Texto por Lucca Magro

O Encontro das Tribos realizou no grandioso Pavilhão de Eventos do Anhembi, em São Paulo, a sua vigésima edição durante o dia inteiro de sábado, 01, sob o título “Oceanix”. SOJA, Sticky Fingers e Cypress Hill foram os headliners do evento que contou com grandes nomes do rap, hip-hop, trap e reggae nacional.

Apesar de parecer apenas algo conceitual, os organizadores do evento levaram a sério a caracterização do festival e montaram uma estrutura gigantesca com um polvo ao centro, que observava o público com dois enormes olhos que brilhavam de acordo com as cores do palco. Inclusive, o local onde os artistas se apresentaram lembrou um naufrágio.

Entretanto, apesar de muito bem executado o projeto do palco, a ideia fez com que os artistas estivessem confinados a um espaço muito pequeno para uma grande apresentação, o que transformou muitos atos de bandas com muitos integrantes – SOJA, por exemplo -, em algo contido. Neste cenário, o público ficou dependente de músicos com carisma o suficiente para transcender o limite do espaço. 

A tarefa, entretanto, foi cumprida com excelência pelos headliners, mas cada um será comentado por ordem de apresentação. O primeiro deles foram os estadunidenses do SOJA (Soldiers of Jah Army) que fizeram uma performance com a suavidade já esperada da banda, porém, com excelentes investidas dos membros em acompanhar o ritmo agitado do festival. Com uma série de momentos individuais dos integrantes, a experiência de assistir o show foi de encher o coração do público. 

O vocalista Jacob Hemphill inclusive abriu o peito ao dizer o quanto ama o Brasil, e é sempre um prazer retornar. Dentre algumas pausas, o músico narrou que quando o SOJA começou, os músicos tocavam em pequenos espaços nos Estados Unidos, porém isso mudou após uma turnê no Brasil e no Hawaii, em que eles conheceram a força do público no exterior, e que foram importantes pelo reconhecimento internacional do grupo. O destaque do ato foi na apresentação dos maiores sucessos da banda: “True Love”, “I Don’t Wanna Wait” e “Here I Am”, que fizeram a plateia soltar a voz. 

Pouco tempo depois foi a vez dos australianos do Sticky Fingers, que entraram com Metallica no melhor estilo “arrasa quarteirões”. Com seu estilo excêntrico e descontraído, os artistas transformaram seu pequeno espaço de apresentação em uma arena, com berros vindos de todos os cantos do Pavilhão do Anhembi durante as pausas entre as faixas.

O maior trunfo do grupo, com certeza, é o carisma impressionante de seu vocalista, Dylan Frost, que se soltou de tal maneira diante do público que até cometeu alguns erros durante a apresentação, falhas essas que, de certa forma, comprometeram um pouco a experiência. 

Derrubar o microfone no início do ato pode ter sido um prelúdio para o que viria a seguir: o vocalista inverteu a letra de “Rum Rage” na entrada do refrão, o que claramente foi um erro, já que ao perceber, continuou de onde o ritmo seguiu, e apagou a parte já cantada do resto da performance. Junto disso, uma das faixas mais esperadas do grupo, “Cyclone”, começou com o icônico violão, já que é uma canção acústica, mas Dylan desistiu do instrumento no meio da apresentação e trocou para a guitarra. 

Apesar de soar desastroso, o ato completo foi salvo graças ao brilhante carisma da banda, que brincou com o público com caras e bocas durante toda a duração da apresentação, porém, os erros comprometeram a experiência da performance. Foi ótimo, mas a banda tem potencial para fazer algo espetacular. Os maiores destaques foram nos hits “Australia Street”, “Gold Snafu” e “Land of Pleasure”. 

Por fim, o último headliner a se apresentar foi o trio de hip-hop Cypress Hill. É importante destacar que a performance das canções dos artistas em si demorou muito para começar, porém, o show de introdução trouxe uma ótima nostalgia do início do gênero nos Estados Unidos – O DJ tocou para o público com um MC, e os anos 80/90 foram resgatados pela lembrança gerada pelo som que parece ter saído diretamente de picapes. 

Quando a formação se fez completa, foi comprovada a força do hip-hop antigo no presente momento do gênero: as lendas encheram seu lado do evento com um público enorme, em homenagens a tudo que eles representam dentro do gênero. Um dos maiores pontos da performance foi a junção da percussão com a bateria, conduzida por Eric Bobo. Foi realmente uma experiência única acompanhar tamanha maestria pelo ícone no estilo musical. “Sound of da Police”, “Hits from the Bong” e “Tequila Sunrise” foram grandes momentos da apresentação.

O Encontro das Tribos, apesar de ter sido visado pelas atrações internacionais de peso, também contou com grandes atos de músicos brasileiros. Cada um, inclusive, realizou manifestações a favor da valorização dos artistas da cena nacional, principalmente o cantor Criolo, que apontou que há nomes fantásticos no reggae brasileiro que não tem atenção, e chamou três deles para fazer parte de sua apresentação. 

Apesar do palco pequeno, o Encontro das Tribos mostrou que o reggae e o rap são, na verdade, uma única tribo: aquela que prega pelo amor, respeito, igualdade e paz, em todos os cantos do Brasil e do mundo. Caso contrário, o barco vai afundar sob o poder do ódio.

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