A cantora britânica Georgia, é, com certeza, uma das maiores estrelas ascendentes na música no momento. Com canções feitas para e sobre a pista de dança, a artista entrega uma sonoridade pop autêntica, e, ao mesmo tempo, homenageando referências como a era disco. 

Durante a época de quarentena, o Mad Sound teve o prazer de conversar com Georgia (por telefone! fiquem em casa crianças!), sobre o novo álbum Seeking Thrills, quarentena, cena clubber européia, pintura e até Kanye West. Confira:

Mad Sound: Eu gosto muito da capa do Seeking Thrills, sinto que ela reflete muito o espírito do seu álbum, de alguma maneira. Você pode me falar mais sobre a história da foto que compõe a capa, se você souber?

Georgia: Ah nossa…Eu sei sim, tive um diretor criativo para me ajudar com a arte, ele se chama Jonny Lu, do Jonny Lu Studio, ele tem uma empresa de design gráfico e tudo mais. Então, Jonny e minha empresária Jeanette, um dia estávamos de boa… Então, no meu primeiro cd eu trabalhei com um fotógrafo muito famoso chamado Jamie Hawkesworth, Jamie se tornou um fotógrafo muito famoso agora, mas nós ainda queríamos manter a fotografia com toda uma história… E um dia eu estava no estúdio de Jonny, e estávamos tentando ter ideias sobre fotografias e o que fazer, e Jonny mostrou pra mim e Jeanette uma imagem de uma fotógrafa chamada Nancy Honey, e era uma fotografia dessa garota segurando um microfone… E eu fiquei muito fascinada com a imagem, era uma imagem incrível, e Jonny disse, “Isso é de uma fotógrafa chamada Nancy Honey, não sei se vamos conseguir contatá-la, mas podemos com certeza fazer uma fotografia que se assemelhe a essa”. Então, todos nós saímos da reunião, e alguns dias depois, ele me disse que tinha mandado um email para Nancy Honey, ele tinha conseguido o contato dela, e ela disse que estava interessada em saber mais sobre mim, sobre a música. 

E a próxima coisa que eu sei, é que eu estou no apartamento de Nancy Honey, olhando o arquivo dela, e tendo esse almoço incrível, conversando sobre arte, fotografia e a vida dela, a minha vida. E ela basicamente disse: “Eu adoraria trabalhar com você, vamos fazer isso!” E foi incrível, então ela nos deixou ir no arquivo dela, e Jonny e eu estávamos muito interessados em uma série de fotos que ela tirou nos anos 80, chamada “Entering the Masquerade”, em que ela basicamente foi para o norte da Inglaterra, que é bem diferente do sul da Inglaterra, quero dizer que no norte, eles passaram por tempos mais difíceis nos anos 80, em relação à fábricas e mineração, então ela foi nessas comunidades de mineração, e perguntou às crianças, às meninas, o que elas queriam ser quando crescer, e as fotografias que surgiram foram muito bonitas, e elas foram compatíveis com a música, então nós perguntamos se podíamos usar aquelas fotos, e ela disse que sim! 

Então a capa da frente… Eu não tenho certeza se faz parte daquela série, mas era outra fotografia dela, e casou muito com Seeking Thrills, tem toda uma ideia de juventude por trás de Seeking Thrills, falar sobre dance music, e que existe uma criança interior em nós que está se libertando, então eu acho que funcionou muito bem!

MS: Falando sobre dance music, festas, e a pista de dança, esses são componentes muito importantes em Seeking Thrills. Quais outras canções de outros artistas você acha que melhor descrevem o sentimento de estar na pista de dança?

G: Ai, nossa! Eu acho que definitivamente Chicago House Music, dos anos 80, sabe? Marshall Jefferson “Move Your Body”, Frankie Knuckles “Your Love”, imediatamente me transportam para a pista de dança. Eu acho que algumas da disco music, também me transportam para a pista. Eu também amo muito The Knife, “Silent Shout”, essa faixa sempre me transporta pra pista também. Eu sou muito atraída por músicas que podem ser tocadas na pista de dança! 

MS: A cena clubber européia sempre foi muito famosa, por que você acha que ela se destaca em meio a outras pistas de dança pelo mundo? 

