Em Only God Was Above Us, Vampire Weekend faz uma colagem com fragmentos novaiorquinos do século XX e revisita sua própria discografia nesse processo. O quinto álbum da banda é ambicioso nos detalhes, mas calcula com precisão cada passo que toma.

Isso começa logo na capa do disco, que traz uma foto de Steven Siegel, tirada na década de 1980. Ao longo de sua carreira, o fotógrafo capturou momentos que expõem os diferentes matizes da cidade natal do trio composto por Ezra Koenig (vocal e guitarra), Chris Baio (baixo) e Chris Tomson (bateria).

“Tenho fotografado as ruas e bairros de Nova York nos últimos 40 anos. Quando os jovens de hoje olham para as minhas fotografias dos anos 1980, ficam horrorizados. Para eles, a Nova Iorque dos anos 1980 é quase irreconhecível. E eles estão certos”, Siegel conta em seu site sobre a série que inclui a foto que estampa Only God Was Above Us.

É essa atmosfera decadente e menos previsível de Nova York que instiga a banda ao longo das dez faixas, produzidas por Koenig em parceria com Ariel Rechtshaid, que assumiu esse mesmo papel nos últimos dois álbuns do Vampire Weekend. Rostam Batmanglij, membro fundador da banda, retorna para coproduzir “The Surfer”, enquanto Tomson se aventura em “Gen-X Cops”. 

Na sonoridade, essas reflexões tornam as faixas mais barulhentas em alguns momentos, para logo em seguida darem espaço a solos elaborados, tais como os de “Hope” e “Connect”. 

As referências à Nova York aparecem em outros momentos, como em “Mary Boone”, música que ganha o mesmo nome de uma importante galerista no mercado de arte nova-iorquino. Jean-Michel Basquiat, Barbara Kruger e Roy Fox Lichtenstein estão entre os artistas com quem ela trabalhou antes de ser presa por fraude em 2019.

Já “Prep-School Gangsters” divide seu título com uma manchete de 1996 da New York Magazine sobre estudantes privilegiados que traficavam drogas em colégios preparatórios de elite. Além do aceno à matéria, o tema também cria um contraponto à estética que acompanhou a banda nos seus anos iniciais, sobretudo nos dois primeiros discos. A história do grupo está atrelada ao estilo preppy, adotado entre os membros da classe alta que frequentam instituições de alto prestígio, como a Universidade de Columbia, onde Koenig, Baio e Tomson se conheceram. 

Além dos temas, esse retorno aos quase 20 anos de carreira deixa seus traços em algumas músicas de Only God Was Above Us. Caso de “Connect” que usa um sample de “Mansard Roof”, faixa que abre o autointitulado álbum de estreia da banda; “Gen-X Cops” ressoa a “Cousins”, de Contra; e quando em “Capricorn” Koenig canta: “Too old for dyin’ young, too young to live alone”, é difícil não lembrar da brincadeira de palavras feita em Modern Vampires of the City, com “Diane Young”.

Em seus 47 minutos, Only God Was Above Us vai da insistência no erro em “Ice Cream Piano”, “You don’t want to win this war, ‘cause you don’t want the peace”, à constatação em “Hope”, música em que Koenig relembra que abrir mão de uma crença às vezes é a melhor opção: “The enemy is invincible, I hope you let it go”.

Ao olhar para um outro lado de Nova York, para aquilo que acontecia lá fora enquanto o trio crescia, Vampire Weekend encontra os negativos do filme em que começou a registrar a sua história e preserva as silhuetas de seu constante amadurecimento.

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