Na última sexta-feira, um dos nomes mais queridos do indie pop, Will Joseph Cook, lançou seu terceiro álbum de estúdio, Every Single Thing. O disco é uma coletânea de canções alegres e bastante ensolaradas que falam em sua maioria sobre a sensação de se apaixonar e sobre o amor em si.
Em entrevista para o Mad Sound ele conta com bastante simpatia mais detalhes sobre o single “BOP” e como suas aventuras na adolescência inspiraram a faixa, além de dar sua opinião sobre a relação entre artistas, suas gravadoras e o uso das redes sociais, e admite também que sempre teve relutância em deixar o amor ser tema de suas músicas, mas que a chegada da pandemia mudou algumas coisas de lugar.
Confira na íntegra:
Mad Sound: Olá, Will! Como você está?
Will Joseph Cook: Estou bem. Esse é meu quarto, seja bem-vinda.
MS: É bem bonito!
WJC: Acabei de notar que está bem bagunçado, mas nós já começamos, então…
MS: Não tem problema! Gostei muito da decoração. Isso ao fundo são grandes pôsteres ou bandeiras decorativas?
WJC: Elas formam as palavras “work it out”, é de uma das minhas músicas. Lancei uma música em 2019 chamada “The Dragon” e eles fizeram isso com um tecido que é como o de uma tapeçaria.
MS: Que bonito!
WJC: Sim, meu amigo Billy foi quem as fez para o videoclipe e elas estavam guardadas no meu armário, então decidi pendurá-las.
MS: Seu amigo é muito talentoso, eu amei. Quero começar falando sobre seu novo single, “BOP”. Gosto muito que essa música é escrita da perspectiva de um adolescente tentando dar o primeiro passo e ficando meio nervoso ao tentar flertar com alguém. Você já passou por alguma situação parecida?
WJC: Sim, essa música é bem sobre a minha adolescência. Acho que bastante gente é assim quando é adolescente – eu era muito confiante, mas isso é provavelmente porque eu estava meio nervoso. Então eu era um adolescente meio irresponsável, flertava bastante. Eu amava ir a festas onde eu não conhecia ninguém e podia conhecer várias outras pessoas e cometer umas loucuras.
O interessante é que quando eu estava escrevendo, a letra veio até mim como se fosse meu eu mais novo. E eu achei que essa seria uma perspectiva bem legal de explorar porque eu sou uma pessoa bem diferente agora, sou bem mais tranquilo e acho que um pouco mais emotivo. Foi divertido escrever como se eu tivesse 16 anos de novo porque isso trouxe uma atitude meio ‘não me importo’ e pensar que coisas como o amor e emoções não eram legais, então esqueça isso.
MS: Eu também gostei muito do vídeo, especialmente dos créditos iniciais que aparecem no canto da tela. Me levou direto para os tempos da MTV. Me fale mais sobre o vídeo.
WJC: O vídeo foi baseado em videoclipes dos anos 80. Tem um vídeo especificado chamado “Teardrops”, do Womack & Womack, que foi um grande sucesso disco nos anos 80. A música é ótima, mas o vídeo é assim: é a banda e os músicos no estúdio, gravando a música, e o produtor e a gravadora estão lá e eles estão assim [curtindo a música].
E eu acho isso muito engraçado, mas não foi feito pra ser engraçado, foi feito pra ser sério! Tipo ‘Uau, estamos fazendo música de verdade’. Mas no contexto moderno, acho que ninguém faria esse tipo de vídeo hoje em dia porque seria meio cringe e as pessoas se perguntariam ‘Por que isso é tão sério?’. Nós queríamos pegar esse conceito e tirar sarro dele – essa ideia de que um produtor senta ali no estúdio e ele precisa muito que essa canção seja um hit e ele está pensando ‘Se essa canção não for um hit, minha carreira acabou’. Estávamos tentando mostrar como um produtor nos anos 80 se sentia.
MS: Acho que nem tudo mudou hoje em dia. Talvez os produtores não fiquem sempre no estúdio daquele jeito, mas nós temos algumas controvérsias envolvendo grandes gravadoras e o uso do TikTok, ter que fazer vídeos e etc. Você mencionou um pouco disso recentemente no Twitter, especialmente com essa onda de artistas falando sobre isso. Qual sua opinião sobre essa questão?
WJC: Minha opinião talvez não seja muito popular. Eu não vejo sentido em ficar muito chateado com isso. Tenho certeza que a questão envolve muitos problemas válidos, mas eu, pessoalmente, não sei direito sobre o quê as pessoas estão reclamando. Se é só uma questão de não querer promover a própria música, então eu penso que esse é o mesmo problema que vários artistas tiveram durante anos.
Tenho certeza que nos anos 80 as pessoas se incomodaram em ter que fazer videoclipes porque eles estavam ali pela música. Tipo ‘Não quero fazer videoclipes, isso é só para vender o quão bonito alguém é ou o quão descolado alguém parece ser. Quero fazer discos’.
Até mesmo recentemente, as pessoas falam ‘Ah, o Spotify está mudando a indústria da música’ porque as pessoas escrevem músicas para entrar em playlists, e agora elas escrevem para hitar no TikTok, mas antes disso elas escreviam para conseguir um lugar no rádio. É só a mesma coisa repetida várias vezes. Esse é o jeito popular que as pessoas têm para descobrir músicas novas.
