Quem conhece Uana Mahin pelo videoclipe de “PANTERA”, repleto de simbologias referentes à espiritualidade e ancestralidade, gravado em meio a muito verde da natureza, pode não reconhecer UANA e a sensualidade urbana do novo single “Mapa Astral”.

De voz marcante e sotaque pernambucano aconchegante, UANA se entrega em suas músicas e ao mesmo tempo nos acolhe. E não poderia ser diferente: Uana Mahin é um nome de origem indígena que significa “vagalume” ou “luz que brilha no escuro”, e UANA por si só é uma supernova reverberando no espaço. Em 2021, a cantora completa uma década de carreira, tendo começado no grupo musical Sagaranna e mais tarde seguido para a carreira solo em uma vontade de expressar sua individualidade e encontrar seu próprio espaço.

Com o lançamento de “Mapa Astral”, UANA está encerrando um ciclo e simultaneamente dando os primeiros passos para uma nova jornada. Seu disco de estreia, Pantera (2019), foi lançado sob o nome Uana Mahin e mostrou ao mundo uma mulher “preta, negra, fera”, como é dito na faixa-título. Com força e ao mesmo tempo delicadeza, UANA escolheu honrar a cultura negra, explorando temas como coletividade, ancestralidade e espiritualidade.

Agora, a cantora inicia um momento completamente novo na carreira. Depois de navegar por ritmos mais regionais, como o reggae, o afrobeat e cânticos de religiões de matrizes africanas, UANA decidiu olhar para o seu lado “geração MTV” e se permitir trabalhar com o pop e o R&B, que sempre foram gêneros que ela gostou de ouvir. Em entrevista ao Mad Sound, ela fala sobre querer explorar o feminino e a sensualidade, não como algo “pensado para agradar ou dar conta de uma expectativa masculina ou do patriarcado”, mas sim como algo que vem de dentro e faz parte de seu poder pessoal. Afinal, ela é uma mulher ligada ao lado espiritual, mas também é uma mulher da “jogação”, como ela mesma diz.

“Eu estava muito dedicada a pensar a relação do sagrado com o profano no Pantera, pensar nas orixás mulheres e as características delas na gente, essa troca entre o que é mais terreno e o que é mais divino,” conta UANA. “Eu estava muito instigada a trabalhar a ancestralidade. E agora eu estou em outra vibe, de falar sobre afetividade negra, sobre a solidão da mulher negra. [São] questões mais subjetivas e que, claro, continuam passando por gênero, por raça, por diversas questões. Acho que nada é isento disso.”

Como parte dessa transição, a pernambucana decidiu se relançar no mundo, não como Uana Mahin, mas apenas como UANA. Seu disco de estreia foi retirado provisoriamente das plataformas digitais, o que acentua essa noção de “começar do zero”. A UANA que agora se apresenta chega com o hit contagiante “Mapa Astral”, que traz os produtores Barro, Marley no Beat e Tom BC. O videoclipe sensual recebeu uma chuva de comentários positivos no YouTube e a música já soma mais de 8 mil streams no Spotify.

Além da mistura envolvente do R&B com trap, a letra da canção é cativante por tratar de um tema que traz identificação, especialmente com a popularização do esotérico e a massificação de temas como tarô e astrologia. “A culpa não é minha, acho que é seu mapa astral,” canta UANA com bom humor. Ela mesma admite gostar de acompanhar algumas personalidades esotéricas através da internet. “Minha semana só começa depois que Eric Satine posta o horóscopo da semana,” brinca. “Madama Brona também, também acompanho Paula Prado.”

O próprio mapa astral de UANA já indica o imenso poder dessa mulher. Com Sol em Áries e Ascendente em Leão, ela sabe que tem o fogo como elemento em evidência, o que a impulsiona a ser pioneira e trilhar caminhos inéditos, como se jogar no mercado de R&B no Brasil, que ainda é pouco explorado. 

“Antes de tudo, [sou] uma mulher forte e correria,” relata. “[Sou] uma pessoa muito inquieta, não consigo fugir da inquietude de Áries [risos], muito instigada em pensar, desenvolver e realizar. Para além de ser cantora, eu sou também uma realizadora. Tudo que faço enquanto artista, eu estou pensando em tudo. Eu escrevo roteiro, se puder contar com uma roteirista, massa! Se não, eu vou escrever, eu vou dirigir.”

Toda essa força e impulsividade é equilibrada por suas Lua e Vênus, ambas em Touro, acentuando a conexão com a sensualidade e o feminino que ela busca explorar nesse momento. Essa combinação explosiva e instigante combina perfeitamente com a dualidade que encontramos em sua música, onde ela se mostra poderosa e ao mesmo tempo vulnerável. 

UANA enxerga grande potencial nessa vulnerabilidade e em se manter honesta em suas composições, demonstrando grande confiança no poder da subjetividade, mesmo que essa exposição de seus sentimentos mais íntimos também lhe cause certo frio na barriga. Ela torce um pouco o nariz para o uso da palavra “ousadia”, mas também admite que não há palavra que possa descrever melhor esse momento tão novo de sua jornada: a ousadia de explorar e conhecer a si mesma para então explorar e conhecer territórios ainda não desbravados.