Texto por Thiago Vidal

Não preciso dizer os clichês de que as relações estão se tornando cada vez mais automatizadas e alienantes, ou que estamos cada vez mais distantes, tudo isso já existe no nosso ideário. Talvez as formas que encontramos de sair dessa redoma seja compartilhando momentos como os que o quinteto de Baltimore ofereceu, durante pouco mais de uma hora tudo o que existiu no Tokio Marine Hall foi um só corpo, uma só voz, uma grande célula que compartilhou a experiência, a troca de energias e toda a intensidade que o Turnstile foi capaz de expressar.

Sequer o primeiro acorde havia tocado e já era possível ver os primeiros crowd surfs da noite, e assim que a banda iniciou “Mistery”, com o refrão divido entre as linhas de baixo que conduzia o coro “and it’s been so long, is all the mystery gone? / and it’s been so long all the mistery” e uma roda formada em cada uma das duas pistas. Sim, vale mencionar que decidiram dividir o espaço em dois setores, uma ideia que só quem nunca frequentou um show de hardcore poderia ter, tão sem sentido que durante o set várias pessoas pularam a grade que dividia o lugar em dois. 

Glow on é inegavelmente o suspiro e um ponto de virada dentro do gênero, já nasceu clássico e a fusão entre a sonoridade do hardcore clássico e elementos mais distantes musicalmente dos riffs distorcidos, cria espaço para “Endless” e “Underwater Boi” coexistirem na mesma setlist, sendo a primeira um som clássico que te leva pra um lugar no meio dos anos 90 e a outra quase uma balada dreamy com um refrão progressivo que sintetiza muito bem a pesquisa feita na criação do álbum de 2021.

Brendan Yates e Franz Lyons são os condutores perfeitos para mostrar que o som que a banda faz é perfeito para dançar, bater, ou pular e o bloco de músicas antigas da set veio com todos esses elementos inclusos. Entre as danças do vocalista e os pulos e spin kicks do baixista a dobradinha “Real Thing”, “Big Smile” e “Gravity”, presentes nos álbuns anteriores da banda mostraram o lado mais clássico do grupo, as raízes do hardcore punk com alguns elementos que já indicavam os rumos que a banda tomaria no futuro.

Daniel Fang ainda preparou um drum solo (é, bem naquele estilo show de banda grande em arena) e arriscou algumas batidas mais características da música brasileira enquanto Freaky Franz se divertia dançando no canto do palco.

Brendan pedia ajuda para cantar os versos calmos de “Alien Love Call”, indicando que a noite chegava no encore e duas músicas era tudo o que restava daquele transe que havíamos entrado uma hora antes. “Holiday” foi cantada em tom de comemoração, os rostos cansados mas felizes, sorrisos e (muito) suor diziam tudo sem uma só palavra ser dita sobre o que foi a noite. A preparação para o momento final partiu de um pedido do vocalista para que amigos se levantassem nos ombros.

“T.L.C” foi uma explosão, talvez a música mais esperada da noite que carrega as estrofes mais simples e diretas do grupo. “I want to thank you for letting me see myself / I want to thank you for letting me be myself” versos cantados em uníssono e de forma ensurdecedora, o último esforço entre essa fusão que agora, prestes a se desfazer, mostrava por uma última vez à que veio e toda a paixão envolvida.

Turnstile é uma energia meio inexplicável. Talvez o que chegue mais próximo de sintetizar o que essa banda significa esteja lá, na letra, escrito e salvo para posterioridade, a busca por conexão, menos solidão, a fugaz euforia de ser, estar e pertencer. Nos tirar da dormência, dar sentido a uma vida em conjunto, reconhecer a beleza que é estar em comunidade, essas pouco mais de uma hora foram isso, e eu tenho certeza que todas as pessoas saíram daquele salão com marcas e memórias inesquecíveis.

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