O cenário underground paulistano sempre revela novas pérolas para a música nacional. Viktor Murer não é novidade para quem conhece o meio. Ele é o vocalista da banda Trankera, surgida anos atrás com uma pegada inspirada em Charlie Brown Jr. Mas, o novo Viktor é diferente do Vitão do Trankera.

Com o EP Verdades Cítricas e o lyric vídeo de “Vida Longa”, que o Mad Sound lança hoje com exclusividade, Viktor mostra novas facetas. Segundo ele, o novo Murer é “mais chato, que escuta Ed Motta e Cassiano tomando um aperitivo de papete”.

Essas influências são sentidas desde o começo do curto EP. Sai o rock moleque, entra o rock “orientado para adultos e semi adultos”. Uma coletânea que consegue, como poucas, ser densa e delicada. “De um modo geral, o EP resume o meu jeito de escrever”, diz o artista paulistano. “Minhas músicas são geralmente muito sentimentais, pessoais, vêm de dentro mesmo. Para causar sensações, ou dar um ombro para quem passa por situações parecidas com as descritas nas letras.”

Para entender a nova viagem de Viktor Murer, o Mad Sound conversou com o cantor sobre os novos lançamentos. Leia nossa entrevista abaixo e assista, com exclusividade, o lyric vídeo de “Vida Longa”:

Mad Sound: Ouvindo Verdades Cítricas, sinto que as músicas têm algo de muito urbano. “Raiz”, por exemplo, você escreveu quando morava em um apartamento no centro de São Paulo. Como você acha que a sua relação com a cidade aparece no trabalho?

Viktor Murer: Acredito que minha relação com a cidade aparece no trabalho intrinsicamente, pois sou nascido e criado nessa correria urbana, toda melancolia e romanização que eu vivo é por que vejo o mesmo céu cinza há algum tempo.

MS: As três faixas do EP são baseadas em experiências pessoais? Como é transformar algo tão íntimo em algo que pode ser ouvido por qualquer pessoa no mundo?

VM: Todas as faixas do EP são baseadas em experiências pessoais sim! A transformação ocorre quando eu me encontro no meio do furacão emocional ocasionado pelas respectivas situações/inspirações, e tiro disso a missão de conseguir confortar alguém que passe pelo mesmo. Sempre que passo por algo que me deixa muito feliz ou muito triste busco alguma música que descreva o mesmo universo de tal situação, para me acalmar a alma.

MS: Quais são as verdades cítricas que o EP mostra para quem o ouve?

VM: As verdades cítricas podem ser doces ou azedas. O amor doce, puro e genuíno que nasce da paixão em “Raiz”, e a cutucada com “Enjaulados” e “Vida Longa”, onde as duas passam a mesma visão, de que basicamente pensamos que somos indestrutíveis e que a vida é curta, enquanto na verdade o pé no chão tem que estar presente todo dia pra coisa não chegar num ponto que não de mais pra voltar.

MS: Como foi o processo de criação, composição e gravação do EP?

VM: Primeiramente compus violão e voz das músicas. Depois de um primeiro encontro com o Gabriel Olivieri (da banda O Grande Babaca) no Cavalo Estúdios comecei a compor algumas teclas, e assim fomos continuando com as linhas de bateria e baixo. Vida Longa foi gravada ao vivo com Thiago Barros na bateria; Joao Viegas no baixo, e Lou Alves na guitarra.

MS: No início, Verdades Cítricas teria 5 músicas, mas acabou apenas com 3. As outras duas pararam de fazer sentido pra você? Sobre o que elas eram?

VM: As outras duas eram sobre relações pessoais minhas também. Elas não deixaram de fazer sentido pra mim emocionalmente, mas em certo ponto achei que o conjunto ideal do Verdades Cítricas seriam as 3 faixas e ficou por isso mesmo. Quem sabe um dia eu não solto.

MS: Musicalmente falando, de onde vem o som do EP? Quais as maiores influências do processo de composição?

VM: Ao longo do tempo que escrevi as músicas escutei muito os discos Cedo ou Tarde do Cassiano, 6 Feet Beneath The Moon do King Krule, e o A.O.R do Ed Motta. Vale ressaltar que não peguei esses discos como referência direta, não tenho esse costume pra escrever, apenas escutei muito os 3 e com certeza alguma coisa ou outra entra por osmose. No meu próximo single a influência do Ed vai ficar bem evidente.

MS: Qual a diferença entre o Viktor do Trankera e Viktor Murer solo?

VM: O Vitão da Trankera é um personagem caricato, que o tempo inteiro no palco trazia o lado irônico/sarcástico/humorístico a tona. O Viktor Murer no palco é o Megazord formado por um primo distante desse Vitão Trankera (mais “chato”, que escuta Ed Motta e Cassiano tomando um aperitivo de papete) junto aos músicos convidados para incorporarem a banda.

MS: Você trabalhou com o Gabriel Olivieri no EP, outro artista que vem do cenário underground. Como a visão de você dois construíram Verdades Cítricas?

VM: O nosso santo bateu em primeiro lugar pelo posicionamento perante a como a cena underground se desenrola em alguns aspectos, ou melhor é desenrolada rs. Sempre tive vontade de lançar meu projeto solo pra poder fazer o que der na telha, e quando der, e assim quando me aproximei do Gabriel tive a certeza de que ele seria a melhor pessoa pra trabalhar comigo nisso. Ele me abriu os olhos pra várias coisas, todos os teclados do EP surgiram da sugestão que ele deu no nosso primeiro encontro, e isso foi muito satisfatório, aumentou muito o meu carinho pelas músicas.

MS: Como é o cenário underground paulistano?

VM: Pergunta difícil. Muita gente foda, pouco incentivo.

MS: O novo lyric vídeo de “Vida Longa” é bem simples e eficiente. De onde veio a ideia desse vídeo?

VM: A ideia foi trabalhada por mim e pelo Cassiano Geraldo. Projeto solo é uma maravilha mas custa que é uma beleza, então o orçamento pra clipes não existe basicamente. Sendo assim os garotos do selo (Eu Te Amo Records) se responsabilizaram por todo material visual que tem saído. Decidimos fazer algo simples pro pessoal conseguir sacar a letra e um pouco mais quem sou eu.

MS: “Vida Longa” parece falar de relações e atitudes tóxicas. Pode contar um pouco sobre a ideia por trás dessa faixa?

VM: Essa música retrata a minha aflição perante aos abusos nocivos que eu e pessoas próximas a mim mantemos ou mantínhamos, uma aflição que basicamente vem da velocidade em que anda o mundo, da quantidade de decisões que tomamos por estarmos o tempo inteiro ligados e como isso acaba afetando nosso caminho; também da ideia que colocamos em nossa cabeça de que a vida é curta, que passa rápido, quando na verdade ela tem tudo pra ser uma longa jornada com inúmeras quedas e voltas por cima.