Por Joana Söt

Se você é fã de Radiohead, sabe que em um top 3 é impossível compactar as melhores músicas da banda. Um top 5 até vai, mas sinto que seria injusto pra uma banda com tantos hits (reconhecidos ou não pela indústria). Um top 10? Até vai. Radiohead é uma daquelas bandas que ao longo de cada álbum conseguiu transmitir sentimentos e explorar a própria música de maneiras únicas. De Pablo Honey (1993) à Moon Shaped Pool (2016), as mudanças e evoluções que rolaram dentro da banda enquanto estilo, instrumentos e letras são visíveis mesmo pra quem nunca acompanhou a discografia da banda. 

Pensando nisso e celebrando a versatilidade e o talento de Thom, Phil, Johnny, Ed, e Colin, fiz esse top 10 usando como critério as várias faces do Radiohead ao longo da história, sem brincadeirinhas.

1. WEIRD FISHES/ARPEGGI 

Weird Fishes é uma alucinação coletiva; quase um canto sagrado embaixo d’água, que nos atrai e nos afoga, tirando nosso fôlego. Aqui quem brilha mais, na minha opnião, é o Phill, baterista, num tempo quase desumano de tão perfeito e complexo. Phil também brilha demais em “Videotape”, mais uma vez colocando no tempo da bateria algo que até hoje os mais estudiosos da música tem dificuldade de explicar. Eu realmente não sei nem expressar o que é, mas recomendo demais que você ouça. 

2. RECKONER

2007 foi um ano abençoado porque foi o ano de lançamento do In Rainbows. Se você ainda acha que Radiohead é aquela banda que só faz música ‘deprê’, é porque não ouviu esse álbum. Sem dúvidas a fase mais romântica e otimista da banda, onde, por meio dos sons mais lindos do mundo e referências mitológicas, uma das canções mais emocionantes do mundo se revelou. Vale a pena ouvir também: “Nude”, “Jigsaw Falling into Place”, “15 Step”, “Bodysnatchers”. Mais fácil ouvir o álbum todo mesmo.

3. DAYDREAMING

O álbum mais recente da banda é uma visita às angústias mais profundas que se pode experienciar durante a vida, na minha opinião. É também um dos álbuns mais puros, mais refinados já feitos pela banda. É nosso ponto final na linha do tempo de evolução e amadurecimento musical da banda durante toda a história. O que circunda o álbum é a morte da esposa do vocalista Thom Yorke, e é sobre isso que “Daydreaming”, entre devaneios e vozes não compreensíveis procura explorar. Logo depois dessa, vem a faixa “Decks Dark”, que deixa clara a presença de uma energia extremamente pesada pairando sobre nossas vidas. O álbum também traz faixas como “The Numbers”, que discute ainda a relação política no mundo capitalista e o poder que as pessoas têm diante daqueles que sustentam uma hierarquia de poder. Recomendo ainda: “Present Tense” (lembra muito os sons brasileiros da bossa nova, suspeito que por influência do Ed O’brien e o tempo que morou no Rio de Janeiro), “Desert Island Disk”, e “Identikit”, finalizando com a mais pesada de todas: “True Love Waits”.

4. LOTUS FLOWER

“As dores e delícias de se ouvir algo completamente novo”. Foi assim que eu, pelo menos, me senti quando The King Of Limbs foi lançado em 2011. Pra falar a verdade, esse foi o ano que eu realmente me tornei fã de Radiohead, e muito foi por causa desse disco. É hoje um dos ‘neutros’ na minha lista pessoal, mas com certeza causou pra quem já acompanhava a banda desde antes. TKOL revela-se completamente diferente do que a banda já havia feito. Os sintetizadores falam bem mais alto, tomam posição de tão grande importância quanto os próprios membros, as músicas são mais leves, mais lúdicas. Escolhi “Lotus Flower” porque é realmente uma das músicas da banda que mais me moldaram, admito. O clipe é um dos mais icônicos já feitos pela banda também (quem não ama ver o Thom dançando?). Se você quer ir mais fundo no uso de sintetizadores na banda, vá para: “Little by Little”, “Feral”, e “Bloom”. Outra música que é uma delícia de ouvir numa tarde de domingo é “Separator”. Para além de ter citado praticamente o álbum todo, tem também o álbum de remixes do TKOL, que lembra um pouco a pegada solo do vocalista Thom Yorke. É a escolha perfeita se você vai numa festa e quer que todo mundo saiba o quanto você ama Radiohead mas não quer diminuir o ânimo da galera.

