Texto por Carolina Kitamura
O Anime Friends é um dos maiores eventos de cultura japonesa pop da América Latina. Este ano, o evento prometeu ser extravagante, contando com uma lineup caprichada de atrações internacionais.
ALI, uma das atrações do evento carrega o conceito multinacional onde todos os membros, inclusive os músicos de apoio, são mestiços com raízes no Japão, Europa, América, Ásia, África, etc. Entre seus membros interinos temos Leo Imamura, o vocalista, César Aiichiro, guitarrista e Luthfi Rizki Kusumah, baixista.
A banda fez sucesso nas paradas do Japão com seu hit “LOST IN PARADISE”, encerramento do anime Jujutsu Kaisen. Esteve também responsável por outras músicas inseridas nos animes “Beastars” e “Golden Kamuy” e com participação no programa japonês “The First Take” com um mini documentário inédito.
Em uma coletiva de imprensa em que o Mad Sound esteve presente, o grupo ompartilhou curiosidades sobre a banda e suas primeiras impressões sobre o país. Confira:
Mad Sound: O que vocês conhecem sobre a cultura brasileira? Vocês são fãs de algum artista?
Luthfi Rizki Kusumah: A imagem que tenho do Brasil é o Carnaval. Não sei muito, então estar aqui e conhecer de perto é ótimo, estou aprendendo. Gosto muito da banda de reggae Natiruts.
César Aiichiro: Minha mãe é brasileira então estou familiarizado com o Brasil. Em português só sei coisas que uma mãe fala em casa com os filhos [risos]. Cresci em Kobe, uma cidade no Japão onde tem muitos brasileiros, até mesmo na escola. Tive muito contato então sei que são calorosos e gentis. Pude provar a comida brasileira de verdade. Quero aproveitar minha estadia aqui.
Leo Imamura: Eu jogava futebol quando pequeno, gostava de jogadores como Romário, Ronaldo, Dunga, Ronaldinho e Roberto Carlos, ganhei até uma camiseta do São Paulo. As pessoas são apaixonadas pelo futebol, a música também tem esse poder de mudar sua vida. Artistas que gosto muito e respeito sempre falaram bem do Brasil como Rolling Stones, The White Stripes então tinha muito interesse em vir pra cá. Fico feliz em conhecer o verdadeiro Brasil. Dois artistas que gosto muito são o Emicida e a Flora Matos.
MS: Qual foi a primeira impressão ao ter contato com os fãs brasileiros?
LRK: Nos sentimos muito bem vindos, recebemos todo o carinho e alegria. Parece que estamos em casa!
CA: Percebemos no Spotify que tínhamos muitos ouvintes brasileiros, até mais do que japoneses. Sabia que encontraria pessoas que nos conheciam, mas superou todas as expectativas. Tenho amigos brasileiros que são alegres e descontraídos, mas chegando aqui vi outros tipos de brasileiros, mais calmos e mais reservados, bem diferentes dos que conhecia já.
LI: As pessoas mostram muito respeito e nos tratam como estrelas… isso até nos constrange um pouco, nós somos das ruas, simples. Elas acabam tendo uma imagem muito séria de nós, o que me faz pensar se isso é verdade ou não, mas ficamos muito felizes.
MS: Como surgiu a ideia de formar uma banda japonesa com pessoas de diferentes nacionalidades?
LI: O Japão tem muitos mestiços mas eles tendem a ficar isolados, cada um tem suas características próprias. Achei que seria interessante juntar essas personalidades, ainda que seja difícil lidar com as diferenças às vezes.
MS: De onde vem o nome da banda?
LI: Nós estávamos num bar bebendo e vimos a notícia que Muhammad Ali, o lutador de boxe, havia falecido. Ele teve uma vida muito interessante, sempre seguindo em frente mesmo perdendo, olhando pra frente. Foi uma maneira de homenagear o atleta e seguir com sua mensagem.
MS: Muhammad Ali foi um norte-americano que abraçou o Islã e tinha um discurso antiguerra. Vocês pensaram nisso quando escolheram o nome da banda?
LI: Carregamos muitas coisas transmitidas por ele. Nós passamos por escândalos dentro da banda e achamos que isso acabaria com ela, mas seguimos perseverantes e continuamos, acredito que herdamos isso dele. No Japão há muitas restrições então não falamos o que pensamos, a música é uma forma de transmitir mensagens, que apesar das nossas diferentes cores, nos unimos para criarmos algo juntos.
MS: Como vocês se sentem com o sucesso de “Jujutsu Kaisen” e fazendo parte de seu encerramento?
LI: Foi muito importante para nós, foi um dos motivos pelos quais foi possível estarmos aqui hoje. Parte do anime fala de Shibuya, e eu nasci e cresci lá então isso misturou o anime com a minha realidade. Essa obra é muito importante pra mim.
Como prometido pelo próprio evento, a banda queria tornar sua vinda especial com um show inesquecível e assim o fizeram. O palco principal foi inundado pelo som dos metais da banda, a energia avassaladora dos integrantes e transformou a pista numa grande festa onde ninguém conseguia ficar parado entregando um set list épico com seus best hits e covers de James Brown, Cole Porter e Canned Heat.
Escutar a discografia da banda em casa não passa nem perto da experiência de assistir às performances ao vivo. Sua presença de palco, carisma e gingado conquistaram o público e nós, fãs, esperamos que eles possam retornar em breve escrevendo um novo pedaço memorável da história da música japonesa no Brasil.
No último sábado, a banda lançou um novo single com a participação de MaRi, rapper nipo-brasileira, Beyond. Você pode conferir o clipe aqui.