Acumulando uma discografia excelente formada por três álbuns e uma extensa variedade de EPs, o Chase Atlantic deu seus primeiros passos no YouTube e construiu sua carreira do zero com as próprias mãos, conquistando uma fã-base leal de fãs atraída pela versatilidade de seu estilo musical e a densidade de suas composições. Mesclando trabalhos lançados de modo independente a títulos que contaram com o apoio de gravadoras, o trio australiano formado por Christian Anthony e os irmãos Mitchel e Clinton Cave assume o processo de escrita e produção das próprias músicas, além de assinar a direção e edição de alguns de seus vídeos, como o do hit mais recente “OHMAMI”, inspirado em tramas cinematográficas de Quentin Tarantino.

A autonomia artística e a paixão pela música são dois pilares essenciais na carreira do Chase Atlantic, que mescla uma variedade de gêneros musicais para construir um som ousado, desafiador e que ambiente com engenhosidade suas composições que abordam suas batalhas com a saúde mental, vício, abuso de substâncias, o peso esmagador da fama e suas relações com mulheres e dinheiro. Seu primeiro EP, Dalliance (2014) trouxe um pop rock extremamente distante de seus projetos recentes, mas que ofereceu a base para a mescla atual de hip-hop alternativo com dark pop e linhas de guitarra do rock (mais pesado nas versões ao vivo). Conforme seu trabalho evolui, o Chase Atlantic encontra território comum entre todos esses gêneros e também abre espaço para elementos psicodélicos e eletrônicos, além de influências groove dos anos 80, espalhadas ao longo de seu álbum mais recente, Beauty In Death – um verdadeiro manifesto sobre angústia, apatia e a busca interminável pelo alívio de preencher o vazio dilacerante da existência.

A habilidade de diluir temas densos em batidas envolventes e viciantes fez com que o trio da Austrália abrisse caminho aos poucos pelas paradas mundiais até desaguar no reconhecimento avassalador trazido pelo novo single “OHMAMI”, que mistura o hip-hop à música latina e recentemente ganhou uma nova versão junto à cantora Maggie Lindemann. O sucesso estrondoso e a popularidade da canção nas redes sociais levou o Chase Atlantic ao seu primeiro milhão de inscritos no YouTube e à marca de um bilhão de streams no Spotify depois de sete anos cavando seu próprio caminho na indústria da música. Em entrevista ao Mad Sound, os artistas falaram sobre a nova fase da carreira, projetos futuros e sua visita ao Brasil – remarcada para 2022 por conta da pandemia, mas ainda sem data fixa.

Mad Sound: Oi, meninos! Como vocês estão?

Chase Atlantic: Olá! Tudo bem?

MS: Eu estou bem e vocês?

Clinton: Aguentando firme, mas estamos bem ocupados, na verdade. Temos muito o que fazer para ficarmos prontos para a turnê. Nós gostamos de participar ativamente, então é meio trabalhoso. E estamos fazendo músicas novas, então… Ocupados, ocupados, ocupados.

MS: Eu quero saber mais sobre isso em um minuto, mas quero começar falando sobre “OHMAMI”, que é uma canção incrível, música do ano, uma das minhas favoritas. Parabéns por ela! Estou feliz em ver o quanto essa música explodiu. Vocês acabaram de atingir 1 milhão de inscritos no YouTube, mais de 1 milhão de streams na nova versão com a Maggie [Lindemann], então vocês têm milhões por toda a parte. Como vocês se sentem com isso e o que vocês acham que atingiu as pessoas de modo diferente nessa música?

Clinton: E vamos chegar a um bilhão de streams amanhã! Estamos em 999.999.999.

Christian: Eu acho que essa música atingiu as pessoas de modo diferente porque foi nossa primeira vez mergulhando nesse mundo latino americano. A fã-base brasileira tem sido tão fantástica! Toda a América do Sul, Argentina… Acho que essa foi uma música que fizemos pela comunidade sul-americana e pela comunidade latina no geral, usando aquele lindo violão de influência espanhola e portuguesa.