5. THERE, THERE 

Hail to The Thief definitivamente marcou uma nova era pro Radiohead. O engajamento do Thom Yorke com as questões políticas e climáticas dentro da Inglaterra teve grande influência nesse álbum. Confesso que depois do Pablo Honey, esse talvez seja meu menos favorito da banda. Mas não deixa de ser surpreendente como eles mesmo trazendo essas questões mais nitidamente (que agora ultrapassam os sentimentos, as relações pessoais e a individualidade de cada um e começam a vazar para as questões sociais, políticas e contemporâneas), ainda conseguem estabelecer uma coerência musical absurda. Para além de “There, There”, que considero uma das melhores do álbum por conseguir fundir as questões pessoais de um indivíduo ao mesmo tempo que a extravaza por meio das melodias e vocais (a voz do Ed ao fundo ecoando ‘’someone on your shoulder’’), tem também “Myxomatosis”, “A Wolf At The Door”, e “2+2=5”.

6. PYRAMID SONG

Não tem muito o que falar, a não ser ouvir e VER (isso mesmo, ver) o Johnny Greenwood tocando a guitarra como se fosse um violino. Enjoy.

Outras recomendações do Amnesiac: “I Might Be Wrong”, “Knives Out”, “Like Spinning Plates”.

7. IN LIMBO

Não existem palavras que definam KID A. Quando falamos da qualidade da banda de se reconfigurar estilisticamente e ainda continuar sendo ela mesma, o que esses caras fizeram com esse álbum é até hoje quase processado como fenômeno sobrenatural no meu cérebro. O cenário é de completo caos, cidades pegando fogo, pessoas correndo, e montanhas cobertas em gelo conservando a iminência de algo gigante por vir. O álbum, feito em 2000, marcou mais uma vez uma geração inteira por meio da música. Dessa vez, uma novidade: a presença clara dos sintetizadores e do jazz (que?) nas faixas de uma banda que até então ‘’só sabia fazer música triste’’. Em Kid A fica ainda mais evidente a ambição de TODOS os integrantes da banda, e de todas as faixas, a que mais surpreende até hoje nesse quesito é “In Limbo”. Vocês realmente já pararam pra ouvir a guitarra nessa música?

Mas não se engane: o álbum mais uma vez não deixa a desejar como uma unidade. Minha recomendação é que você ouça ele do começo ao fim, para entender a narrativa e a atmosfera. É completamente mágico, vai por mim. Minhas recomendações: “Everything In it’s Right Place”, “National Anthem” (onde a influência do jazz fica bem clara), “Idioteque”, “How to Disappear Completely” e “Treefingers”.

8. PARANOID ANDROID

Chegamos no que pra mim é um dos – se não o melhor álbum da banda. É por álbuns como o Ok Computer que a tarefa de fazer um top 3 por exemplo se torna completamente inviável. A tarefa de selecionar dentro de um álbum que tem tantas jóias musicais só algumas faixas… meu deus… me faz questionar por que diabos eu só não coloquei apenas ele nesse top 10. No esquema de peneira, diria que “Airbag”, “Subterranean Homesick Alien”, “Karma Police”, e “Let Down” são as mais valiosas. Porém acima dessas todas, “Paranoid Android” é demais. É uma das maiores músicas já gravadas pela banda, tem uma narrativa absurda pra quem gosta de acompanhar a história da letra, uma atmosfera meio sombria, sarcástica e política – que depois se complexifica em álbuns posteriores. 6:27 de pura alucinação dentro do rock, mais uma vez definindo uma era não só musical, mas estabelecendo uma atmosfera nos anos 90.

9. MY IRON LUNG 

The Bends marcou o Radiohead como o primeiro álbum sério deles, vamos colocar assim. Dentro desse album existem já alguns hits, como “High and Dry” e a incansável “Fake Plastic Trees”. Mas na minha opinião, algumas outras faixas merecem tanto reconhecimento quanto as citadas acima. “Bones” por exemplo, tem um tom completamente nostálgico nos reverbs das guitarras e na voz melódica com variações do Thom. Ou então “Street Spirit”, que segundo o senhor Yorke, é uma das mais tristes e intensas – por isso uma das mais difícil de ser tocada em shows. E cito outras ainda, “(Nice)”, “Just”, “Black Star”, e obvio, “My Iron Lung”. Quem já ouviu essa ao vivo sabe: quando a guitarra estoura, a coisa toda vira de ponta cabeça. E que jeito de marcar presença num álbum de verdade, meus amigos.

10. CREEP 

Alguma coisa dentro de mim é muito relutante em colocar “Creep” dentro do top 10 melhores músicas do radiohead, mas sabe, é meio inevitável. Mesmo que eu tente, não tem como negar que essa música é boa demais. Afinal, sem ela, eles provavelmente não teriam decolado da forma que decolaram. Então sim, reconhecer e celebrar “Creep” como parte disso tudo é necessário.

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