Amar música e encontrar em uma artista uma admiração e devoção tão infinita e humilde pela arte parece ser um caso de sorte digno de estar escrito nas estrelas. E quem também se encantou pelo brilho de Charlotte Clark, foi ninguém menos que Harry Styles, a convidando para integrar sua banda, e levando a vida de Clark à um novo capítulo, que coincidiu com um período chave de seu crescimento como artista e pessoa, tomando as rédeas de sua vida e do protagonismo de sua própria narrativa.

E é desse capítulo que Charlotte irá falar em seu novo EP, Warm Weather, que chega no dia 05 de fevereiro de 2021, mas ela já adianta seus bastidores, raízes e notas em uma entrevista para o Mad Sound.

Mad Sound: “Disarray” e “Warm Weather” foram lançadas agora, e o EP cheg aem breve. Como você está se sentindo com esses lançamentos e a resposta do público?

Charlotte Clark: É muito bom. Eu tenho agora um jeito diferente de encarar lançar músicas do que costumava ser antes. Eu costumava ter uma expectativa enorme, não sei, eu queria muito que desse certo, eu me importava muito com isso. E agora com essas músicas, elas significam tanto pra mim que isso é o suficiente pra mim, independente de como seja o desempenho delas. Então qualquer tipo de resposta é tão boa quando você não tem uma expectativa você sempre está feliz com o que recebe. Eu estou muito agradecida e muito animada para fazer mais música. É, é tão legal, eu adoro fazer música [risos]!

MS: Desde o EP The Shadow In My Company até o novo EP Warm Weather que chega em breve, o que você acha que mais mudou em você como artista, e o que você acha que continua semelhante?

CC: Então, eu acho que é algo que nunca se mantém a mesma coisa. E eu acho que se você perguntar para qualquer músico, ele vai falar a mesma coisa porque você só cresce pelo que você passa, eu acho. E você experiência várias coisas diferentes na vida que mudam sua percepção de tudo. Eu acho que na minha última leva de músicas, eu acho que foi um lado da minha personalidade quase e tinha algumas músicas tristes de amor, eu tinha toda uma persona sensitiva. E agora, eu acho que eu, por mais que eu não queria admitir naquela época, eu queria ser cool [risos] E agora eu realmente não ligo, e eu só quero fazer algo que seja verdadeiro pra mim, e é o único jeito de algo funcionar e te levar para o caminho certo. 

MS: E falando sobre “Disarray”, uma música ótima e nossa muito certeira na composição aliás…

CC: Aw, sério?

MS: Sim! E eu soube que você percebeu depois de um tempo que essa música era sobre um relacionamento passado e sua infelicidade dentro dele. Você se lembra de algumas músicas que te ajudaram a superar um coração quebrado, e outras músicas que te ajudaram a sentir essa dor, porque, afinal, às vezes a dor é necessária para curar.

CC: Eu sou sempre muito atraída por grandes músicas de vozes femininas poderosas. Quando eu estava passando por esse tempo escrevendo “Disarray” e outras músicas, eu fui na festa de aniversário de um velho amigo e nós estávamos sentados nessa boate bem pequena, e ninguém estava dançando, estava meio morto. E a música que tocou foi “Young Hearts Run Free”, você conhece essa música? E todo mundo meio que começou a dançar devagar e eu comecei a prestar atenção na letra da música pela primeira vez, e você sempre ouve essas músicas antigas que são meio agitadas mas não presta atenção na letra.

E essa música é sobre ter seu coração quebrado tragicamente: “Qual é o sentido de compartilhar esta única vida / Terminando sempre sendo uma perdida e solitária esposa”, e eu fiquei “Meu Deus!”, mas é tão empoderador ao mesmo tempo, no refrão, tem tanta esperança. Então eu sou muito atraída por músicas assim: que soam muito animadas e leves, mas quando você presta atenção ela fala de coisas muito verdadeiras, e eu acho que tem algo muito revitalizador em dançar ao som de músicas bem tristes mas que te fazem muito bem em um sentido. 

MS: Você preparou alguma música do EP este ano, ou todas são materiais de anos anteriores?

