Essa sexta-feira, 31, é um dia bem especial para Sophie Hunger. Nascida na Suíça, a cantora de 35 anos lançou seu quinto disco de estúdio, e o primeiro inteiramente cantado em inglês, enquanto os outros eram compostos por músicas em inglês, alemão e francês.
Molecules traz onze faixas inéditas compostas, gravadas e produzidas por Hunger. Em uma entrevista exclusiva ao Mad Sound, ela conta a importância de liderar o próprio trabalho. Na conversa, que aconteceu às vésperas do lançamento do disco, ela também revelou suas maiores inspirações e destacou que muito daquilo que faz, é em busca de uma melhoria no relacionamento que as mulheres têm consigo mesmas e com o mundo.
Recentemente, Hunger se mudou para Berlim, cidade conhecida pela sua cultura, o que levou a uma grande mudança em seu som, que antes seguia um caminho destinado ao jazz e folk. Hoje, a cantora aposta em elementos eletrônicos e pop e Molecules é resultado disso.
Leia abaixo nossa conversa com a cantora:
Mad Sound: Seu álbum está próximo de ser lançado, como você está se sentindo?
Sophie Hunger:Estou muito nervosa, não sei o que fazer. Estou apenas andando por aí. Eu quero fumar, mas não tenho um isqueiro e isso está me enlouquecendo (risos). Estou apenas esperando o tempo passar, eu acho, então é bom poder conversar com as pessoas hoje.
MD: Quando você começou a compor? O que te inspirou a escolher música como futuro?
SH: Quando eu era criança, eu queria cantar mais alto que todo mundo que estudava comigo, e eu sei que não é muito gentil e educado da minha parte, mas eu queria fazer barulho. E então eu me vi escrevendo músicas e eu me senti à vontade fazendo isso, eu me senti em casa ao entrar no mundo da música. Me senti forte, segura e feliz.
MD: O que mais te inspira a compor?
SH: Acho que tudo na vida me inspira. Lugares que visito, pessoas que conheço. Me sinto inspirada pelas mais diversas coisas. Meu pai é um grande fã de jazz então cresci ouvindo muito jazz. Já minha mãe, era muito fã de folk, então ela me alimentava de folk. Então eu comecei a descobrir novos gêneros que acabei gostando e me sentindo bem enquanto ouvia.
MD: Molecules é o primeiro disco que lança inteiramente em inglês. Como foi a experiência?
SH: Eu sempre escrevi em alemão, francês e, claro, em inglês, e então eu assinei um contrato com uma gravadora em Londres e fez sentido compor um álbum inteiro em inglês, mas em meus shows, eu ainda canto minhas músicas em alemão e francês. A diferença em cantar em inglês é que você cria uma conexão com o público, se ninguém entende o que você está cantando, não vão criar um vínculo, um relacionamento, com você.
MD: O single “She Makes President” soa bastante político. O que você pode nos contar sobre ele?
SH: Muita gente interpretou essa música como política, mas na verdade ela é uma carta de amor para mulheres. Eu queria escrever algo forte e poderoso para elas. Claro que fui inspirada pela situação atual do mundo e principalmente pela cobertura que a mídia está fazendo com problemas que nós, mulheres, temos, mas minha ideia era produzir algo forte para todas nós. Não se falam muito de mulher nesse sentido, e nós precisamos falar sobre nós mesmas, nós precisamos usar nossa voz e nos amar no processo. Por isso eu escrevi essa música.
MD: Ultimamente a mídia está cobrindo bastante o movimento #MeToo que expõe casos de abuso contra mulheres. Como você acha que a música se encaixa nisso? Qual o papel dela nesse cenário?
SH: Eu acho que quanto mais falarmos sobre isso, melhor. Essa discussão precisa estar em destaque. Patriarcado é ruim para todos, inclusive para os homens. Não é só sobre nós, mulheres, e sim sobre todos nós, seres humanos.
MD: Como você ve a indústria musical? Principalmente para as mulheres.
SH: Eu não posso falar pela indústria inteira, mas eu acho muito bom que hoje eu posso gravar e produzir meu álbum sozinha. A cultura de produção musical ainda é predominantemente homem e não podemos perder nosso poder. Eu acho que as novas artistas mulheres devem aprender a fazer tudo. É importante saber gravar sua música, saber onde e como posicionar o microfone, e essas coisas. Precisamos aprender isso para podermos fazer nós mesmas, ter poder sobre nossa arte. Não podemos oferecer nosso poder à outra pessoa.
MD: Seu som mudou bastante desde que se mudou para Berlim, uma cidade famosa pela sua pluralidade e cultura. Como essa mudança te influenciou?
SH: Eu me mudei para berlim há três anos e eu vim porque queria viajar, conhecer novas culturas e novas músicas. E aqui eu aprendi a ouvir música de outra forma. Aqui tem uma cena eletrônica muito grande e eu adorei. Acabei mudando o jeito que eu escuto música e o tipo de música. Mudei alguns hábitos meus… A mudança foi inevitável. Eu me adaptei muito bem à cultura daqui.
MD: Como é a cena musical em Berlim?
SH: Aqui a cena principal é a eletrônica. Em Paris, onde eu morei por um tempo, é bem diferente. Então acho que o que mais me atraiu em Berlim foi a experimentação, o eletrônico, o diferente.
MD: Quais são os lugares que você mais frequenta em Berlim?
SH: O lugar mais legal e especial daqui é o Berghain [balada que acontece em uma antiga usina nuclear, famosa pela música de qualidade e pela exclusividade, um segurança na porta escolhe arbitrariamente quem pode ou não entrar]. Outro lugar que eu gosto de ir é o OHM, eles têm uma programação bem experimental e divertida. Lá é bem legal, mas pequeno. Esses dois são os mais legais.
MD: Você pode nos indicar uma banda ou artista que você tem ouvido bastante recentemente?
SH: Eu gosto bastante de uma banda de Londres chamada Goat Girl.