Jup do Bairro entrou no palco do Lollapalooza Brasil vestida para entregar uma performance inesquecível: com o nome no cabelo e um vestido de ar real, a artista convidou o público para “imaginar o inimaginável” durante a apresentação, realizada neste sábado, 27.
Apresentando o EP Corpo Sem Juízo (2020), Jup trouxe uma performance marcante, capaz de mesclar fúria e leveza com maestria: a primeira metade do show foi reservada para uma verdadeira porradaria de músicas intensas da vivência de um corpo trans preto na periferia, o restante da apresentação mostrou uma Jup mais brincalhona, que não abandona o teor político da sua presença – e dos seus – naquele palco.
Dona de uma performance contundente, na qual as dores da própria alma e carne são exorcizadas em gargalhadas e gritos de choro no palco que não podem simplesmente ser classificados como mero recurso teatral: é a arte como um monólogo de resistência que encontra sentido e amplitude na plateia e, principalmente, em todos que não estavam nela.
No ambiente elitista do festival, um evento com público e line-up majoritariamente branco, com ingressos vom valores que ultrapassavam mil reais por dia, ter uma performance poderosa de “Luta Por Mim” no Lollapalooza não é apenas representatividade, mas o convite para uma reflexão mais profunda, para além de prestigiar o show. É um convite, lembrete e desafio, tudo ao mesmo tempo, para uma mudança de conduta, pessoal e coletiva, desde a consciência de classe e racial até a reflexão sobre os afetos negados aos grupos oprimidos da sociedade.