Phoebe Bridgers conseguiu furar a bolha da cena independente e se tornar um nome conhecido no mainstream, o que recentemente lançou luz a um outro projeto da cantora: o boygenius.
Formado por Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus em 2018, o power trio uniu 3 grandes vozes femininas da música indie e discretamente jogou um balde de água fria nos veículos midiáticos que tentavam comparar seus trabalhos individuais e rivalizá-los.
As três cantoras ganharam destaque na cena independente mais ou menos ao mesmo tempo e seus caminhos naturalmente se cruzaram durante a carreira, com Phoebe e Lucy abrindo diferentes turnês de Julien em 2016.
Apesar do esforço midiático em incentivar algum tipo de competição entre elas, as três cantoras se tornaram amigas, além de fãs dos trabalhos umas das outras. Uma das coisas que as uniu e eventualmente motivou o surgimento do boygenius foi justamente a insistência em categorizá-las simplesmente como “mulheres do rock”, mesmo que seus estilos musicais fossem diferentes.
Em entrevista para a Under The Radar em 2019, Lucy Dacus ilustrou a importância de um trio como o boygenius e parte do objetivo de sua formação: “Espero que as pessoas vejam nós três e saibam que não existe competição alguma. Você não precisa competir com seus contemporâneos. Você pode fazer algo bom com as pessoas que admira.”
A origem do nome ‘boygenius’
A escolha do nome do trio pode causar alguma curiosidade, especialmente pelo uso da palavra “boy”, de gênero masculino. De acordo com as artistas, a ideia surgiu de um tipo de brincadeira entre elas e faz referência aos “garotos e homens que ouviram dos outros que eram gênios praticamente desde que nasceram”, segundo Lucy.
A ideia remete aos tipos de homem com os quais as três já trabalharam em sua carreira – homens que personificam o arquétipo do “gênio torturado” e que sempre ouviram dos outros que são não só brilhantes, mas também geniais. Do outro lado da moeda, se encontram as mulheres que sempre têm a qualidade de seu trabalho questionada e sentem que precisam trabalhar dobrado para obter o mesmo tipo de reconhecimento.
“As mulheres são ensinadas a se diminuírem,” comentou Julien Baker em entrevista. “Então, quando você é uma mulher e está trabalhando com um produtor ou engenheiro que é um homem, você precisa fazer um prefácio das suas ideias e entregá-las em uma caixa coberta de ‘Sinto muito, essa pode não ser uma boa ideia, é só minha observação…’”
“Se uma de nós estivesse pensando algo do tipo ‘Não sei se isso é bom, provavelmente é horrível’, a reação [das outras] era: ‘Não! Seja o ‘menino genial’ [“boy genius”]! Todo pensamento seu é válido, coloque pra fora’,” conta Lucy Dacus. “Era um modo de fazer as coisas rápido e de maneira confiante.”
‘boygenius’ e ‘the record’
Para o seu EP de estreia, boygenius, Bridgers, Dacus e Baker rejeitaram a presença de qualquer homem e criaram um compilado de seis músicas produzidas por elas mesmas, apoiando umas às outras durante o processo e ouvindo as opiniões e ideias de cada uma.
O projeto foi lançado em 2018 e era o único lançamento do trio até janeiro de 2023, quando elas disponibilizaram 3 novas músicas no EP the record. O retorno do grupo causou um frenesi nas redes sociais após elas aparecerem na capa da Rolling Stone recriando a icônica edição de 1994 da revista, ilustrada pelo Nirvana.
Bridgers, com seus cabelos descoloridos, assumiu o centro da foto, assim como Kurt Cobain, enquanto Baker e Dacus ficaram nos lugares ocupados por Dave Grohl e Krist Novoselic, respectivamente. As três aparecem vestindo ternos tradicionalmente masculinos. Enquanto para o Nirvana a vestimenta serviu como uma ironia aos bons costumes e etiqueta, para o boygenius a peça e a referência ao trio dos anos 1990 reforçam ainda mais suas ideias disruptivas de gênero e reafirmam seu lugar enquanto artistas geniais e capazes, rejeitando as categorias que separam homens de mulheres dentro da indústria.