Phoebe Bridgers entrou na lista das mulheres do indie e do pop que decidiram lançar um álbum durante o grande caos que 2020 tem sido. O segundo álbum solo da cantora, Punisher, foi lançado no dia 18 de junho, detalhando os sentimentos mistos da falta de conexão com os outros, a vontade de estar no conforto de casa e a sensação dolorida de ver as coisas chegando ao fim. 

Bridgers ganhou um espaço especial na cena indie com Stranger In The Alps (2017), o disco de estreia da cantora. Desde então, ela fez uma rede de contatos com outros artistas, trabalhando em um projeto com Conor Oberst, vocalista de Bright Eyes, além de ser 1/3 do notável grupo boygenius com Lucy Dacus e Julien Baker, outras duas vozes femininas proeminentes no gênero. 

A produção de Punisher é coberta de parcerias, não apenas dos artistas mencionados, mas também de Jenny Lee Lindberg (Warpaint), Blake Mills, Christian Lee Hutson, Nathaniel Walcott (Bright Eyes) e Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs).

A primeira música do álbum, “DVD Menu” é um minuto de uma mistura de baixo com instrumentos de corda que parecem ter saído de um trailer de filme de terror. Não particularmente assustador, mas o suficiente para dar uma noção do sentimento do disco. Em entrevista para a i-D, Bridgers fala que consegue imaginar essa melodia em loop no menu de um videogame.

Em seguida, em “Garden Song”, Phoebe fala sobre os pesadelos que ela costuma ter enquanto está em turnê. Ela fala sobre a casa no topo da colina em que quer morar, o vizinho skinhead que some e que volta para assombrar o jardim que ela planta. Além disso, a canção conta sobre o incêndio que destruiu a casa dos pais dela um ano antes de se separarem (“I grew up here, ‘til it all went up in flames” / Except the notches in the door frame”), acrescentando metáforas aos pesadelos recorrentes dela.

“Kyoto” conta a história da primeira vez que a cantora foi ao Japão em turnê e durante esse tempo, ela sente a síndrome do impostor, frequentemente sentida por artistas que acham que não merecem a atenção que ganham com o trabalho que fazem. A música se transforma com os sentimentos mistos que Bridgers sente em relação ao pai, que a liga de um orelhão para dizer que está se esforçando para ficar sóbrio e escreveu uma carta a ela. 

Phoebe disse à Pitchfork que segue um tipo de padrão de relacionamentos em que há diversos alcoólatras e viciados na sua vida, começando por seus pais e indo até seus amigos e ex-namorados. E uma das suas inspirações para o Punisher foi o Al-Anon, um programa para pessoas que foram afetadas pelo alcoolismo de terceiros. 

A title track do álbum foi feita com referências de Elliott Smith e o pior pesadelo de Phoebe: alguém que, ao conhecer seus heróis, fala mais que a boca e não consegue parar. Essa é a definição da palavra “punisher”. As manipulações vocais distorcendo a voz da cantora enquanto um piano repetindo as mesmas notas sem parar montam o cenário melódico.

A melancolia continua em “Halloween”, agora integrando uma linha de baixo enquanto Bridgers canta sobre morar perto de um hospital e como no dia das bruxas é possível ser qualquer um, menos a si mesmo. “Chinese Satellite” vem com uma contínua guitarra e baixo até o refrão, onde entram os instrumentos de corda e logo em seguida, volta as linhas do início, como em um ciclo. 

Ainda em território soturno, “Moon Song” é tipicamente uma música triste sobre relacionamentos, com o piano contra a voz da cantora, como se algum elemento místico de sonhos estivesse presente. “Savior Complex” se relaciona com “Kyoto”, em que Bridgers sente que o seu próprio complexo de salvadora é apenas uma distração para que ela não lide com os próprios problemas. 

“I See You” é a segunda canção mais animada do álbum. É dedicada ao ex-namorado/melhor amigo/baterista de Phoebe, sobre o relacionamento dos dois e como a depressão da cantora se instalou na relação dos dois. “Graceland Too” entra como uma música folk e country, enquanto ela descreve os efeitos de MDMA.

O fechamento do álbum, “I Know The End”, chamada de masterpiece pela NME, é a música do apocalipse. Em quase seis minutos, ela passa de uma música de despedida pessoal para o desaparecimento do mundo inteiro. A guitarra e as cordas entram em contraste, assim como os sons de pássaros ao fundo. As baterias entram para acompanhar o início do apocalipse enquanto ela descreve os procedimentos para emergências, mesmo que não vá segui-los: “When the sirens sound, you’ll hide under the floor / But I’m not gonna go down with my hometown in a tornado”.

O sentimento de “I Know The End” vai escalando conforme os instrumentos de sopro são acrescentados. Com a canção chegando próxima do fim, e assim o segundo álbum de Phoebe Bridgers, os sentimentos de sumir ficam próximos (“No, I’m not afraid to disappear / The billboard said “The End Is Near” / I turned around, there was nothing there / Yeah, I guess the end is here). A finalização feita com a bagunça de todos os elementos, os gritos de outros artistas que se envolveram nesse projeto e por fim, Phoebe tentando gritar mesmo sem conseguir respirar direito. Um grande fim para um grande álbum, com impacto emocional suficiente para carregar seus ouvintes até o fim da quarentena.