CC: Eu terminei esse ano, mas é algo que está sendo feito há um bom tempo… mas o que eu fiz esse ano, na verdade vai ser meu próximo single, e eu estou muito animada para esse porque é muito engraçado porque… é sobre a minha relação com a música. Porque é algo tão constante de quando a música está lá, ela está lá, mas quando ela não está você fica tipo vagando pela casa do tipo “O que eu faço comigo mesma?”, e é sobre como ela sempre volta pra você mesmo quando ela se vai, e eu estava em um momento de bloqueio criativo e comecei a escrever isso, e desde então está florescendo.

MS: E como tem sido entrar em contato com seus sentimentos durante esses meses malucos e compor e escrever músicas a partir disso?

CC: Me levou um tempo, pra ser sincera, no começo da quarentena. E acho que como todo mundo eu não sabia quanto tempo aquilo ia levar então não me dediquei a escrever e olhar pra dentro de primeira, mas aí eu comecei a perceber “Acho que vai ser assim por um tempo”, e você meio que não tem uma escolha. E o que eu fiz, e é meio engraçado é que a música que me mostra como eu estou me sentindo, na verdade. Às vezes eu só descubro como eu estou me sentindo ao sentar no piano e não estou cantando palavras, mas estou cantando sons que carregam um sentimento bem forte neles, e eu gravo no meu telefone e fico tipo… “Ok… acho que hoje eu estou triste!” [risos] ou estou me sentindo dançante.

Então é, a música é um catalisador perfeito para que eu entenda como eu estou me sentindo. Mas tem sido difícil, porque estando em casa você tem que lidar com como você se sente todo dia. Quando a gente está trabalhando podemos pensar em outras coisas, mas em casa é tipo “Porque eu me sinto dessa maneira hoje, o que mudou em mim?”. 

MS: Eu estava lendo uma entrevista nova com a Stevie Nicks para a DAZED essa manhã…

CC: Nossa, sério? Que engraçado! Eu estou assistindo muitos vídeos da Stevie Nicks recentemente. 

MS: Que coincidência! E na entrevista ela estava falando como meio que se arrepende de não ter encontrado David Bowie e pedido para ele fazer uma música com ela. E ela disse que geralmente, a primeira frase que ela fala quando ela encontra alguém que admira, como artista, é pedir para trabalhar com ela, porque é tudo que ela quer dessas pessoas é estar na presença delas e estudar o que elas fazem. Com isso, eu fiquei me perguntando quais artistas você gostaria de estar na presença deles e observar o que eles fazem?

CC: Então, eu sempre gosto de manter meus heróis um pouco à distância, sabe? [risos] Eu sinto que eu vou passar vergonha e vou ficar para sempre me perguntando “Por que eu disse isso?!” [risos] Eu não sei, mas eu realmente amo… nossa tem tantas pessoas… mas eu gostaria de ver Thom Yorke e o Radiohead trabalhando, eu amo Bon Iver (Justin Vernon), eu acho que ele é um gênio, Frank Ocean. Mas novamente, eu não sei se eu gostaria de trabalhar com essas pessoas, eu acho que eu prefiro admirar à distância e apenas aproveitar… mas ela é Stevie Nicks então!

MS: Mas você é a Charlotte Clark então… [risos]

CC: É, é verdade! [risos] 

MS: Eu estava meio que esperando você mencionar alguém que eu sei que é uma das suas heroínas… Joni Mitchell!

CC: Ah, sim! Mas ela é meu maior ícone, então eu não a quero por perto![ risos]

MS: Ela é uma das minhas heroínas também, e de tantas outras pessoas. Então eu gostaria de te fazer algumas perguntas díficeis, porque eu queria saber se você tem algum álbum favorito e uma música favorita dela?

CC: Ai meu Deus… Bom… eu não consigo escolher nenhuma música [risos] Mas no momento chamada “Cactus Tree”, eu a toco muito… e sobre o disco eu amo Court and Spark, mas o álbum que realmente me introduziu a composição foi Blue, é um dos álbuns mais importantes da minha vida… E  quais são os seus favoritos?

