Na última sexta-feira, Nick Murphy divulgou seu primeiro álbum após a mudança de nome. O músico, que atendia pelo nome de Chet Faker (em referência a um de seus ídolos, o icônico Chet Baker) ressurgiu após alguns anos fora dos holofotes para divulgar Run Fast Sleep Naked.

Diferente dos outros trabalhos lançados pelo músico até agora, o novo disco explora múltiplas sonoridades e abre alguns horizontes ainda não explorados por Murphy até então. Em seus lançamentos anteriores, a produção seguia um sentido único, direcionado ao R&B melódico e algumas vezes a um flerte com o eletrônico.

Após a mudança de nome, foram lançados alguns singles e o EP Missing Link, de 2017, que marcava uma mudança sonora que veio de forma progressiva. Numa possível linha do tempo da trajetória do compositor, o que foi lançado entre Built On Glass (de 2014) e Run Fast Sleep Naked soa como experimentações em busca de uma sonoridade nova, distante do que o popularizou para o mundo.

Como descrito por Murphy no material de imprensa, o processo de criação do disco veio acompanhado de uma viagem feita por diversos países, em que ele levava um microfone na mala e gravava vozes e texturas com base nas inspirações que os diferentes lugares o proporcionaram; a mudança no som de Murphy acompanha uma busca espiritual do porquê de fazer música e do que é ser artista.

O som mudou porque Murphy sentiu necessidade de se reinventar em todos os âmbitos, e essa busca sonora/pessoal resultou no novo disco. “Eu só queria me abrir”, explicou o cantor em entrevista para a ABC. “Em Built On Glass eu fiz de tudo e estava orgulhoso. Eu acho que eu queria fazer tudo por mim mesmo. Eu tinha essa ideia de autenticidade e, quando eu fiz isso, eu estava tipo ‘ok, vamos esquecer você como pessoa, seu ego. Que tipo de música você pode fazer se trabalhar com outras pessoas?’”.

Para alguns fãs mais fiéis e que se apaixonaram por músicas como “Gold” e o marcante cover de “Archangel” , de Burial, o novo disco de Nick Murphy/Chet Faker pode soar mais pop e distante dos trabalhos iniciais do músico.

O interessante a ser observado em Run Fast Sleep Naked é que a necessidade dessa reconfiguração sonora veio após o músico conquistar grande parte do público, ser elogiado pela imprensa internacional e mesmo tendo poucos anos de carreira, inspirar diversos músicos que direcionaram seus projetos numa direção semelhante a Murphy. É como se o músico tivesse aberto o espaço para artistas como Fyfe, Tycho e SOHN. Os três, por exemplo, levam a mesma vibe de “banda de um homem só” num som que vai do indie ao eletrônico.

Enquanto o auge pode ser um gatilho de comodidade para muitos artistas, alcançar uma posição de destaque foi exatamente o que colocou Murphy em cheque com ele mesmo, fazendo-o criar questionamentos sobre qual era a posição e marca que queria deixar na arte e na música. O exemplo mais claro dessa relação de autoreflexão desenvolvida pelo músico é o “retorno” a usar seu nome próprio e abandonar a imagem que todos (inclusive ele mesmo) tinha do artista que era.

Ao Globo, Murphy falou sobre a escolha do nome Chet Faker. “Chet Baker é o James Dean do jazz, muito talentoso, porém mais interessado em manter a fama de bad boy do que em tocar trompete. O nome é para me lembrar de fazer uma música que atenda a uma imagem, o que é uma piada para mim mesmo. Sou fã de música orgânica e sem amarras. Iniciar um projeto com o objetivo oposto soa um pouco falso pra mim, por isso o ‘faker’ (fingido)”.

Agora, Nick abriu mão de um mundo para criar outro, e entendeu ainda em vida que podia melhorar como artista (ou por onde poderia começar) e quais caminhos o fariam ter uma compreensão melhor sobre quem ele era, e como se via, sobre qual é o propósito dele nessa passagem pela terra.

E isso é exatamente o que torna Run Fast Sleep Naked uma audição interessante; talvez Nick não alcance o que teve com Chet Faker e sua carreira caminhe para outras direções, mas abrir mão de algo conquistado para revelar uma nova versão de si mesmo no mundo que vivemos, é no mínimo, interessante.