Eu gosto de ser um artista e acho que gravar um vídeo pro TikTok não é algo difícil de se fazer [risos]. Então essa é a minha opinião, mas eu não quero desrespeitar ninguém que tenha problemas com isso. Acho que existem muitos argumentos válidos. Para mim, pessoalmente, eu estabeleço limites e é assim que consigo me divertir com isso. Quando eu estava gravando o álbum novo, eu fiquei longe do TikTok durante seis meses porque eu não queria mexer nele. Acho que é importante estar lá por um tempo e depois tirar uma pausa, mas sabe… É melhor que outros empregos [risos].
MS: É bem legal você ter tirado uma pausa, acho que às vezes é legal fazer um detox das redes sociais e ficar longe um tempo.
WJC: Eu acho que é bem ruim se as gravadoras estiverem genuinamente forçando os artistas a estarem nesses aplicativos todos os dias, mas eu não acredito em alguns deles. Eu acho que eles podem sugerir, mas não podem controlar o artista, sabe?
Eu tive uma conversa sobre um assunto semelhante, que era: se a indústria da música realmente se importa com a saúde mental dos seus artistas e as pessoas que trabalham nela, então eles deveriam parar de forçar as pessoas a serem constantemente ativas nas redes sociais o tempo todo.
Principalmente com os artistas mais jovens. Eles deveriam literalmente dizer ‘Não, você vai tirar uma pausa do Instagram por 2 meses’ ou algo assim, e isso deveria ser parte da campanha do álbum – sumir por um tempo. Acho que seria ótimo.
MS: Vamos falar sobre seu novo álbum, Every Single Thing. Esse é um álbum cheio de canções sobre o amor e sobre estar apaixonado. Quando foi que você soube que gostaria de fazer um álbum especificamente sobre essa perspectiva?
WJC: Pra mim, durante a pandemia meu mundo se tornou muito pequeno, assim como para tantas outras pessoas, e eu tive mais tempo de refletir e pensar sobre minhas relações interpessoais. Alguns meses antes da pandemia eu terminei um relacionamento de 5 anos, aí fiquei solteiro por um tempo e depois conheci outra pessoa. Aí a pandemia aconteceu e eu fiquei sozinho.
Então eu tive todas essas experiências sobre as quais escrever e também esses sentimentos de separação. Eu estava pensando muito sobre o amor e isso foi o que surgiu naturalmente. Quando eu era mais novo, acho que eu também pensava que escrever sobre amor era um grande clichê na música e era a coisa fácil a se fazer, mas se você escreve sobre isso de modo significativo e pessoal, então acho que não é necessariamente tão fácil assim e nem algo ruim.
Então eu disse a mim mesmo que se isso veio de forma natural e eu queria escrever sobre amor, então eu não deveria me importar sobre ser descolado ou algo do tipo.
MS: Você mencionou ter descoberto que não é necessariamente fácil falar de amor. Existe alguma canção nesse álbum que você achou mais difícil de escrever?
WJC: Tem uma música chamada “The Feels” que eu diria que foi… Não a mais difícil, mas eu fiquei meio preocupado em lançá-la porque é basicamente sobre encerramentos. É sobre meus sentimentos e minha experiência, mas o jeito que eu conto a história na música não aconteceu de verdade ainda. É quase como se eu estivesse imaginando como poderia ser encontrar alguém anos depois de um término.
Parte dela é baseada na minha vida e a outra parte é baseada em um filme chamado Blue Jay, que é ótimo. Ele é sobre um casal que terminou há uns 20 anos e então eles se reencontram e ao longo do filme as coisas vão se desenrolando, mostrando todas as coisas que eles não comunicaram porque estavam bravos demais ou eram jovens demais ou estavam muito emotivos.
Acho que a ideia de botar um ponto final é muito poderosa e mesmo só fantasiar sobre ela pode ser algo muito emocionante. A música é sobre isso e eu estou muito orgulhoso dela porque acho que consegui contar a história de modo bem claro, mas ela ainda é uma música pop divertida, então acho que isso também é legal – poder ter uma música pop que tenha tanto significado assim.
MS: Como você consegue escrever músicas que são tão animadas? Você encontra forças para escrever mesmo quando está passando por momentos difíceis?
WJC: Na verdade, não. Geralmente, se eu não estou bem, minha música também sofre porque eu não quero escrever. Acho que é mais fácil escrever quando estou me sentindo melhor e repensando. Geralmente, eu consigo escrever uma canção de término uns dois anos depois de ter acontecido. Falando por mim, eu não gosto de imortalizar a raiva, a dor e emoções ruins nas músicas sem ter uma conclusão para elas. Se eu consigo escrever sobre isso alguns anos depois, então talvez minha música possa ajudar alguém que esteja sentindo isso agora. Talvez eles acreditem que as coisas vão melhorar ou que eles vão se sentir do mesmo jeito com o tempo. Prefiro que minha música passe essa mensagem. Não que eu seja um terapeuta ou algo do tipo, mas… [risos].
MS: Tenho duas últimas perguntas. Primeiro, gostaria de saber quais são seus planos para a turnê e se podemos esperar por shows no Brasil eventualmente.
WJC: Eu adoraria ir ao Brasil. Irei para os Estados Unidos e espero que também para a América Latina mais perto do fim do ano ou início do ano que vem. Estou literalmente tirando meu visto agora, então espero conseguir ir. Pode espalhar a notícia. Eu adoraria conhecer o Brasil, então se você está lendo isso, me siga e me diga aonde eu devo ir.
MS: Para encerrar, tem alguma mensagem que você gostaria de dizer para seus fãs brasileiros especificamente?
WJC: Acho que ainda não conheci vocês, mas eu adoraria conhecê-los. Seria legal. Acho que talvez essa seja a primeira vez que estejamos nos falando. Não fiz muitas entrevistas para o Brasil. Espero que gostem de mim, do meu novo álbum, e espero que possamos festejar em breve.