G: Eu acho que a Europa sempre acolheu a dance music. As origens da dance music vieram da América, então você tem Chicago House Music, o que estava acontecendo em Nova York, o que estava acontecendo em Detroit. Eu acho que isso tudo fez seu caminho até a Europa, particularmente o Reino Unido, que estava passando por tempos difíceis em relação às fábricas nos anos 80, então tinha toda uma juventude que não sabia onde eles pertenciam, e de repente eles ouviram essa música, que era sobre dançar, se empoderar, se liberar, e que foi muito acolhida por aquela comunidade, e aí ela (a dance music) só continuou seu caminho pela Europa. Eu acho que a dance music atrai pessoas que estão procurando por uma escapatória, e acho que é por isso que ela é acolhida pelo mundo inteiro, mas acho que a cena clubber na Europa sempre teve uma ênfase, e uma importância sobre… É uma grande parte da nossa sociedade, e das nossas comunidades, sair e se divertir sabe? Então eu acho que é por isso que vimos um grande aumento de boates nos anos 90… Mas sabe, agora eu acho que você encontra isso por todo o mundo, eu tenho certeza que no Brasil tem algumas das melhores boates do mundo! Acho que nesse momento todo o resto do mundo está compatível com a Europa, sério! 

MS: Eu li que sua vó costumava se fantasiar para sair à noite, é isso mesmo?

G: Sim! (risos) 

MS: Com isso, você acha que se torna outra pessoa quando está em uma festa, ou no palco? Se sim, como é isso? 

G: Sim! Quero dizer, eu não sou uma artista conceitual, eu não sou como [David] Bowie então, o fato que eu me chamo artisticamente de Georgia, sabe… Sou eu! Mas quando eu estou tocando, viro outra pessoa, mas de alguma forma, continuo muito conectada comigo mesma. Mas não estava me referindo a isso quando falo sobre minha vó, estava falando mais sobre como através de gerações, as pessoas sempre quiseram sair, serem levadas para um lugar diferente. Eu acho que eu definitivamente tenho isso quando eu performo, sabe? Eu quero ser levada a um lugar diferente, eu quero levar o público para um lugar diferente e deixá-los escapar um pouco e se divertir, sabe? 

MS: Eu meio que tenho um desafio pra você…Não fique brava comigo! Mas, eu ouvi que o Kanye West é um dos seus artistas favoritos, é isso mesmo? 

G: Sim, totalmente!

MS: Então o desafio é: eu gostaria que você escolhesse uma canção favorita, ou clipe favorito, ou álbum favorito do Kanye!

G: Hmmm…. Eu acho que música favorita é “Flashing Lights”, do Graduation, mas eu falaria… Eu gosto muito do Sunday Service, eu acho que Jesus Is King é um álbum incrível, eu adoro “Use This Gospel”… Mas ok, eu acho que a minha música favorita de todos os tempos do Kanye West é “Flashing Lights”, do Graduation

MS: Então essa é a escolhida?

G: Sim! Essa é a escolhida! (Risos)

MS: Quando eu preciso me animar, eu ouço “Never Let You Go” bem alto nos meus fones de ouvido, isso é 100% verdade…

G: Aww, muito obrigada! Eu quero muito ir ao Brasil, sempre foi um sonho meu ir ai tocar!

MS: Você tem que vir pra cá!

G: Nós vamos conseguir fazer isso acontecer! Continue espalhando o amor, sabe? 

MS: E pensando nisso, durante esses tempos difíceis que estamos vivendo devido ao coronavírus, tem alguma canção, ou artista que você está ouvindo para se manter otimista? Ou algo que você gostaria de recomendar para as pessoas ouvirem e se sentirem melhores? 

G: Hmm, está bem… Deixa eu pensar quem eu recomendaria para ouvir agora… Eu acho que você deveria se agarrar ao Curtis Mayfrield, sabe? Ele fala positivamente em tempos que precisamos, em tempos difíceis sabe? Então eu me agarraria ao Curtis. 

MS : Você é cantora, compositora, produtora, e baterista… Você é tudo! (risos) Qual outra atividade relacionada a música ou arte você ainda quer se aprofundar na sua vida? 

G: Eu estou brincando com pintura no momento, pintando com tinta guache, particularmente, e eu gostaria de dedicar um tempo… Bem, talvez agora que estou sendo obrigada a ficar mais tranquila, eu posso fazer algumas pinturas. É, eu adoraria muito pintar um pouco mais!