Uma das primeiras coisas que Emicida fez ao subir no palco do Lollapalooza Brasil foi desejar boa noite. A segunda, dizer o quanto estava com saudades. A terceira, incentivar os jovens de 15 a 18 anos a tirarem o título de eleitor. A quarta foi dizer ao presidente Bolsonaro que fosse “tomar no cu”.

A cena nacional do Lollapalooza em peso tem adicionado pautas políticas em seus shows e com Emicida não poderia ser diferente. Não quando todas as suas músicas são um verdadeiro manifesto à cultura negra e uma crítica incansável ao sistema e ao racismo perpetuado nas várias esferas do poder político.

Na noite de sábado, Emicida incendiou o Palco Budweiser com uma performance em dois atos repleta de muito jogo de luzes e uma estética semelhante às vidraças de catedrais compondo a estética dos três telões. O rapper conduziu o primeiro ato sozinho, pedindo a ajuda do público para balançar as mãos e bater palmas, e a noite se encheu com a força de sua voz e o poder da sua presença de palco.

Apesar do peso de seu discurso e a homenagem à cultura preta e pobre trazendo elementos de matriz africana e do funk para suas músicas explosivas, o público para o qual Emicida cantou no festival é, em sua maioria, desconexo dos temas apresentados no palco. A plateia que se acumulou ao longo do dia para aguardar Miley Cyrus se mostrou prestativa em ajudar com gestos e ovações, mas não demonstrou conhecer a maior parte do trabalho do rapper, já que não se identifica com o cenário que está sendo cantado.

A exceção se deu em algumas faixas do Ato II que se popularizaram através do sucesso do álbum AmarElo. A multidão cantou junto e vibrou com entusiasmo quando Majur subiu ao palco para cantar a faixa-título, e também durante a última música “Principia”, quando o rapper encerrou a performance chamando o Pastor Henrique Vieira para entregar pessoalmente o sermão que entrega durante a versão de estúdio.

Esses não foram os únicos nomes a enriquecer a noite ao lado de Emicida. O artista recebeu Rael para cantar “Levanta e Anda” e também Drik Barbosa para iluminar o palco com sua beleza e energia contagiante em “Luz”. O rapper ainda mencionou que tinha assistido o show de Doja Cat em casa na noite passada e que “se ela tivesse nascido no Brasil, certamente ela ia estar com nóis na Batalha [de rima] do Santa Cruz uns 15 anos atrás”.

A forte presença negra no palco não se reflete na mesma intensidade na plateia do festival, que segue sendo um evento elitista e de difícil acesso para as classes mais pobres. Para o público presente, porém, Emicida falou sobre o poder unificador da música e lembrou a todos a importância do afeto e da humanidade ao pedir que seus espectadores se abraçassem.

Ao final de sua performance, o artista tirou um momento para homenagear o baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, que faleceu no último sábado, 25. Uma foto do músico foi colocada no telão e Emicida mandou boas energias para a família de Hawkins. O rapper vai participar de um ato em homenagem ao Foo Fighters no domingo, 27, junto a outros nomes da cena nacional.

Emicida no Lollapalooza Brasil 2022. Créditos: Marcelo Rossi/Lollapalooza Brasil
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