O segundo álbum da neozelandesa de 23 anos, Lorde, completa três anos de lançamento amanhã, 16. Pode até parecer que o disco foi lançado “ontem”, devido ao impacto causado na vida de tantos fãs que viram o álbum tomar vida própria em sua própria realidade, carregando o aspecto intímo, solitário e noturno que o disco tem como proposta.

Muito se tem discutido sobre Lorde e o Melodrama, três anos após seu lançamento, e quase dois anos do afastamento da cantora em suas redes sociais, em que escolheu o e-mail como a única forma de comunicação direta com seus fãs, através de textos e fotos tiradas pela artista recentemente.

A discussão vem em formato de comparação, como não poderia ser diferente em uma indústria que, para avaliar uma artista, tem que coloca-la ao lado de outra. É o caso de Billie Eilish em relação a Lorde, cantoras que atingiram fama mundial ainda adolescentes ganhando o rótulo de “prodígio” no meio musical. Carregando uma expectativa do tamanho do mundo (literalmente, arrisco dizer), Lorde retornou depois de seu primeiro disco, Pure Heroine, abordando a vida cotidiana enquanto adolescente em Auckland, exatamente como fez em seu debut. No entanto, os anos se passaram e o cenário que a cantora se encontrava era outro, nas palavras de Lorde, “é um disco sobre estar sozinha… as partes boas e ruins”.

Apesar da pressão para provar a todos que, de fato, a cantora merecia a fama que ganhou principalmente devido ao imenso hit “Royals”, de 2013, vencedor de “Canção do Ano”, no Grammys, Lorde se juntou ao mega produtor Jack Antonoff (Taylor Swift, Lana Del Rey, St. Vincent), com a missão de produzir um disco intímo, realista sobre a fama e, definitivamente, sem canções tão populares quanto seu grande hit, o que chateou alguns, mas agradou muitos.

O primeiro single, “Green Light”, abre o disco mostrando onde Lorde está: explorando a noite, mas não conseguindo se desprender das memórias com o ex-companheiro, com quem namorou por três anos.

A faixa dá dicas dos cenários e sentimentos que irão aparecer no decorrer do disco: festas, carros, e estados de euforia sendo interrompidos por memórias que causam tristeza ou raiva.

A curiosidade e relatos sobre a vida noturna e as melhores partes sobre conhecer pessoas novas romanticamente é interrompida pela delicada e trágica “Liability”.

Na canção, Lorde relata o descaso daqueles em seu redor em relação à ela, por ser “demais” para todos, menos para ela mesma, o único amor que a cantora não arruinou até agora.

As batidas dançantes de algumas canções e a avalanche de memórias sobre o romance que acabou se juntam em “Supercut”, uma faixa digna de dançar sob luzes fosforescentes com lágrimas nos olhos.

Na canção, Lorde relembra as boas memórias com o ex-companheiro, tão boas que por alguns instantes, parecem fazer a cantora querer reatar o relacionamento, no entanto, percebe que só está apreciando os bons momentos de um relacionamento, e que isso não corresponde a realidade.

As reflexões ao som de um instrumental animado dá um tom de apreciar os momentos bons que Lorde passou com o ex-namorado, mas no final, o estado de gratidão parece ir diminuindo para o sentimento de arrependimento, em que a cantora repete diversas vezes que nas visões em sua cabeça, ela faz tudo certo dessa vez.

Uma das características mais especiais do disco são as novas interpretações das canções “Sober II” e “Liability”, que surgem como “Sober II (Melodrama)” e “Liability (Reprise)”. No entanto, ao dizer interpretações, não me refiro à uma versão acústica ou um remix, e sim, respostas e novos pensamentos sobre assuntos e letras retratados nas músicas originais, mostrando o crescimento de Lorde durante a produção do disco em relação a sentimentos que estava expressando nessas canções.

Em “Liability (Reprise)”, a cantora retira o que disse originalmente e afirma que ela não é um fardo e, ao final, finalmente deixa a “festa” retratada em quase todas as canções do disco, simbolizando que finalmente seus sentimentos sobre o passado estão indo embora. O símbolo da libertação vem retratado na última canção do disco, “Perfect Places”.

Melodrama completa três anos mostrando que a superação diante um término não é linear, ele é composto por altos e baixos proporcionados por explorações da nossa liberdade enquanto jovens, sendo elas com o coletivo, ou cuidando de nós mesmos, e tendo paciência e gentileza com nossas saudades do passado e ansiedades para o futuro.

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