Se o rock no Lollapalooza Brasil sofreu com público escasso e horários desfavoráveis, pouco se tem a falar sobre o R&B, que encontrou na cantora Kehlani sua única representação. A performance da artista norte-americana foi o último suspiro de um gênero que tem pouca representatividade em grandes festivais e, devido a isso, atrai um público muito específico.
Delegada ao horário das 20h30 no domingo, Kehlani ocupou o Palco Adidas, que se localiza na extremidade esquerda do Autódromo de Interlagos, longe dos palcos principais Onix e Budweiser. Estes se localizam no centro, onde há um maior acúmulo de pessoas devido às várias ativações e atrações do festival, e acabam atraindo curiosos mesmo que estes não tenham grande conhecimento ou apreço pelos artistas que estão se apresentando.
Além da localização excludente, a cantora precisava enfrentar a difícil missão de competir com o Foo Fighters, que seriam os grandes headliners da noite e deveriam juntar um público numeroso para encerrar os três dias de festival com uma performance de 2h de duração.
A tragédia da morte do baterista Taylor Hawkins impediu a performance da banda no Brasil, o que resultou em um show de tributo com diversos nomes da cena nacional. A perda da maior atração da noite contribuiu para diminuir o fluxo de pessoas que normalmente estaria reunida para se despedir do evento, deixando o Autódromo mais vazio que o normal para um dia de encerramento.
Kehlani cantou para um grupo seleto de fãs no domingo à noite. O volume de pessoas foi bem menor que o de sua performance de sexta-feira no Onix Day, mas reuniu um grupo mais apaixonado e participativo. Para compensar os números, os fãs prepararam surpresas para músicas específicas, como levantar balões na cor laranja e cartazes com os dizeres “De Oakland para o mundo #VocêConseguiu”. Eles também foram privilegiados com a inclusão de “Hate The Club” na setlist por terem feito a música chegar ao primeiro lugar do iTunes Brasil – feito que, segundo a própria Kehlani, não foi atingido sequer em seu país de origem.
A cantora entregou um set de 1h com lindos vocais melodiosos e não pareceu abalada pelo público pequeno – na verdade, demonstrou ter consciência de que tinha reunido poucas pessoas e comentou que isso era uma consequência de fazer música R&B. “É por isso que morro de medo de me apresentar em festivais. Sinto que as pessoas vêm para cá só para fazer isso”, disse enquanto imitava a plateia pulando com as mãos para o alto.
O comentário pode também ter sido uma indireta para o DJ Martin Garrix que atrasou a performance de Kehlani ficando 5 minutos a mais no Palco Onix. Como o som de ambos os palcos podem ser ouvidos simultaneamente, as atrações precisam esperar o fim do show oposto para começarem o seu. Garrix reuniu grande parte do público das 19h com um set de música eletrônica feito especialmente para fazer a galera pular.
Sem pulos, mas com muita voz e presença de palco, Kehlani se apresentou em uma noite feita para realizar o sonho dos fãs e que, infelizmente, não beneficiou o seu trabalho de artista com a possibilidade de introduzi-lo a novos públicos. Mesmo trazendo Iza e Ludmilla para o palco, participações que teriam ensandecido um público maior, a performance da cantora passou, de modo geral, despercebida, o que prova que ela tinha razão em seu discurso: os grandes festivais não foram feitos para beneficiar o R&B.
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