Clinton: Nós gostamos da música de vocês.

Mitch: E esse gênero já ganhou espaço no mainstream, então essa é a beleza de abraçá-lo. É para todo mundo agora. É música internacional.

Christian: Sim, e acho que foi muito legal. Foi algo diferente para nós também, nós nunca tínhamos feito algo com influência do espanhol e eu acho que é por isso que fez sentido [para tanta gente] e por isso [a música explodiu]. Era algo muito novo para nós. 

Mitch: É leve, é agitada, é frutífera, é alegre…

Christian: É grudenta.

Mitch: Foi algo refrescante para os ouvidos.

MS: Eu concordo e acho muito legal vocês terem pensado na fã-base latino-americana de vocês porque ela é gigantesca. “OHMAMI” era uma favorita dos fãs antes mesmo de ser lançada, mas ela tem crescido muito no TikTok. Eu gostaria de saber se vocês acham que o TikTok vai impactar suas novas músicas de algum jeito porque é um jeito novo de promover música, eu acho, e talvez até mesmo um jeito de investir em novas músicas e novas sonoridades. O que vocês acham disso?

Mitch: Com certeza.

Clinton: É uma ótima plataforma. Acho formidável que tenha nos ajudado a ganhar esse [reconhecimento]. É uma benção, mas também um pouco de uma maldição, eu acho, porque, como o Mitch já disse, é muito saturado e também tem vida curta, então as pessoas estão sempre rolando o feed, e isso torna difícil para elas desenvolverem a atenção necessária para ouvir músicas inteiras. Para nós é algo positivo.

Mitch: Sim, a exposição é algo pelo qual nós nem pedimos e acabou se tornando uma plataforma incrível para espalhar a música. E com todo mundo compartilhando, se tornou algo ainda mais incrível, então isso foi o que nos deixou tão animados com toda a situação.

Junto com isso, acho que alguns pontos negativos é, por exemplo: digamos que alguém está tentando iniciar uma carreira de músico hoje em dia, seria meio difícil fazer isso do jeito tradicional, que seria colocar sua música no mundo e ir construindo as coisas aos poucos, enquanto no TikTok você se torna popular só de fazer vídeos, sabe? Alguém que produz conteúdo comum pode pular para uma carreira musical direto com esse grande números de seguidores e isso pode meio que manchar um pouco a reputação da música no geral.

Christian: Concordo totalmente. Acho que você também precisa ter a experiência de escrever música.

Clinton: Isso não traduz [o trabalho de fazer música] do jeito correto. Você olha para o número de seguidores de alguns tik tokers no início de carreira e são dezenas de milhões, e traduzir isso pro mundo da música – Porque temos feito isso por tanto tempo, sabe? É nossa paixão e nossa profissão – é difícil para essas pessoas realmente…

Mitch: Entenderem o tanto de trabalho que leva algo assim, especialmente sendo produtores independentes, entende? Especialmente isso. Ontem à noite eu estava assistindo a um videoclipe de um tik toker que foi tik toker antes [de ser artista] e o vídeo somava 37 milhões de visualizações.

Christian: Jesus!

Mitch: E os primeiros comentários diziam “Isso é uma cópia da música do Chase Atlantic” [risos]

MS: Vocês ganharam imitadores, isso significa que estão ficando bem-sucedidos!

Mitch: Sim, mas eles têm mais views que a gente! [risos]

MS: Mas vocês vão chegar lá!

Mitch: Exatamente! Fazemos música pelos motivos certos. Estamos seguindo nossa paixão e essa é nossa carreira, não é só uma fase, não é algo passageiro.

Christian: Estamos fazendo isso há muito tempo.

Mitch: Pra mim são quase dez anos.

