Com sintetizadores, teclados, e um caleidoscópio de vozes, a ATR retorna com Mundi, sexto trabalho de estúdio da banda, que, com o apoio da Natura Musical, honra o título do projeto e desbrava o mundo dançando.

Mundi é a terceira e última parte de uma trilogia de trabalhos, que começou com o compacto MIDI em 2017 e passou pelo EP MOOD em 2018″, explica o guitarrista Gustavo Koshikumo em entrevista para o Mad Sound. “Vemos essa trilogia como uma descoberta de novos caminhos musicais, em que começamos a experimentar elementos da música eletrônica e agora culminou no disco Mundi, mantendo essas características e ao mesmo tempo mudando muitos aspectos do nosso som, pela presença de um novo elemento principal: a voz. E é nesse novo elemento que se baseia o conceito do disco: a diversidade de realidades e temáticas de cada música são resultado da união de ideias propostas pela banda através de músicas instrumentais com a visão particular de cada artista convidado, exposto por suas letras e vozes. Cada faixa é um lugar diferente, com vozes e sotaques diversos e ideias e/ou ideais que nós da banda também compartilhamos. “

“Nesses 12 anos de carreira da ATR, sempre valorizamos muito a experiência de trabalhar com outros artistas. Já fizemos trabalhos com Liniker e os Caramelows, Tássia Reis, Linn da Quebrada, pra citar apenas alguns, e com certeza a diversidade é algo muito importante pra nós, algo que em acreditamos e que fizemos questão de mostrar nesse disco”, completa.

O verdadeiro caleidoscópio de vozes presente no disco se apresenta como um mapa em formato de pista de dança, possuindo artistas de diversas nacionalidades, desde a Repúlica Dominicana até a Argentina, que já haviam cruzado o caminho da ATR de alguma forma. “A Michu Mendez, argentina que mora em Florianópolis, participa das faixas ‘In my Stereo’ e ‘Corazón’, ela já tinha cruzado a gente na estrada por diversas vezes, sempre conversávamos e admiramos o trampo que ela tinha e ainda tem com a Petit Mort e outros projetos. Em 2019, eu e Juliano [Parreira] começamos um projeto com ela, o Mandale Mecha, e claro, chamamos ela pra participar do disco do ATR também, A Michu tem uma facilidade foda para compor hits instantâneos.”

“O Vox Sambou é um rapper incrível, conhecido simplesmente como ‘o embaixador do hip-hop haitiano’ (…) Ele participa da faixa ‘No Diskriminasyon’ , que além dele também conta com um solo de sax maravilhoso de Éder Araújo da banda Caramelows“, compartilha. “A música ‘Like a bamboo’ começou a ser produzida em 2016, quando o Billy Pilgrim, rapper americano que atualmente mora em Nova Orleans, passou pelo Brasil em turnê e tocou no bar que eu era sócio em São Carlos, o GiG (…) Esse som é um dos meus preferidos, tem uma vibe The Roots misturado com Tame Impala…”

“A Carolina Camacho, da República Dominicana (morando no México atualmente), participa da música ‘Qué tá mirando?’, que foi uma das primeiras músicas a serem finalizadas do disco e foi o primeiro single do álbum. Pensamos em convidar a Carolina ainda no processo de composição. Conhecemos ela numa turnê pela Colômbia, em que ela tocou no mesmo evento que tocamos e ficamos muito admirados com sua performance usando loops, samplers e cantando.”, conta Gustavo. Mundi ainda conta com a fantástica Luedji Luna, Donatinho e Maurício Candussi.

Em meio à tantas colaborações, não poderiam faltar referências para atingir o som fresh e ao mesmo tempo nostálgico que a ATR faz com maestria. E quem está sempre nas influências da banda não poderia ser ninguém menos que o Daft Punk, que tem seu som como referência nítida no abre alas do disco, “About the Loving”. “Apesar de conhecermos eles [Daft Punk] desde antes, em 2013 fizemos uma turnê de carro passando por Brasil, Argentina e Uruguai, e ouvimos o Random Access Memories muitas, mas muuuitas vezes. Posso dizer que esse disco realmente marcou a banda por diversos motivos. Várias músicas fodas, produção incrível, Nile Rodgers, qualidade de som impecável, músicos talentosos.Sem querer nos igualar a isso tudo, mas acho que nós, como músicos e produtores, sempre tentamos fazer um disco que tenha essas qualidades também – uma pena que o Nile não participou, talvez no próximo (risos).”

Transformar os sons, cores, vozes e referências presentes no álbum requer, sem dúvidas, uma mixagem e produção afiada, o que a ATR nunca teve problema em entregar, mas em Mundi, até os obstáculos se tornaram luzes coloridas na mão da equipe. “A produção desse disco teve diversas etapas e não foi o mesmo processo pra todas as músicas. Algumas delas surgiram de sessões com nós 3 tocando, outras apenas a gente na frente do computador ouvindo referências e propondo ideias, outras com algumas pré-produções individuais já mais evoluídas. Mas a partir de um momento todas foram convergindo pra formar o disco. E como o processo de mixagem foi intimamente ligado ao processo de produção, conseguimos dar uma estética muito bem definida para todas as músicas, mesmo tendo cada uma elementos bem diversos uma das outras. A masterização de Bernardo Schwanka do Fabriek Studio, que já tem experiência em música eletrônica, foi essencial para o resultado que obtivemos.”

“Sobre os desafios, mesmo antes da pandemia, já prevíamos o trabalho a distância com a maioria dos artistas. Porém, houve a questão técnica da gravação das vozes, que nesse contexto de crise sanitária teria que ser feita, em quase todos os casos, na casa de cada um, usando os equipamentos que já possuíam. Isso influenciou consideravelmente o produto final, obviamente, mas creio que soubemos usar isso de uma forma estética e o resultado não ficou comprometido.”

O clipe de “In My Stereo” retrata uma festa no Zoom, o mais próximo que devemos chegar em tempos apocalípticos e pandemicos como os que vivemos. Mas Mundi, como o título já denuncia, é uma obra do mundo, e é a promessa que Gustavo espera que aconteça no futuro. “Quero acreditar que vamos sair dessa logo e que o Mundi seja ouvido tanto em grandes festivais como em inferninhos e baladinhas em casa. O repertório do disco é bem diverso, e ele se encaixa em diversas ocasiões. Estou ansioso pra tocar em shows e sentir como será a recepção ao vivo.”

“Mas tem sido difícil enxergar alguma coisa com tanto obstáculo na frente. Infelizmente, temos um governo irresponsável que mais atrapalha do que ajuda para resolver essa situação. Todos saem prejudicados, e um dos setores que mais sofreu com isso foi o de cultura e entretenimento. Outros países que tiveram posturas mais coerentes já estão pensando nos próximos passos com muito mais clareza. É uma pena, mas não vamos desanimar e já planejamos nossos próximos lançamentos.”

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