Texto por: Stephanie Souza

Turnover é uma banda que já se tornou um clássico dentro de sua cena. O som é relaxante e melódico, as guitarras são limpas e bem trabalhadas, os vocais são tranquilos e as letras captam todo o escopo de problemas da vida adulta de forma sensível e bastante melancólica. O maior diferencial da banda não é a técnica, é a atmosfera. 

No último sábado, 11, eles se apresentaram no Fabrique Club, em São Paulo, 7 anos após sua primeira passagem pelo Brasil. A missão de abrir a noite ficou com os curitibanos do Terraplana. A banda de shoegaze, formada em 2017, tem vasto currículo e já abriu shows para grandes grupos como o Deafheaven e o Slowdive. Seu último álbum, olhar pra trás, compôs grande parte da setlist, que também contou com algumas músicas novas. A casa ainda estava um pouco vazia mas isso não foi problema para alguns presentes já familiares ao som da banda, que apresentou um shoegaze de altíssima qualidade, levando a Fabrique a uma viagem etérea, com guitarras pesadas, vocais em reverb e muito trabalho da máquina de fumaça. O show foi tão bom que Austin Getz, vocalista da banda principal, fez questão de prestigiar. 

Mais tarde, com a casa já mais cheia, Turnover abriu a noite com certa… timidez. Quem já foi a um show da banda sabe que eles são mais fechados, não interagem tanto com o público, mas é como eu disse: é sobre a atmosfera. A primeira música da noite foi “Tears of Change” e, em minha opinião, uma escolha que errou no ponto pois parte do público permaneceu um tanto endurecida: talvez pela falta de popularidade do álbum Myself in The Way (2022), talvez por ser uma música um pouco mais lenta. O show seguiu com a canção título do seu trabalho mais recente (citado acima) e, por ser uma balada mais dançante e obviamente mais animada, acredito que deveria ter sido a escolhida para a abertura. De qualquer forma, os sintetizadores faziam alguns dançarem e outros balançarem suas cabeças no que seria apenas o começo de uma noite bastante emotiva. 

Na quarta canção, “Humming”, do aclamado álbum Peripheral Vision (2015), a coisa mudou de cena: muitos gritos, aplausos e grande participação do público. “Like Slow Disappearing” chegou amarrando essa primeira parte dos clássicos. Aliás, é inegável o carinho dos fãs com o álbum que foi a grande virada de carreira do Turnover. “Supernatural” abriu o caminho para as músicas do álbum Good Nature na setlist, que, inclusive, foi bem executada: apresentaram um pouco do trabalho novo (vale dizer que enfrentou críticas negativas por parte da fanbase) e percorreram por seus antecessores, com óbvio destaque ao gigante álbum de 2015.

A dobradinha “New Scream” e “What Got in The Way” deixaram a energia do público lá em cima, com muitas palmas e vozes cantando em uníssono. “Parties” e “Much After Feeling” foram as duas escolhidas do pouco explorado (e injustiçado) álbum Altogether, canções leves que falam sobre relacionamentos de forma carinhosa mas também introspectiva. Austin Getz, vocalista, fez uma pausa para pedir aplausos ao Terraplana, também agradeceu aos fãs e disse o quanto gostam do Brasil. 

É seguro dizer que ninguém estava pronto para o final do show. Ninguém estava pronto mesmo. “Diazepam”, “Dizzy on The Comedown”, “Take My Head”, “Hello Euphoria” e “Cutting My Fingers Off” foram uma sequência tão certa quanto o ar que respiramos. Ironicamente, em contraponto às letras das músicas, não houve espaço para a tristeza. Lágrimas de euforia se misturavam com sorrisos enquanto cada palavra era cantada de peito aberto por todos os presentes. Tudo ecoava pelo Fabrique de forma atmosférica: a execução da banda, as palmas, o coro do público, até a iluminação contribuía para que tudo aquilo parecesse apenas um sonho. Ainda bem que não foi. E chegava ao fim uma experiência sonora bastante emocional. 

É fácil de ouvir e se entregar à variedade musical que a banda nos proporciona. Turnover é ainda mais cativante ao vivo e nos faz dançar com nossos próprios problemas ao humanizar nossas tristezas e oferecer um abraço bem quentinho aos vazios de nosso coração.

Confira as fotos na nossa fotógrafa, Marcela Lorenzetti:

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