Clinton: Faz três anos que eu sou fã do Chase Atlantic. Eu não estava feliz no começo [risos].

Mitch: Eu acabei de descobrir que estou em uma banda.

MS: Eu gosto muito do vídeo de “OHMAMI” ter sido inspirado nos filmes do Tarantino e eu lembro do Christian falando que Midsommar inspirou algumas coisas no Beauty In Death, o que me deixa feliz porque é um dos meus filmes favoritos.

Christian: Estamos tentando fazer o Mitch assistir há anos.

Clinton: Faz um ano que eu tento forçar ele a assistir.

MS: Mitch, por favor, você tem que ver! Nem é tão assustador assim, é filmado em plena luz do dia.

Mitch: Eu sei, é isso que eles continuam me dizendo. Já ouvi o mesmo argumento! Eu acho que tenho sido tão pressionado a assistir que eu não quero mais. Estão forçando esse filme na minha cara.

Clinton: É um ótimo filme, você tem sido teimoso.

Christian: É insano o quanto eles fizeram o filme ser assustador considerando que é tudo em plena luz do dia, igual você disse.

Clinton: É psicológico.

Mitch: Então é assustador! Você acabou de dizer que não era e ele disse que é.

MS: Eu acho que ele pode ser meio sinistro, mas não assustador. É psicológico, igual o Clinton disse. E isso me fez pensar: vocês já consideraram trabalhar em álbuns visuais? Eu amo esses projetos e eu acho que vocês seriam ótimos nisso.

Clinton: Obrigado.

Christian: Nós nos inspiramos um pouco em Midsommar para o visualizer de “Molly”, na verdade, com as flores no chão se movendo.

Mitch: Meio um culto dos anos 70 também.

Clinton: Sobre o vídeo [de “OHMAMI”], nós realmente colocamos a mão na massa. Nós produzimos, dirigimos e editamos por conta própria, junto com o Jake Stark. Ele é cineasta, não gosta muito de fazer videoclipes, prefere fazer filmes, mas ele é um ótimo amigo e sempre nos ajuda. Ele fez a maior parte da direção de fotografia e nós meio que o guiamos sobre o que fazer ali na hora.

Nós conseguimos nossos figurinos com antecedência, os acessórios, os tijolos de cocaína. Eles não são cocaína de verdade [risos].

Mitch: Surpreendentemente.

Christian: Teríamos acabado com o nosso orçamento se fosse o caso.

Mitch: Teríamos acabado com a nossa carreira se fosse o caso.

Clinton: Eu fui com a minha namorada até o The Home Depot [varejo que vende coisas para o lar e construção civil] e nós encontramos umas caixas de telefone antigas que eram do tamanho certo e as enrolamos com fita branca. E funcionou bem.

Mitch: Nós quase as enchemos com pedras, na verdade, para torná-las mais pesadas para que pudéssemos jogá-las, mas isso causou alguns acidentes algumas vezes, nós quase nos machucamos. 

MS: É meio perigoso. Eu quero falar de coisas novas já que vocês mencionaram [no começo]. É claro, tem a nova versão de “OHMAMI” com a Maggie Lindemann, o que me surpreendeu bastante porque o último álbum dela é meio pop punk/emocore e eu fiquei bastante surpresa pela escolha do feat. com ela. Vocês pensam em seguir essa linha sonora de algum modo? Algo meio Bring Me The Horizon, talvez?

Christian: É engraçado você mencionar isso porque a versão de “PARANOID” que nós fizemos ao vivo e que vocês vão presenciar quando formos ao Brasil, eu acho que é bastante [inspirada em] Bring Me The Horizon. Essa é uma das bandas que eu cresci ouvindo e, sem querer soar arrogante, eu sinto que eles meio que pegaram algumas coisas que eles ouviram de nós e gostaram, como o novo som da bateria eletrônica que eles têm usado, e nós fizemos o oposto e trouxemos o lado mais rock para nossas apresentações ao vivo. E eu acho que seria muito legal trabalhar com uma banda assim.

