O caminho para ser um músico reconhecido não costuma ser fácil. Além da dificuldade de se destacar em um meio tão competitivo, ainda há os obstáculos pessoais pelos quais todos passam. Antes de ter milhões de streams no Spotify e uma música virais, o cantor britânico Tom Speight passou por muitos altos e baixos. Em visita ao Brasil, país que considera um dos mais importantes pelo sucesso que tem alcançado, Speight conversou com o Mad Sound sobre a jornada até aqui.
Desde criança, com cerca de oito anos de idade, sabia que queria seguir pelo caminho da música. “Eu ouvia os Beatles e depois pegava o violão para tentar compor algo parecido”, lembrou Tom. A influência é muito clara em seu som, mas essa se mistura a outras como Simon & Garfunkel e Elton John. Principalmente nas harmonias e nos vocais dobrados.
“Dizem que não se deve conhecer seus heróis, mas eu conheci e deu certo”. Speight foi estudar música no Liverpool Institute for Performing Arts, universidade fundada justamente por Paul McCartney. Lá, ganhou o prêmio de melhor compositor do ano e se apresentou para o Beatle. “Ele é muito legal e humilde. Muito divertido e carinhoso”, contou.
Nessa época, trabalhava em um supermercado para conseguir juntar dinheiro. O sonho era trabalhar com música em tempo integral. As coisas foram dando certo e o trabalho passou a ser reconhecido. Ele lançou 6 EPs antes do álbum Collide, lançado hoje (12). “Eu meio que fui batendo de porta em porta e pedindo para as pessoas ouvirem minha música. Se você bate em dez portas, uma pessoa talvez te ajude”.
Para Tom, mais de uma porta se abriu. Para citar duas, o cantor abriu shows para artistas como Mumford & Sons e Ed Sheeran. Gravadoras queriam contratá-lo e as músicas passaram a viralizar. O que parecia ser o começo da subida de Tom Speight, rapidamente se tornou um dos momentos mais difíceis da vida dele.
Enquanto gravava, passou mal e teve que ser levado ao hospital. Tom descobriu que tem a doença de Crohn – que causa inflamação e cicatrizes no intestino. Ele teve que passar por cirurgias, uma vez que o órgão estava com úlceras e perfurado.
“A doença atrapalha bastante minha carreira. Eu tenho que ir pro hospital o tempo todo. Muitas vezes minha saúde não está boa o suficiente para eu fazer um show, então tenho que cancelar”, explicou. “E eu devo ser a pessoa menos rock and roll do mundo. Não posso beber, fumar, nem comer coisas muito fortes ou apimentadas”.
Realmente, Tom não tem nem jeito de rockstar. Tímido, carinhoso e quieto, o cantor ainda precisa lidar com as próprias inseguranças. “Acho que o medo de não ser aceito nunca passa. É claro que eu sei que sou capaz e confio na minha escrita. Mas é muito estressante se colocar na frente de todos para ser julgado.”
Mas ele não considera isso uma coisa ruim. “Se você acha que é um rei, então, na verdade, é um idiota. Sentir medo te faz progredir. É uma curva de aprendizado”. Ver o lado bom nas coisas parece ser uma característica comum a Tom Speight. Nos seis meses que passou no hospital pós-cirurgia, conseguiu escrever duas músicas e, segundo ele, “a experiência fez ter energia para gravar um disco inteiro.”
Com Collide, Tom disse só querer passar uma mensagem: “a esperança”. “Uma das frases em ‘Closer’ é ‘The sea is gonna rise up’ (‘O oceano irá subir’). É isso que eu quero que todos saibam. Com esperança e luta, as coisas acabam dando certo”.
Tom, que passou por São Paulo e Rio de Janeiro, disse ser muito agradecido pela recepção dos brasileiros. Ele ainda parece espelhar sua principal característica no povo daqui. “As pessoas no Brasil são respeitosas e caridosas. São pessoas que parecem saber o que é sofrer e por isso aproveitam todos os bons momentos com um sorriso no rosto”. E Tom Speight também.