Willow já disse mais de uma vez que está determinada a ser uma porta-voz para uma nova geração de pessoas pretas no rock. Em seu novo álbum, <COPINGMECHANISM>, ela apresenta uma evolução da sonoridade explorada no disco anterior, lately I feel EVERYTHING (2021), e demonstra grande determinação e amadurecimento dentro do gênero.

Contrariada com a recepção de seu último álbum – que foi rotulado pela maior parte da crítica como “pop punk” -, Willow quis reforçar sua paixão pelo rock e suas várias vertentes; característica que já aparecia no lately I feel EVERYTHING. Apesar do rótulo de pop punk, o disco trazia influências punk, grunge e do rock de garagem, muito mais presentes que qualquer vestígio de pop. “Acho que as únicas faixas mais pop punk eram ‘Gaslight’ e ‘GROW’ [feat. Avril Lavigne]. Até mesmo ‘transparent soul’ era um mundo separado; a ponte tem uma vibe psicodélica esquisita,” aponta em entrevista para a Kerrang!

Em <COPINGMECHANISM> alguns detalhes são consertados e aperfeiçoados para proporcionar uma experiência mais rica dentro do mundo de Willow e os diversos subgêneros da música pesada. Enquanto o álbum anterior soava mais bruto e sem acabamento, o novo projeto foi lapidado com um trabalho mais detalhista de produção e mixagem, calibrando bem o instrumental e os vocais de Willow, que soam mais maduros e confiantes. O resultado é um som claro e limpo, diferente da característica ruidosa do outro disco.

Repleto de referências ao hardcore, punk, metalcore e outras vertentes, <COPINGMECHANISM> utiliza o peso de sua sonoridade para ambientar uma história de decepção amorosa repleta de dor, confusão, raiva e conflitos internos e externos. Em entrevista para a NME, Willow revelou que tentou se manter afastada de narrativas relacionadas ao amor romântico durante toda sua carreira por achar que o tema já tinha sido muito usado, até o momento em que ela própria teve seu coração partido. “Então eu pensei ‘Talvez seja a hora de fazer esse álbum’. E é ele,” conta.

O álbum se inicia com o single “<maybe> it’s my fault”, nos contando um pouco de como Willow e a pessoa que despertou seu interesse amoroso se conheceram. A melodia inicial é otimista, mas as guitarras se tornam pesadas no pré-refrão enquanto Willow sai do tom neutro para gritar as palavras “Eu não sei se consigo te perdoar”. A faixa inteira passa por um turbilhão de altos e baixos enquanto nos apresenta essa relação como algo que já deu errado e finaliza com screamos potentes de Willow dizendo repetidamente “Talvez seja minha culpa”.

É uma ótima faixa de abertura que nos mostra muito do que será encontrado no restante do disco. Tentando se afastar das formas conhecidas de abordar o tema romântico, é visível que Willow tentou fazer um álbum que em sua maioria se desvia das noções pré-concebidas de amor e romance. Ela mistura seus sentimentos de culpa e frustração com uma busca espiritual por sentido e aprendizado em diversos momentos, como na visceral “curious/furious”, onde transforma seu coração partido em uma questão existencial maior que ela mesma. “A vida não escolhe lados / Ganhar ou perder, certo ou errado / É uma batalha que está só na sua mente”, canta no refrão.

Além das referências punk e hardcore espalhadas ao longo do disco, Willow também acena para traços do rock gótico de Evanescence. Tanto em “Falling Endlessly” quanto em “WHY?”, ela faz uso de sobreposições vocais que remetem a corais e transforma sua voz em algo mais soturno, lembrando características dos primeiros álbuns da banda. Willow também investe em um screamo raivoso em “<ur> a stranger” e se joga no lado experimental com o trabalho eletrônico de Yves Tumor na excelente “Perfectly Not Close To Me”.

Além do amadurecimento vocal de Willow, o mais notável em <COPINGMECHANISM> é a riqueza de elementos de diferentes vertentes do rock que podem ser usados na mesma faixa. Uma canção que se inicia soando mais pop punk pode rapidamente se transformar em algo reminiscente do metalcore e depois voltar à calmaria em um piscar de olhos. Essa imprevisibilidade dá ao disco uma característica um tanto futurista, que é presente também nos nomes de algumas canções e do próprio álbum, povoados de caracteres e grafias digitais.

Apesar da inventividade, ainda é difícil reconhecer a marca de Willow em suas músicas ou pescar algum tipo de autenticidade que nos ajude a ligar o som que estamos ouvindo a algo característico dela. É bastante notável, porém, que ela ainda está descobrindo seu caminho dentro do rock e da música alternativa, e o salto dado entre um álbum e outro já foi bastante grande e digno de admiração. Mais preparada do que estava em lately I feel EVERYTHING, Willow vai invadindo a cena alternativa aos poucos, mas com bastante firmeza.