O ressurgimento da cena emo pode ser notado não apenas na onda do novo pop punk que dominou nomes internacionais como Olivia Rodrigo, WILLOW e Machine Gun Kelly, mas também no cenário nacional com artistas como Day e seu álbum de estreia Bem-vindo ao Clube e a volta triunfal da Fresno com seu projeto INVENTÁRIO. Dentre os gigantes surge mais um: Sebastianismos, com seu segundo disco, Tóxico.

Trazendo alguns dos maiores nomes do rock brasileiro dos anos 2000, Sebastían Piracés-Ugarte – também conhecido por seu trabalho na Francisco, el Hombre – fez de Tóxico um disco do que ele chama de “tropikal punk” ou punk tropicado, que seria um estilo completamente brasileiro de se fazer punk rock. Para esse feito, ele uniu alguns de seus heróis (e dos nossos) que marcaram a cena BR, como Badauí, do CPM22, que canta na festiva “Não Mudaria Nada”; WEKS, do NX Zero, que atua na produção da motivadora “Jogo de Azar”, e a própria Fresno que traz de volta a “sofrência emo” na beleza melancólica do single “Cicatriza”.

Em participação no podcast do Mad Sound, Sebastianismos passou pelo disco em um faixa-a-faixa completo, falou sobre planos para sair em turnê, deu spoilers sobre um novo videoclipe e detalhou cada canção e o contexto em que o Tóxico foi criado, além de refletir sobre o que seria esse tropikal punk e a importância de fazer um álbum de punk rock que tivesse a identidade da cena brasileira. “Nunca gostei muito de que a principal e quase única referência dos diversos movimentos do punk rock eram americanos ou europeus. Acho que é um pouco incoerente cantar rebeldias em outras línguas e outras realidades,” reflete Sebastían. “Tem muita coisa boa que vem dos Estados Unidos e da Europa que me inspirou, influenciou e faz parte da minha vida, mas ao mesmo tempo eu vejo que durante vários anos eu fiz parte de uma cena de punk rock brasileira que a coisa que mais almejava era ser americana. E eu achava isso tão zoado, tão bizarro.”

“Foi quando eu comecei a pesquisar um pouco mais e entendi que o punk é tão latinoamericano quanto americano. Antes de Ramones, antes de Sex Pistols, nos anos 60 estavam lá Los Saicos plantando as sementes do punk rock no Peru, gritando para demolir a estação do trem. Então eu acho que o que é o punk senão um movimento disruptivo que propõe questionamentos, que é contra as autoridades impostas, que é [do tipo] faça tudo nós mesmos porque coloca as mãos nas próprias rédeas do futuro e que propõe através disso uma estética musical de vestimenta que seja disruptiva e nova,” conclui.

Tóxico foi um disco que surgiu de um momento muito delicado na vida de Sebastianismos: a perda de um amigo em meio à primeira onda de COVID-19. O “chacoalhão” causado pelo luto provocou em Sebastían uma reação que ele descreve como um “suicídio pós-contemporâneo”, onde deletou todas as postagens nas redes sociais e improvisou um estúdio em casa onde escreveu “das seis da manhã à meia-noite” todos os dias durante um mês.

O resultado foi um disco que explode em emoções e nos leva por uma montanha russa de sentimentos costurando temas muito pessoais para o artista, mas que também são marca registrada do punk rock, como a dificuldade em se encaixar descrita em “SOS” e um ato de rebeldia contra a opinião alheia em “Se Nem Deus Agrada Todo Mundo Muito Menos Eu”, parceria com Malfeitona. O estado apocalíptico do mundo também é abordado diversas vezes ao longo do álbum, mas ganha mais espaço na sequência excelente de faixas “Todo Dia é o Fim do Mundo” e “Bomba Relógio”. 

“Eu olhei pra esse conjunto de músicas e vi que elas estavam muito alinhadas com o que eu quero fazer e quem eu sou. E a palavra que resumia tudo o que eu estava sentindo era ‘tóxico’,” explica Sebastían. “Eu não quero dizer que ‘tóxico’ seja um ponto final. Pra mim é a identificação de uma parada errada que tem que mudar e eu acho que a gente tem que entender que algo tá errado pra poder transformar isso. Então, constatar que o mundo tá tóxico, que a gente tá tóxico, que tudo tá tóxico, pra mim é uma maneira de enfrentar isso.”

Confira o faixa-a-faixa completo de Tóxico com Sebastianismos no episódio #010 do podcast do Mad Sound.

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