A diversidade musical sempre foi um ponto a ser incentivado no Lollapalooza, mesmo que suas primeiras edições não possuíssem uma grande variedade de gêneros musicais. Em sua primeira edição no Brasil, por exemplo, aqueles que não quiseram ver o Foo Fighters no primeiro dia tiveram a opção de assistir Calvin Harris, enquanto os que não eram fãs de Arctic Monkeys puderam curtir Racionais MC’s no dia seguinte.
O festival que chegou ao Brasil em 2012 com a proposta de atrair em sua maioria os fãs de rock alternativo e indie rock foi crescendo a ponto de conseguir expandir seu formato e ganhar uma nova cara ao longo dos anos. Em 2022, a identidade inicial do Lollapalooza se tornou não só praticamente irreconhecível como também parece ter sido banalizada e até mesmo boicotada dentro da line-up.
Para um evento que já recebeu Pearl Jam, The Killers e The Black Keys como atrações principais da mesma edição, o rock e suas variantes quase não aparece mais em meio a avalanche de outras prioridades. Com a exceção de The Strokes, que foi o grande headliner da sexta-feira, 25, e o Foo Fighters, que deveria atrair o maior público do domingo, 27, a música pesada recebeu muito pouco espaço dentro do Lolla e lutou com horários desfavoráveis mesmo para suas atrações de grande potencial.
Nomes notáveis como Turnstile e Alexisonfire entregaram ótimas performances e fizeram sucesso nas Lolla Parties, mas reuniram público pequeno no festival por conta de seu local na line-up. Enquanto o Turnstile se apresentou às 14h15 de uma sexta-feira (dia útil para a maioria dos brasileiros), o Alexisonfire precisou dividir a atenção com Miley Cyrus, que se apresentou em um dos palcos centrais e reuniu a maior plateia da noite. Até mesmo a Fresno teve seu set de domingo reduzido em 20 minutos por conta da chuva – coisa que não aconteceu na sexta-feira com Pabllo Vittar.
Dez anos após seu início em solo brasileiro, o Lollapalooza não tem mais como foco o público que costumava atrair. Com o passar do tempo, ele se tornou um evento feito para o público jovem e, portanto, precisa se manter atualizado com nomes que estão fazendo sucesso com essa galera. Em uma tentativa de não abandonar completamente a mão do rock, o festival convidou novos artistas em ascensão na cena alternativa, como JXDN, e deu destaque para nomes do mainstream que têm investido nas guitarras, como é o caso de Machine Gun Kelly e a própria Miley.
Essas duas atrações inegavelmente chamaram públicos maiores e entregaram um pouco mais de peso em suas músicas pop, mas ainda assim são nomes do pop. Mesmo com a performance impecável de rockstar que Miley Cyrus realizou no palco, a verdadeira resistência do post-hardcore estava presente bem ao lado, em um palco mais afastado, longe dos olhares do público que admirava a força das guitarras em canções do tempo da Disney, mas não teve a chance de conhecer a música pesada de verdade.
Querendo ou não, os frequentadores do Lollapalooza Brasil ouviram rock, mas através de nomes que não são originalmente dele. Mesmo atrações de gêneros diversos como Doja Cat, Black Pumas e Emicida investiram no barulho das guitarras em alguns de seus sucessos – mas sob a máscara da atualidade se esconde a dolorosa realidade: a organização do festival falhou em promover os verdadeiros nomes da cena para novos públicos.
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