O Alexisonfire não teve pressa ao fazer seu retorno 13 anos após seu último disco, Old Crows / Young Cardinals (2009). Em Otherness, lançado no último dia 24 de junho, o grupo retorna com uma melodia calma, mas pesada quando abre o disco com “Committed to the Con”. Sem pressa para apresentar os vocais de George Pettit que tanto fizeram falta, a banda caminha a passos calmos com sua volta. Porém, quando seus vocais finalmente surgem, a letra raivosa e crua nos atinge como se a banda nunca tivesse ido a lugar algum.
A segunda faixa, “Sweet Dreams of Otherness”, o single principal do álbum, vem como um refresco, algo já conhecido, porém com a força de algo novo, algo mais maduro. Ao passar duas canções deixando a mostra toda a indignação e fúria em frente ao mundo em que vivemos, o grupo canta em “Sans Soleil”, terceira faixa do álbum, a guerra que vive no íntimo de cada um de nós. “It’s easier to love someone else / Than it is to be kind to yourself / What’s harder is to let someone in” (“É mais fácil amar outra pessoa / Do que ser gentil consigo mesmo / O que é mais difícil é deixar alguém entrar”), eles cantam em um tom autodepreciativo, mas que de um jeito próprio do grupo, tem um final feliz: “You loved me when I couldn’t love myself” (“Você me amou quando eu não conseguia me amar”), canta Dallas Green, com sua voz mais madura e encantadora até agora.
Otherness traz temas como desânimo, decepção, isolamento e amor – todos subprodutos da pandemia de covid-19. Em “Conditional Love”, por exemplo, o grupo explora, de forma brutal, uma das configurações que o amor incondicional pode apresentar: frio e pesado e até mesmo como um fardo. O som do grupo, além dos instrumentos e vocais, se transformam junto dos temas.
“… Blue Spade” e “Dark Night of the Soul” vêm como um soco no estômago (e no ouvido). Retomando as raízes do som pesado que os tornou famosos, agora o grupo explora esse lado de forma mais cautelosa e até mesmo mais racional, características que podem ser explicadas pelo amadurecimento dos integrantes e da banda como um todo, mostrando que o tempo foi gentil com Alexisonfire.
A sombria “Mistaken Information” nos expõe ao mundo que vivemos hoje que funciona à base de algoritmos. “You’re speaking like a machine / With zeros in your eyes / You’re lost in the echoes of what came before / You’re speaking like a machine / And you terrify me / You’ve given those people what they think they need” (“Você está falando como uma máquina / Com zeros em seus olhos / Você está perdido em ecos daquilo que veio antes / Você está falando como uma máquina / E você me assusta / Você deu àquelas pessoas aquilo que elas acham que precisam”). A letra nos prende em um ciclo de consciência de autopercepção que questiona tudo à nossa volta, enquanto os instrumentos nos mantém em uma meditação aterrorizante.
“Survivor ‘s Guilt” e “Reverse the Curse” nos acordam desse estado meditativo com um empurrão que nos deixa mais próximos da beirada do precipício, apenas para nos balançar o suficiente para agirmos e seguirmos nosso caminho. “Don’t just sit there and wait around / Can’t you see that I’m ready now” (Não fique aí sentado esperando / Você não está vendo que estou pronto agora”), canta Dallas em “World Stops Turning”, última canção do álbum. Não importa onde estamos indo, desde que o caminho seja real, verdadeiro. E se tivermos acompanhados, melhor ainda. “’Cause if the world, the world stops turning / Our love will keep on burning” (“Porque se o mundo, o mundo parar de girar / Nosso amor continuará queimando”).
Delicado, real e brutal, Otherness é o diamante bruto de Alexisonfire que foi sendo cravado sem pressa durante anos para se apresentar agora como a rocha que mantém o grupo como uma das bandas mais consistentes, maduras e importantes do hardcore.