De onde nascem os fenômenos? Se você é uma pessoa ligada em música e assídua nas redes sociais, é provável que tenha ouvido falar em um novo nome nas últimas semanas: Måneskin.

A palavra dinamarquesa que significa “clarão da lua” dá nome a um quarteto italiano de hard rock que vem dominando as paradas e viralizando nas redes sociais, principalmente no TikTok. Com um quê de rebeldia, agressividade e muita sensualidade, a banda do momento desbancou até mesmo a nova revelação do pop, Olivia Rodrigo, ficando em primeiro lugar no Top 50 Global do Spotify.

A receita para o sucesso do Måneskin não está só no rock subversivo que tem tomado conta do mainstream em tempos recentes. Os quatro integrantes fazem da sua imagem parte do appeal para o público, adotando uma postura transgressora no palco e usando roupas que desafiam os papéis de gênero. Formada por três rapazes e uma mulher, a regra geral é muito delineador e sombra preta ao redor dos olhos, além de sapatos de salto alto, anéis, correntes e quase sempre uma nudez parcial provocativa.

O som do Måneskin é sustentado pela bateria ritmada de Ethan Torchio, o baixo desafiador de Victoria De Angelis, a guitarra pesada e habilidosamente tocada por Thomas Raggi e os vocais roucos e agressivos de Damiano David, que também traz para as performances ao vivo uma presença de palco avassaladora, sendo um dos frontmen mais notáveis da atualidade. Com seus integrantes tendo apenas entre 20 e 22 anos, Måneskin é uma força da natureza.

Apesar do nome ter se tornado popular há pouco tempo, a banda foi formada em 2015 e construiu uma trajetória interessante desde então. Eles levaram o segundo lugar na versão italiana do reality show The X Factor em 2017, ano em que assinaram com a Sony Music e lançaram seu primeiro EP, Chosen, trazendo covers de Ed Sheeran, The Killers, Black Eyed Peas e uma versão eletrizante do clássico do The Four Seasons “Beggin’”, que foi a grande responsável pelo topo do Spotify e também pela estreia da banda no Hot 100 da Billboard.

O primeiro disco, Il ballo della vita, chegou em 2018 trazendo a história da musa Marlena e permitindo que o pop fosse mais intruso dentro da sonoridade do Måneskin, suavizando um pouco o potencial da banda. A ascensão meteórica veio em maio de 2021, quando o grupo foi campeão do Eurovision, o maior festival de música do mundo. A performance final foi um espetáculo da música autoral “ZITTI E BUONI”, que abre o excelente disco Teatro d’ira – Vol. 1, lançado em março deste ano.

“Zitti e buoni” pode ser traduzido para o português como “calados e comportados”, o que é o extremo oposto da atitude adotada pelo Måneskin. A própria faixa traz um de seus sons mais pesados, enérgicos, contagiantes e rebeldes, precisando ser censurada em alguns pontos na versão ao vivo por conta da linguagem imprópria. Surpreendentemente, o que rendeu ao Måneskin o título de campeão do Eurovision não foi a opinião dos jurados: foi o voto do público.

Desde então, o caminho tem sido só para cima. O sucesso crescente do disco Teatro d’ira – Vol 1 tem contribuído para colocar a banda no radar da mídia e de novos fãs ao redor do mundo, e não é para menos. O álbum traz faixas viciantes como a dançante “I WANNA BE YOUR SLAVE” e a ardente “FOR YOUR LOVE”, acena para o metal na poderosa “IN NOME DEL PADRE” e traz sensibilidade e emoção na triste e bela “CORALINE”.

O Teatro da Ira é como é chamado o primeiro romance da série fantasiosa Chamas do Império, de Diego Guerra – uma trama sobre coragem, rebelião e desafio às hierarquias opressoras da sociedade. De acordo com o Måneskin, essa “raiva catártica voltada para as opressões e os opressores” era exatamente o que eles estavam procurando em seu segundo disco de estúdio. Teatro d’ira – Vol 1 foi completamente escrito pela banda e gravado ao vivo para preservar a energia de suas performances.

Como o próprio grupo diz em uma de suas composições, não lhes basta o mundo e não lhes basta o palco. Toda essa paixão e energia da juventude misturadas à escalada vertiginosa rumo à fama transformam o Måneskin em uma força incontrolável e sem freio, sempre transitando a linha tênue entre a criação e a destruição. 

Recentemente, os integrantes Thomas e Damiano protagonizaram um beijo homoafetivo em rede nacional na Polônia, um dos países mais afetados por leis e comportamentos anti LGBTQIA+. “Nós achamos que todos deveriam ter permissão para fazer isso sem medo,” grita Damiano. “Achamos que todos deveriam ser completamente livres para serem a porra que quiserem. Obrigado Polônia, o amor nunca é errado!”. Enquanto a banda destrói padrões e quebra a conformidade, eles também constroem um legado para os jovens na música e, em especial, no rock, enquanto trazem de volta para os palcos a energia sexual e revolucionária que estava adormecida no mainstream.

A última faixa do disco, “VENT’ANNI” serve como um lembrete da pouca idade desses músicos e também um conforto, tanto para eles quanto para aqueles que os acompanham, pedindo calma e paciência dentro da ânsia por conquistar o mundo, além de um incentivo à originalidade e autenticidade: “você vai ser alguém se permanecer diferente dos outros, mas você só tem 20 anos”.

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