Texto por Marcelo Gomes

A segunda noite do show do Ghost em São Paulo contou com a abertura da Crypta, que não pôde se apresentar no dia anterior devido a problemas de logística do Ghost. A apresentação teve um gosto especial, afinal seria a estreia da turnê do recente álbum Shades Of Sorrow , lançado em 2023. Antes de soltarem a introdução, já gritavam o nome da banda. Isso é raríssimo, ainda mais na situação de abertura de uma banda estrangeira. Isso só demonstra o quanto elas merecem.

Liderada pela Fernanda Lira (vocal/baixo), Luana Dametto (bateria), Tainá Bergamaschi (guitarra) e Jéssica Di Falchi subiram ao palco e mostraram porque estão em seu melhor momento. Tocando várias músicas do “Shades Of Sorrow” como “Lift The Blindfold”, “The Other Side Of Anger” de início, elas surpreenderam o público com tamanha brutalidade. E não parou por aí, a confiança ficou nítida tanto que calçaram a apresentação praticamente toda no último trabalho que foi lançado em agosto de 2023.

Incluíram ainda “Lullaby For The Forsaken” e “The Outsider”. Depois dessa, obtiveram a redenção mais que merecida dos fãs paulistanos. Para terminar,  “Lord Of Ruins” e a mais conhecida do primeiro trabalho, “From The Ashes”. O saldo foi mais que positivo, a banda que está em plena ascensão conseguiu um feito histórico abrindo para o Ghost. Saíram de lá maiores do que já eram e mostraram toda a qualidade do death metal brasileiro.

À medida que as luzes diminuíram, a expectativa só aumentava diante do  pano que escondia o palco criando ainda mais suspense. O ano de 2023 trouxe os enigmáticos suecos do Ghost de volta ao Brasil e a apresentação foi uma experiência assustadoramente hipnotizante. Os fãs que esperaram por meses estavam prestes a testemunhar a missa ao profano.

Às 21h, no momento em que a cortina caiu revelando o enigmático vocalista da banda, Papa Emeritus IV, a histeria tomou conta do lugar. A sequência inicial foi de tirar o fôlego. “Kaisarion”, “Rats” e “From The Pinnacle To The Pit” mostraram a capacidade do Ghost de misturar heavy metal, pop e rock clássico com um toque macabro trazendo uma combinação única em suas músicas.

Aliado a isso, um cenário com vitrais de igreja que davam a sensação de estar em um culto. Outro ponto a se destacar foi a atuação dos Nameless Ghouls, como são conhecidos os músicos de apoio da banda. Todos exibindo virtuosismo durante a apresentação e usando máscaras de gás  que remetiam às usadas em guerras. 

A presença do Papa Emeritus foi realmente cativante. Sua primeira interação com o público foi com um “Olá, São Paulo” e aproveitou para testar as habilidades dos fãs antes de anunciar “Spillways”. Sua voz ecoava pelo local como se fosse uma oração enquanto sua performance mantinha o público envolvido numa espécie de ritual.

Um dos momentos mais memoráveis da noite foi quando tocaram os clássicos “Ritual”, “Con Clavi Con Dio” e “Year Zero” que mais pareciam louvores declamados pelo Papa diante de seus fervorosos fiéis. O setlist foi uma mistura excelente entre clássicos e faixas do mais recente trabalho, “Impera”. As músicas novas se encaixaram perfeitamente com as antigas, provando que a banda continua com sua essência intacta. 

Depois da emocionante “He Is” , um breve descanso para o Papa com a instrumental “Miasma”.  Os fãs pareciam estar dentro de um delírio coletivo enquanto ouviam aquelas canções que os hipnotizavam. “Mary On A Cross” e “Mummy Dust” vieram a seguir e antes de anunciar a “última”, Papa fez questão de ressaltar a presença da Crypta e destacar a importância das brasileiras para a cena.

Na volta para o bis, o Papa perguntou o que gostariam de ouvir. Os fãs ensandecidos pediam por “Twenties”, faixa do Impera. Para a decepção de todos, Emeritus falou que não tocaria, mas prometeu que numa próxima vinda, iria incluí-la e que para compensar essa ausência, faria o bis com três músicas. Claro que todos foram ao delírio ainda mais com “Kiss Go-Goat”, “Dance Macabre” que tirou a galera do chão e a clássica “Square Hammer” que fechou com chave de ouro essa noite histórica.

O show do Ghost não foi apenas uma apresentação musical, mas também uma extravagância teatral. A atuação intrigante do Papa aliada às exuberâncias dos Ghouls num cenário sacro trouxeram um ar místico ao show que deixou o público fascinado. Foi uma noite que os fãs provavelmente irão se lembrar nos próximos anos como memória de um verdadeiro espetáculo.

A noite foi registrada também pela nossa colaboradora Leca Suzuki. Confira abaixo a galeria de fotos.

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