedeu ao calor humano com a casa em lotação máxima. Show perfeito para um domingo chuvoso após uma semana apocalíptica, que agora passa a ser reverberada com a letra de “Horsehead”, um dos pontos altos do show: “I wanna breathe in and never breathe back out”.
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