Taylor Swift lançou The Tortured Poets Department, seu 11º álbum de estúdio, na última sexta-feira, 19.

O álbum classificado como synth pop, contém onze faixas produzidas por Jack Antonoff, que trabalha com Swift há uma década, e cinco faixas produzidas por Aaron Dessner, que começou a trabalhar com Taylor no folklore em 2020.

Expectativas para o álbum

Assim que o mundo soube que ganharia mais um álbum inédito de Taylor, teorias acerca da sonoridade, temas e origem do título começaram a se formar.

Mas, a maior expectativa se devia ao fato de ser o primeiro álbum após o término com o ator britânico Joe Alwyn, relacionamento mais longo e estável que Taylor Swift já teve – e todos amam quando ela compõe sobre os sofrimentos de sua vida amorosa.

Com uma divulgação misteriosa, sem singles e playlists oficiais na Apple Play dedicadas aos cinco estágios do luto, que sugeriram uma possível temática para o álbum, a maior parte dos fãs esperava um pop melancólico com um lirismo que justificasse a alusão a poetas (emocionalmente) torturados no título.

The Tortured Poets Department

O álbum ficou disponível na madrugada de sexta-feira, enquanto a estreia do clipe de “Fortnight (feat. Post Malone)”, faixa que abre o disco, foi marcada no Youtube para o mesmo dia e no Instagram oficial da artista apareceu uma nova contagem regressiva para uma surpresa às 3h da manhã no horário de Brasília. Mas, o que viesse em seguida não importava ainda, pois o momento era de ouvir The Tortured Poets Department.

Ao comparar com os trabalhos anteriores, o novo álbum de Swift é no geral uma combinação dos vocais suaves de folklore (2020) e evermore (2020) e a produção de Midnights (2022), o que dá uma sensação de mais do mesmo.

Quanto às letras, o álbum traz mais músicas dedicadas a um caso breve que teve com Matty Healy em 2023 depois de terminar com o Joe Alwyn do que ao fim do relacionamento de seis anos. Nele, Taylor Swift reforça a vontade de casar, a incapacidade de superar totalmente algo que ela sentira ser para sempre, e como ela está cansada de algumas consequências de ser uma pessoa muito famosa, mesmo amando e querendo permanecer nos holofotes.

Por dentro do álbum

O pop gostosinho de “Fortnight (feat. Post Malone)” abre o álbum com um caso breve de infidelidade que diz pouco sobre o que esperar do disco como um todo.

A faixa-título, “The Tortured Poets Department”, que os fãs supõem referenciar “The Tortured Mens Club” um grupo que o ex-namorado da cantora, Joe Alwyn, tem com amigos, acabou sendo sobre Healy. Apesar da batida envolvente e bons vocais, tem uma das letras mais fracas da carreira da cantora – que é tão conhecida por suas boas composições – e poderia facilmente ter ficado de fora do álbum.

A tracklist segue na pegada pop com “My Boy Only Breaks His Favorite Toys”, que traz um refrão daqueles que grudam na cabeça, e “Down Bad”, em que ela começa a falar sobre como se sentiu após o fim de um relacionamento, e apesar de ser a melhor das quatro primeiras, parece um descarte do trabalho anterior, Midnights.

Dentre as faixas produzidas por Aaron Dessner, está “So Long, London”, em que o disco finalmente começa a ter a vibe que o título sugere. A melodia ameaça ter uma explosão, mas continua no mesmo compasso sempre, um paralelo com o namoro com Alwyn, que não saiu do status de namoro para casamento, como ela desejava.

“But Daddy I Love Him” tem um storytelling que parece ter saído da Taylor Swift do Speak Now (2010) depois de ouvir o Reputation (2017) e descobrir que pode desagradar as pessoas. Com direito a pegadinha/alfinetada nos fãs, que criticaram muito o envolvimento dela com Matty Healy, ela admite, metaforicamente, que sabe muito bem onde está se metendo e que isso é problema dela. 

Ainda sobre como ela lida com a vida pública, Taylor ri da própria desgraça em “I Can Do It With a Broken Heart”. A canção sonoramente mais feliz do disco, aparenta ter sido feita para viralizar no TikTok com seus versos sarcásticos sobre como ela está sofrendo, mas as outras pessoas não desconfiam, pois ela parece radiante e extremamente produtiva. 

Em uma das canções mais comentadas nas redes sociais, “Who’s Afraid of Little Old Me?”, Taylor canta com raiva e finalmente ouvimos agudos em um álbum que é feito de vocais mais contidos, dando mais nuance sonora e lírica ao álbum. 

Em “Fresh Out The Slammer”, ao comparar o ex-relacionamento a uma prisão, da qual finalmente está liberta, é a primeira das músicas mais sensuais, junto com “Guilty as Sin?” em que numa melodia deliciosa ela fantasia com alguém que ela está apenas conversando, e “I Can Fix Him (No Really I Can)”, na qual ela acha que vai consertar um bad boy, mas ao final, entende que não.

A esperada colaboração com Florence + The Machine, “Florida!!!”, justifica os pontos de exclamação e traz um pouco de novidade na produção. Aqui, a cantora expressa a vontade de escapar para algum lugar, a fim de marcar um recomeço. Apesar da música se beneficiar muito da participação de Florence Welch, esta parece ter segurado o alcance vocal para se ajustar ao de Taylor, e a vontade que fica é de ouvir uma versão completamente cantada por Florence.

Na segunda metade do álbum os destaques de composição ficam para a belíssima “lolm”, que em alguns momentos lembra a melodia de “White Horse”, canção do Fearless (2008) que compartilha com ela a temática de desilusão em relação a um amor idealizado, e para “The Smallest Man Who Ever Lived”, em que a Taylor demonstra mais uma vez o seu talento para massacrar uma pessoa verbalmente.

Já quase no final, “The Alchemy” marca a primeira música dedicada ao jogador de futebol americano Travis Kelce, namorado atual de Taylor Swift. Com referências óbvias ao esporte e a final do último Superbowl, em que Travis foi campeão com os Chiefs, é uma canção bonitinha, mas meio bobinha quando comparada a outras canções românticas de Taylor.

A escolha de encerrar o álbum com “Clara Bow” é muito acertada. Em uma melodia que parece saída de evermore, Swift reflete sobre a fama e a passagem do tempo, colocando em perspectiva seu próprio sucesso, que daqui uns anos será apenas uma parte da história.

The Anthology

A contagem regressiva acabou e o sinal de “dois” (ou sinal da paz) que Taylor Swift vinha fazendo publicamente nos últimos shows de sua turnê finalmente ganhou um significado.

Se tratava do lançamento do álbum duplo intitulado The Tortured Poets Department: The Anthology, contendo mais quinze músicas, sendo doze faixas produzidas por Aaron Dessner.

Logo na ótima “The Black Dog”, fica o questionamento do porquê ela não faz parte do álbum standard. Porém, ela é seguida de “imgonnagetyouback”, que não adiciona muito ao disco e é muito inferior à sequência excepcional que vem depois.

“The Albatross”, se assemelha ao evermore tanto em produção como em narrativa, em “Chloe or Sam or Sophia or Marcus” e “How Did It End” Taylor alinha as melodias e a vulnerabilidade necessária para contar essas histórias, que são dignas de um álbum que clama ser o departamento dos poetas torturados.

Há um quebra na tristeza com “So High School”, um pop rock que novamente referencia com versos juvenis o relacionamento dela com Travis Kelce, que muitos consideram similar a um filme adolescente de comédia romântica. 

“I Hate It Here” volta com a sonoridade melancólica, e traz um conceito ótimo de escapar em devaneios quando se está infeliz com a realidade, mas desliza na composição ao querer ser politicamente correta, sendo que ela poderia só não ir por esse caminho.

Quando menos se espera, há uma canção nada sutil sobre toda a briga com Kim Kardashian em 2016, “thanK you aIMee”. Completamente deslocada e desnecessária de fazer parte desse álbum. Caso mudasse a produção, Taylor poderia fingir que é um corte do Reputation e colocá-la na regravação nas faixas bônus From The Vault.

Depois desse estranhamento, há novamente uma bela sequência até o fim do álbum começando com “I Look in People’s Windows”, em que ela demonstra novamente a dificuldade de superar algo que não existe mais. 

Mas, é com “The Prophecy”, “Cassandra” e “Peter” que o álbum ganha profundidade com novas abordagens inspiradas em conceitos e figuras mitológicas e literárias. A ideia de estar fadada a um destino, quase que como uma maldição disfarçada de bênção, a maldição explícita de nunca ser levada a sério, e o acreditar na mudança de alguém que faz promessas, mas continua sempre cometendo os mesmos erros, como Peter Pan que prefere nunca amadurecer a ficar com Wendy.

“The Bolter”, sobre alguém que tem dificuldade de se abrir em relacionamentos e está sempre fugindo de conexões mais profundas, é outra que pode ser comparada com as canções presentes no evermore. Já a graciosa “Robin” traz a infância como tema, o que é recorrente em alguns álbuns anteriores de Taylor.

E após trinta músicas, vem “The Manuscript”, em que Taylor reflete sobre a cura emocional através da expressão criativa, como foi para ela dirigir o clipe da versão de dez minutos de “All Too Well” durante a regravação de Red (Taylor’s Version) (2021) e o conceito de morte do autor, numa metalinguagem com o próprio álbum que estamos ouvindo, ao dizer que agora essa história não é mais só dela.

Considerações

Ainda digerindo as primeiras dezesseis músicas, torna-se cansativo ouvir e absorver mais quinze. Um álbum com duas horas de duração é difícil de se ouvir e realmente apreciar ininterruptamente. 

Desde o debut em 2006, Taylor Swift lança álbum a cada dois anos mais ou menos, sendo que nos últimos quatro anos ela lançou quatro álbuns inéditos e quatro regravações, está no segundo ano da turnê de maior sucesso da sua carreira (e da indústria musical) e ganhou dois Grammys de melhor álbum do ano.

Taylor Swift está no auge e tudo que ela tem feito tem sido aclamado. Uma bilionária que está acostumada a conseguir tudo o que quer perde um pouco o senso de limite em The Tortured Poets Department: The Anthology..

Inclusive, é interessante mencionar que nas regravações, apesar de adorarmos as faixas From The Vault, em que ela finalmente coloca no mundo alguns descartes do álbum em questão, fica claro que com exceção de uma ou duas, elas realmente faziam sentido ser tiradas dali na época do lançamento dos álbuns originais.

The Tortured Poets Department: The Anthology tem ótimas músicas, boas letras, melodias lindas. Mas, é um álbum longo e cansativo, sem nada de muito diferente do que ela já fez. A impressão é que ela considerou mais a composição do álbum do que uma parte muito importante do trabalho criativo: a edição, a limpeza dos excessos. 

Isso não significa que as músicas são ruins ou de baixa qualidade, mas o conceito que normalmente vemos nos álbuns da cantora não está aqui. O disco não tem um conceito bem estruturado e falta coesão temática e sonora, o que é realmente difícil de manter em 31 faixas. Com uma boa curadoria, abrindo mão de cinco a dez músicas, poderia ser um álbum muito superior. Taylor Swift nos entregou tudo, mas talvez o melhor fosse entregar só o essencial.