Durante as últimas semanas, Nando Reis vem lançando seu novo álbum, Uma Estrela Misteriosa realizado em uma versão tripla, com cada uma das partes sendo divulgada aos poucos. Em uma coletiva de imprensa, o vocalista comentou sobre os novos registros.

Na mesma data, um documentário a respeito do trabalho foi reproduzido, explicando algumas coisas de Uma Estrela Misteriosa, além de depoimentos de grandes nomes da música brasileira. Uma foi disponibilizado no último dia 23, enquanto Estrela, na sexta-feira, 02. Por fim, Misteriosa chegou na última sexta-feira, 09.

O box com os três álbuns está disponível em seu site oficial, e aqueles que o adquirirem, recebem um disco bônus, totalizando quatro trabalhos.

Lançar um álbum duplo é algo incomum e ousado, em especial, atualmente. As plataformas de streaming são a principal forma de consumo de música, uma vez que a mídia física, em especial vinis, custam um valor bastante elevado – reconhecido por Reis.

Além da produção de Barrett Martin, co-produção de Felipe Cambraia, produção executiva de Diogo Damascena e mixagem de Jack Endino outros nomes famosos dentro da cena do rock fizeram suas contribuições para o álbum. Fora Nando Reis nos vocais e violão, a banda é formada por Barrett na bateria, Cambraia no baixo, Walter Villaça e Peter Buck nas guitarras e Alex Veley nos teclados.

Algo bastante interessante a respeito do álbum são as participações especiais. Além do time de peso já citado, o guitarrista Mike McCready e o baterista Matt Cameron, do Pearl Jam, o baixista do Guns N’ Roses, Duff McKagan, o filho Sebastião Reis (violão) do Colomy e Krist Novoselic, baixista do Nirvana, também contribuíram com Uma Estrela Misteriosa

Como já é característico de Reis, os álbuns trazem suas boas composições, de maneira suave, algumas vezes trazendo reflexões e outros temas mais diários. Com um belo trabalho, o artista torna-se, mais uma vez, um importante nome dentro da música nacional.

O fato de se lançar um registro triplo já é de se admirar, além de bastante arriscado, mas para um artista na magnitude de Nando Reis, isso não é um problema. Apesar de ser um dos nomes mais consolidados na nossa música, emplacar tantas composições novas é uma tarefa não muito difícil. Apesar disso, a estratégia de lançamento foi bastante interessante, e a de venda, com a possibilidade de adquirir um disco bônus, também.

“Você só decide que ele terminou quando você não aguenta mais.”, disse Reis. “Porque é um trabalho que poderia se estender e tudo mais.”

Ao refletir sobre nossos álbuns favoritos, o compositor falou sobre o uso de novas tecnologias no quesito de tornar as músicas o mais perfeitas possível. Estas quais auxiliam, porém “ele é meio perverso, é pernicioso, né? Porque você pode… Sabe, você ouve discos da Gal [Costa], aquela cantora inacreditável que tá nesse lugar, e tem lá naquele disco, tem uma desafinação, tem desafinação entre os instrumentos, ou seja, de fato isso, para a minha concepção, não é aquilo que importa, aquilo que determina.”

Algumas das músicas em Uma Estrela Misteriosa já existiam, e Nando Reis apenas as concluiu. O relato e a inspiração por trás da música “Rhipsalis”, originalmente chamada “Janaína”, são de uma história triste. Durante a década de 1990, o músico buscava “se afirmar como compositor”, e que outros cantores e cantoras cantassem suas músicas. 

“E o Rick Bonadio disse que havia uma cantora nova que ele ia produzir, queria uma música. E eu marquei dela em casa. E seria numa segunda-feira. E antes era um feriado. A moça foi viajar, sofreu um acidente e morreu. Porque ela não apareceu em casa e eu fiquei intrigado. Não, é uma história absurda, envolveu a família toda, é um negócio… E eu escrevi sobre aquilo (…) O primeiro verso, ‘pifou o nosso encontro, não pudemos nos encontrar, a morte, o seu forte rosto’, não sei o que lá.

“Não tem mensagem.”, Reis afirma a respeito de seu novo lançamento. “Embora tenha ali subentendido muitas coisas. Quando eu lanço um disco quádruplo, um LP de vinil, eu estou defendendo. Como o Arnaldo [Antunes] falou, são importantes os contrapontos. Lembrar as pessoas que a vida não é só delivery, streaming e tudo mais. Vai, pega o carro, anda na calçada, vai ao cinema.” 

“Eu sou um artista, sou um compositor, vou defender aquilo que creio, o que eu me posicionei nos quatro anos daquele inferno.” Ele continua. “O que queriam dizer? Destruíram o Ministério da Cultura, entendeu? Vêm fazer essas caçadas bruxas com artistas. Eu não, eu vou lá. [Sobre] isso eu me posiciono. A minha mensagem é essa. É importante ter o pensamento próprio, é importante defender a liberdade. E, no entanto, não está aí como uma agenda. Está subentendido na pessoa que sou, na forma como falo e com certa sofisticação, porque eu não sou militante apenas.”

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