Texto por: Marcelo Gomes

O segundo show da turnê This Is Not A Drill, do Roger Waters, em São Paulo no último dia 12, encerrou a parte brasileira já deixando saudades. Tida como a última excursão do artista, milhares de fãs compareceram para se despedir de um ídolo que fez mais músicas do que polêmicas. Mesmo sendo conhecido por suas posições políticas enfáticas, no final, o que prevaleceu foram músicas atemporais que influenciaram milhões de pessoas ao redor do mundo.

O show começou com “Confortably Numb” em sua versão Redux 2023 que foi lançada recentemente e muitos fãs torceram o nariz. Mais lenta, cheia de climas e aliada a um Roger Waters trajado de médico, conseguiu prender a atenção do público para atuação dramática do cantor. A versão não é ruim, longe disso, mas falta seu belíssimo solo que foi eternizado para sempre na memória de todos. O clima muda radicalmente com o som dos helicópteros anunciando o que estava por vir. O efeito surround dava a sensação que estavam em cima de nós e então, iniciam “The Days Of Our Lives” seguida pela clássica “Another Brick In The Wall”, partes 1 e 2. A resposta do público foi imediata, o enorme eco vindo do estádio dava a dimensão do clássico que estava sendo apresentado.

Roger assumiu a guitarra e apresentou “Powers That Be” com seu refrão marcante e várias imagens de policiais atacando civis. O discurso do ex-presidente americano, Ronald Reagan, deu início a “The Bravery Of Being Out Of Range” com imagens de vários ex-presidentes dos Estados Unidos sendo taxados de genocidas. A mensagem foi passada sem que o show virasse um comício. Da sua carreira solo, Waters escolheu “The Bar” mas antes falou da importância das pessoas trocarem opiniões sem medo e que o bar é lugar propício para isso. Você vai com amigos e/ou conhece estranhos e se expressa sem ser cancelado. Voltando à música, é sobre dois personagens, uma moradora de rua negra e uma indígena que a leva para o bar e a ajuda. Tocando piano, cantou o desenrolar da história sob uma melodia linda e comovente.  

O lado mais progressivo também teve espaço com “Have A Cigar”, para delírio dos fãs. Satisfeita a galera mais “lado b”, chegou a hora do mega hit, “Wish You Were Here” que colocou todos para cantar com um céu iluminado pelos celulares. O  telão exibia um texto sobre o encontro com o ex-amigo Syd Barret quando ainda eram crianças. Uma bela homenagem ao ex-companheiro. O final do primeiro ato vai chegando ao fim com “Shine On You Crazy Diamond” e se encerra com “Sheep” com uma ovelha sobrevoando o público que tentava desesperadamente registrar o momento.

Um pausa de 20 minutos até que o segundo ato retomasse com “In The Flesh”. Mais uma vez, a atuação dramática de Waters ganhou destaque. Numa cadeira de rodas e vestido com uma camisa de força, Roger cantava enquanto um porco inflável compunha a cena voando sobre o público numa verdadeira plástica que dava ao show tons de espetáculo. No entanto, o show não foi apenas uma viagem ao passado. Roger mesclou perfeitamente seu trabalho solo, demonstrando que sua genialidade vai além do Pink Floyd. Faixas como “Déjà Vu” e “Is This The Life We Really Want?” mostraram sua evolução como artista, oferecendo uma nova perspectiva sobre sua jornada musical.

O que veio a seguir, foi uma sequência do álbum The Dark Side Of The Moon de tirar o fôlego. “Money”, “Us & Them”, “Any Colour You Like”, “Brain Damage” e “Eclipse” somados ao clássico prisma formado pelo jogo de luzes, colocaram os fãs numa espécie de transe evocando as mais diversas emoções. Foi como viajar no tempo sem sair do lugar, o tipo de coisa que somente o poder da música consegue fazer. Foi um momento mágico.

A parte mais acústica do final com “Two Suns In The Sunset” (Pink Floyd), “The Bar”, com todos os músicos bem a frente no palco, e “Outside The Wall”, a qual os músicos foram saindo do palco ainda tocando, deram o tom melancólico da despedida e de um sentimento do talvez adeus e o nunca mais. 

Se for o capítulo final dessa história grandiosa, foi incrível e valeu a pena. As criticas políticas estiveram presentes durante toda a apresentação. Imagens instigantes e mensagens contundentes projetadas nos telões foram um lembrete de que, mesmo no mundo do entretenimento, a música pode transmitir uma mensagem e estimular o pensamento crítico. Esse show foi uma experiência que transcendeu as barreiras da música numa performance dramática e visual, ganhando ares de espetáculo. Um dia para nunca esquecer que a arte venceu!

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