Willow Smith encontrou um novo lado de sua personalidade. Mais conhecida pela ousadia que vem de seu nome todo em letras maiúsculas, WILLOW, a jovem de 20 anos tomou o público de supetão ao lançar o viciante hino de pop punk “t r a n s p a r e n t s o u l” com Travis Barker, do blink-182, em abril. Agora, na metade de julho, a filha mais nova de Jada Pinkett e Will Smith chega com seu quinto álbum de estúdio, lately I feel EVERYTHING.

As iniciais do título formam o acrônimo “life”, ou “vida”, em português, e o disco é um resultado da mistura de emoções que Willow experimentou durante o período de quarentena em 2020 – assim como um mix dos gêneros musicais que ela ouvia e que sentia que “coexistiam de um modo muito bonito”. Pela primeira vez em sua carreira, a cantora abraçou os subgêneros do rock.

Para promover o disco, Willow lançou um show/documentário de mesmo nome onde admite que está numa fase de descoberta e se descreve como “um ser de várias faces, tons e cores”. Para reforçar a importância deste momento de autoconhecimento, ela encerra o projeto com uma performance de seu primeiro single “Whip My Hair”, que apresentou ao mundo uma Willow de apenas 10 anos com muita atitude, confiança e uma voz grande demais para a sua idade. Enquanto tocava um solo de guitarra no hit pop que fala sobre o poder do cabelo, ela raspou completamente sua cabeça, simbolizando o início de uma nova era.

Perto do rock, Willow está em casa. A filha de Jada Pinkett Smith costumava acompanhar a mãe nos shows de sua banda de nu metal, Wicked Wisdom, ainda na infância. Willow presenciou em primeira mão o ambiente hostil que a música pesada pode proporcionar para as mulheres e, particularmente, para as mulheres negras – ela viu sua mãe se apresentar enquanto desviava de objetos sendo jogados contra ela no palco.

Em uma conversa com Jada, inserida no show/documentário feito para promover o novo álbum, Willow revela que presenciar a postura de enfrentamento da mãe para ocupar aquele espaço lhe “deu a razão” pela qual ela faz música. “Eu sempre senti que a música era um lugar de ativismo porque esse era o único jeito que eu a enxergava,” reflete. Sua visão é compartilhada por Jada, que declara: “Foi isso que o metal fez por mim; ele me deu a liberdade absoluta de ser selvagem.” 

Para Willow, também é importante trazer a representatividade das mulheres negras para esse cenário. Em entrevista à Billboard ela revela que quer liderar uma geração de mulheres que “detonem” na música. “Queria que outras pessoas negras soubessem que devemos ser capazes de fazer o que quisermos, de gritar, rosnar e retalhar,” explica. “E com a história do que tivemos que suportar neste país, acho que o rock é um lugar muito perfeito para fazer isso.”

Mãe e filha encontraram no rock um caminho para a liberdade de expressão e a descoberta da identidade – temas que são fortes e recorrentes no lately I feel EVERYTHING. O single de estreia e faixa de abertura “t r a n s p a r e n t s o u l” balanceia a recusa em não aceitar comportamentos desonestos das pessoas ao redor e ao mesmo tempo brinca com a ideia de internalizar esses mesmos comportamentos e não conseguir encarar a si mesmo – imagem expressada no videoclipe oficial.

Em seu documentário, Willow opina que “o pop punk é a irmã mais nova irritante do metal” – buscando entender toda a agressividade, hostilidade e maturidade do gênero mais velho sem conseguir vivenciar os pormenores. Em seu disco, porém, a jovem cantora desconstrói o pop punk lapidado do mainstream e adiciona a ele as influências com as quais cresceu, trazendo um pouco do rock de garagem em faixas como “Gaslight” e “don’t SAVE ME”, onde o arranhado das guitarras é acompanhado por seus vocais guturais e sem polimento – é como ouvir ao ensaio da banda barulhenta do seu vizinho. Para as faixas que não contaram com Travis Barker, Willow fechou um ciclo ao receber Aaron Haggerty, baterista da banda de sua mãe.

A voz crua de Willow é um potente fio condutor durante todo o álbum, soando propositalmente bruta e confrontante. Ela brilha com mais força em faixas como a apaixonante “naïve”, que carrega uma certa lembrança dos primeiros trabalhos do Paramore em seu disco de estreia, All We Know Is Falling. Dúvida e romance também são temas que são explorados com frescor e honestidade, como é possível ouvir no aceno para o blues em “Come Home” e na relaxante “4ever”.

Para criar aquilo que ela chamou de “realeza astronômica do pop punk”, Willow ressuscitou os anos 2000 ao unir Travis Barker e a princesa do gênero musical em questão, Avril Lavigne, em “G R O W” – um hino divertido sobre amadurecimento que poderia ter saído direto do The Best Damn Thing, de 2007. O álbum também abriu espaço para o rap, contando com a participação de Tierra Whack em “XTRA”.

Os grandes dois destaques, porém, vão para as duas músicas mais pesadas do álbum. A potente “Lipstick” carrega traços do grunge e traz os melhores vocais de Willow no disco, além de uma das letras mais brutais e sinceras sobre cura e autosabotagem: “Eu nunca quis só sofrer por dentro / E a dor não sara quando eu estou sempre tentando me esconder”. Em “¡BREAKOUT!” o álbum se encerra com a força total do hard rock e a voz de Willow ampliada através de um efeito megafone, enquanto ela usa sua raiva e não-conformidade para quebrar as barreiras restantes: “Eu estou rastejando para fora desse buraco / Descobrindo o caminho enquanto ando / Com minhas botas bem amarradas / Eu vou chegar lá sozinha / Não quero ser fiel a você”

Na soma dos fatores, há muito pouco espaço para o pop dentro do punk de Willow. Mesmo as faixas mais comerciais do lately I feel EVERYTHING ainda carregam em si uma rebeldia e desprezo pelos padrões que não apela para o público geral, mas sim para os que foram cativados pelo emo dos anos 2000, encontrando afinidade em bandas como Green Day, blink-182 e My Chemical Romance. Apesar das temáticas joviais, a cantora traz referências maduras para seu disco, sem dúvidas influenciadas pelo rock das gerações anteriores que ela consumiu em suas vivências com a mãe. Em pleno 2021, Willow está ajudando a reinventar o pop punk como o conhecemos. 

LEIA TAMBÉM: Descubra Måneskin e a sensualidade agressiva do novo hard rock

Tags: