A felicidade enquanto nostalgia é um tema frequentemente abordado na discografia de The Maine. Há 14 anos na estrada, a banda do estado do Arizona tempera suas músicas com odes à juventude e tudo o que ela traz, seja alegria, tristeza, erros monumentais ou noites de bebedeira com os amigos que se transformam em histórias mágicas. Para The Maine, cada pequeno detalhe de um momento merece ser imortalizado em uma música.

Em seu oitavo disco, XOXO: From Love & Anxiety In Real Time, a banda nos leva em uma viagem de verão. Indo na contramão da maioria de seus trabalhos anteriores, o novo disco é ensolarado desde sua capa amarela com um brilhante círculo vermelho até o som recheado de pop e groove, trazendo os hits perfeitos para a estação mais quente do ano. 

A faixa de abertura “Sticky” é um trabalho delicioso de pop rock chiclete que apresenta o disco com uma onda de energia e diversão, tendo cativado as rádios dos Estados Unidos com seu refrão contagiante e, não ironicamente, grudento. Mesmo com muitos anos de carreira, o hit de sucesso tomou proporções inéditas na história de The Maine, finalmente inserindo a banda no mainstream – que até então não tinha lhes concedido espaço.

A nova roupagem brilhante e solar é território desconhecido para a banda e para os fãs, mas durante as dez faixas de XOXO: From Love & Anxiety In Real Time, The Maine provou que consegue experimentar sonoridades inéditas sem perder sua assinatura e sua identidade. Tendo carreira consolidada no rock alternativo e no emo pop independente, a banda mistura essas influências a elementos do groove, como na viciante “Lips”, e até mesmo o new wave mais pesado, que aparece na potente “High Forever”.

O disco inteiro é uma jornada entre as alegrias e tristezas do verão, sendo permeado pelo gosto agridoce que grande parte dos álbuns de The Maine deixam em nossa boca. Até mesmo as memórias que brilham mais forte são carregadas com um tipo de nostalgia melancólica inerente a todos os momentos bons que sabemos que não poderemos viver de novo ou todas as coisas que gostaríamos de ter feito de modo diferente. 

O maior exemplo disso talvez seja a dicotomia entre as faixas “Love In Real Time”, que aparece primeiro trazendo a sensação inebriante de estar vivendo um novo amor e o verso aconchegante “Eu nunca me senti tão confortável em pleno verão / Trabalhando no nosso amor em tempo real”, confrontada mais para o fim do disco com “Anxiety In Real Time”, que apresenta o outro lado da moeda. Esta é uma faixa mais contemplativa e se conecta à primeira com os versos “Bem-vindo à minha ansiedade me atacando em tempo real / Eu nunca senti um frio tão congelante em pleno verão”.

Como o próprio título sugere, os momentos de amor e ansiedade coexistem o tempo inteiro durante o verão de The Maine. Enquanto parte do disco traz faixas para dançar e celebrar, como a eletrizante “Dirty, Pretty, Beautiful”, estas também são intercaladas com momentos adocicados de romance, como em “April 7th”, e mensagens de esperança para os momentos difíceis, como no hino para as multidões “If Your Light Goes Out”.

Os fãs mais antigos também vão encontrar acenos a álbuns anteriores em temáticas recorrentes, como o apelo para a autenticidade e a aceitação em “Pretender”, que facilmente poderia ser incluída no disco de 2011, Pioneer, ou nas transições entre faixas e a doce melancolia da mutabilidade da vida, explorada a fundo no Lovely Little Lonely (2017).

Após um ano como 2020, o que The Maine trouxe para o verão de 2021 foi uma chance de celebrar a vida sem os grandes questionamentos existenciais que nos assolam diariamente e que foram pontos-chave de seu trabalho ao longo dos anos. Depois de eternizar suas várias fases de crescimento ao longo dos sete primeiros álbuns, o oitavo traz uma oportunidade de apenas parar e viver o momento, absorvendo quaisquer sensações que a vida tenha a nos trazer porque, como é dito na faixa de número 4, “tudo é inevitavelmente temporário”.

A temporalidade dos estados de espírito, dos momentos, das emoções, e até mesmo das estações é o que torna o trabalho de The Maine tão ironicamente atemporal. Com maestria, a banda pinta quadros de memórias e vivências, colecionando discos que se mostram grandes brindes à vida e a perenidade das coisas efêmeras. O disco se encerra com a tocante “Face Towards The Sun”, uma faixa sobre o luto e a perda, além da sensação de impotência e impossibilidade de se lutar contra o tempo e a ordem natural das coisas, mas que, assim como o restante do álbum, apresenta também um lado mais positivo – o de que existe um novo começo no fim do caminho e que “tudo é exatamente como deveria ser”.

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