MS: Bom, eu ainda estou presa na minha fase Blue, é um clássico tão grande que eu sempre me vejo ouvindo mais do que qualquer outro álbum da Joni. E sobre música, “Califórnia” é indescritível, é uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos. 

CC: Nossa, total!

MS: Eu sinto que você se aprofunda tanto nas suas faixas, elas são bem intimas e bem cruas em vários momentos. Então eu gostaria de saber como é para você, que sabe como é ter seus sentimentos tão presentes em uma música, ao tocar músicas de outros artistas que podem significar bastante para eles? Você sente que cria uma conexão com a música, com a história?

CC: É uma coisa tão diferente, de verdade, porque é um estado mental completamente diferente. E eu como artista e pessoa eu sou tão motivada por tudo, sentimentalmente que eu faço e crio, que eu sou completamente guiada pelas minhas emoções, às vezes isso é ruim, e outras vezes eu gosto de sentir tudo tão à flor da pele assim. É diferente tocar a música de outra pessoa mas também é como você se identifica com outras músicas, relacionando épocas e pessoas com aquelas músicas então é tipo “Lembra quando a gente estava em tal lugar e tocou essa música? Foi um dia bem legal” .

MS: Charlotte, eu gostaria de saber de você o que o EP significa pra você no dia de hoje, especificamente.

CC: É engraçado porque eu não costumo pensar muito nele, porque tipo, ele está feito, agora eu já estou pensando na próxima coisa! [risos] E vai ser um som completamente diferente e eu estou animada para lançar, mas não sei quando vai ser lançado. Mas é, com esse EP eu acho que é tudo sobre me entender e sinceramente minha relação comigo mesma, e saber o que é o certo pra mim. E por exemplo, “Disarray” eu escrevi enquanto eu estava naquela relação, e isso me deixa tão triste que eu percebi que eu não estava feliz. Então foi bem importante para meu crescimento pessoal, “Warm Weather” é sobre Sindrome de Impostor, “Eu sou boa o suficiente?”, e é sobre aceitar esses sentimentos e recaídas que você tem em relações com os outros ou na sua própria relação com você mesma.

E a última faixa no EP se chama “Odyssey”, e ela meio que resume todo o projeto e é sobre a gente fazer o melhor que podemos, porque ninguém tem a resposta e todo mundo meio que quer as mesmas coisas, ser feliz, e de vez em quando a gente coloca tudo de um jeito muito preto e branco sendo que somos seres muito complexos, todo mundo tem as mesmas inseguranças e estamos juntos nisso e está tudo bem, então acho que ele é sobre isso… Nossa, desculpa, eu realmente viajei aqui! [risos] 

MS: Eu sinto que não podemos terminar essa entrevista sem mencionar o fato que você estava meio que a caminho do Brasil com a Love On Tour [turnê de Harry Styles]. Eu ainda espero que vocês venham, e gostaria de saber se por acaso você conhece algum artista brasileiro, e quais são as coisas que você já ouviu sobre os shows do Brasil e da América Latina.

CC: Nossa, sim! Eu espero muito que aconteça ainda. Eu não acho que ela é brasileira, e sim portuguesa, mas cresci indo em um festival chamado WOMAD e um momento específico que eu não sei se as pessoas tem isso, mas eu lembro o momento em que eu decidi que queria me tornar uma artista, e foi vendo uma cantora portuguesa chamada Maritsa, e eu fiquei tão admirada por ela e sua presença, e eu fiquei tipo “Nossa, é isso que eu quero fazer!”, e eu não tocava nenhum instrumento ainda nem nada.

E sobre o que eu sei do Brasil, bom, eu sei que os primeiros fã-clubes de artistas começam aí! E que os fãs são muito fiéis, e apaixonados! Mas fora isso eu não sei muita coisa, eu sou muito inglesa [risos].

MS: Charlotte muito obrigada por tirar seu tempo e falar comigo, fico no aguardo para o EP e todas as suas próximas novidades, e também espero você vir ao Brasil com a banda, ou como artista solo, quando isso for possível!

CC: Obrigada você, eu amei, foi tão legal. Falar sobre tudo que causa e inspira a música significa muito pra mim, então eu amei mesmo.

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