Mitch: Nós vamos fazer uma música de heavy metal.

Clinton: Nosso próximo álbum vai ser country, eu tô falando [risos].

MS: Eu não sou muito fã de country, mas eu acredito que vocês conseguiriam fazer um álbum de heavy metal. 

Christian: O álbum da Maggie tem algo muito legal nessa pegada, a música “Scissorhands” que tem uma produção que entra no estilo do Bring Me The Horizon.

Mitch: Tem uma progressão e uma variedade na qual nós podemos mergulhar. Algo de que nos orgulhamos muito é sermos capazes de fazer vários estilos de música, como música dos anos 80 e um som psicodélico.

Christian: O jeito que ela [Maggie] se adaptou é porque ela tem referências semelhantes às nossas e ela fez um ótimo trabalho. Obviamente, eu esperava que fosse bom, mas depois que ela cantou o restante do material dela para nós… Eu estava animado em ouvir, mas sinceramente não esperava que fosse ser bom assim. É o melhor.

Clinton: Nós já tínhamos conversado sobre tentar fazer uma música juntos no passado e quando ela fez o dueto no TikTok nós pensamos ‘Caramba, isso é incrível’. Essa é a música perfeita pra ela. Você vem a um show [nosso] e é um show de hip-hop, mas também é um show de rock ao mesmo tempo.

Mitch: E um pouco de trap.

MS: E é isso que eu amo em vocês, na verdade, porque é muito diferente ouvir vocês na versão de estúdio e no palco e eu acho isso ótimo porque nunca sei o que esperar. Eu estava muito ansiosa para ver vocês fazendo isso no Brasil, então gostaria de saber quais são as expectativas sobre os fãs brasileiros e também algo que vocês gostariam de dizer a eles.

Clinton: Eu acho que vocês são todos incríveis.

Mitch: Vocês superaram todas as nossas expectativas quanto aos fãs brasileiros. Nós temos zero expectativas restantes porque vocês foram acima e muito além [sorrindo].

Christian: Vocês nos ajudaram muito com o lançamento de “OHMAMI” também e nós estamos muito ansiosos para chegar aí e tocar essas músicas, e nós sentimos muito por não podermos fazer isso, mas vai valer a pena esperar. Vai valer 100% a pena.

Mitch: Vamos nos redimir. 

Clinton: Estaremos de volta e mal podemos esperar para fazer shows insanos.

Christian: 2022! Estamos chegando.

MS: Espero que sim! Podemos esperar alguma colaboração com algum artista brasileiro?

Christian: Não consigo lembrar o nome dele, mas estávamos falando sobre alguém que era uma opção para abrir nossos shows. É alguém meio grande no Brasil, mas vocês vão ter que nos enviar algumas músicas porque vocês sempre enviam coisas boas.

MS: Para a minha última pergunta, eu gostaria de saber se vocês estão trabalhando em algo novo e o que podem me contar sobre isso?

Mitch: Sim!

Christian: É algo muito muito muito legal! Eu acho que essa música é completamente diferente de “OHMAMI” e acho que ela é uma das minhas músicas favoritas de todas que já fizemos porque é muito madura para nós e eu espero que as pessoas se identifiquem. Traz uma história muito bonita.

Mitch: A história é muito interessante. É uma música com uma história, não é só sobre ‘Estou triste, por favor, me ajude’ [risos].

MS: Vocês podem me contar sobre o que é?

Mitch: Não [rindo]

MS: Que pena, achei que ia conseguir essa! Meninos, muito obrigada por falarem comigo, foi um prazer. Obrigada por serem tão legais e nos vemos em 2022!

Mitch: Muito obrigado pelo seu tempo e obrigado por nos acompanhar todos esses anos, somos muito gratos, de verdade.

Christian: 2022! Estaremos lá.