Thom Byles é filho de pais ingleses, mas, aos seis anos, ganhou um novo mundo quando a família se mudou para a Cidade do México. Viveu toda a adolescência na capital, onde permaneceu até terminar a universidade e decidir voltar para o Reino Unido para seguir a carreira musical.

Inspirado pela veia artística de Londres, tentou a carreira solo em um primeiro momento. “É fácil querer ser cantor por aqui. Há música em todos os lugares. Você pode tocar em casas independentes, arenas ou até mesmo em catedrais”, disse, pelo telefone, após contar com alegria que estava experienciando um raro dia ensolarado na capital britânica — algo antes comum na rotina mexicana.

“Depois de um tempo, percebi que precisava de um reforço nas minhas performances.” O vazio foi preenchido em 2016, quando a voz e percussão de Byles se encontraram com a guitarra de Mike Phillips. O resultado foi a formação do duo Hanging Valleys, que estreou oficialmente em 2017, com as quatro faixas de EP.

Após atingirem o marco de 1 milhão de streams no Spotify, a dupla decidiu se dedicar a mais um lançamento, que acabou por realçar sutilmente as influências latinas de Byles. O título do segundo trabalho estampa uma bonita palavra da língua espanhola, Fortaleza. “O nome serve como um pequeno mantra para mim. Às vezes não é fácil levar a vida como artista, e ignorar aquelas vozes internas que nos dizem para desistir. Precisamos de força para continuar apostando no que amamos”, explica.

Apesar da força do título em espanhol, a influência mexicana não é expandida de forma consciente nas composições de Byles. “Acho que tudo começou no México. Eu lembro que minha mãe contratou uma banda mariachi para o aniversário do meu pai, e eu fiquei encantado com aquilo. Depois, ele comprou um violão e eu também comecei a fazer aulas”, relembra. “Não havia Internet naquela época. Só eu e meu professor de música, Raul, recriando sons. Então acredito que toda vez que componho algo, acabo usando um pouco dessa biblioteca sonora que construí quando vivia lá.”

O resultado da mistura da musicalidade de Byles com os toques de Phillips é um som suave, amostra de uma veia inglesa independente que não é tão comandada por riffs pesados e solos de bateria, características do rock mainstream do país. É um som que emana experiência, em vez de momento. Que pode demandar digestão, ou que pode atuar como uma fácil trilha sonora — cinematográfica ou humana. É o tipo de som experimental que soa como a calmaria da alma.

Para ilustrar um pouco do próprio universo musical, que mescla realidades separadas por um oceano, Byles nos recomendou três ascendentes artistas mexicanos e britânicos que estão nas playlists dele. Conheça as sugestões abaixo.

México
Joaquín Garcia

Joaquin García. Crédito: Jose Luis Isoard.

O artista mexicano mescla o espírito do folk com a delicadeza do som ambiente há quase uma década. Ele estreou em 2012 com o EP ao vivo Over The Last Few Years…, que foi seguido pelo primeiro disco cheio The Local Universe (2014) e pelo The Mourning EP (2015). Em março, ele soltou o segundo álbum da carreira, The Riverman (ouça aqui). García é também cofundador do selo mexicano Pedro Y El Lobo, que tem um maior foco em artistas de folk e post-rock.

Moonatic

Moonatic. Crédito: Divulgação

O Moonatic é formado por Enrique Bojórquez, Jorge de Haro, Fernando Esteban, Juan Pablo González, Daniel Lumbreras e Santiago Narváez. A banda tem um post-rock psicodélico, com letras em inglês que dificultam a percepção de serem originais do México. Em 2018, lançaram Another Sky, disco em formato de faixa única que desafia o frequente consumo musical em formato de “pílulas”.

Page Sounds

Page Sounds. Crédito: Reprodução/Facebook

Segundo a Noisey México, Page Sounds é uma “banda de contrastes”. E é fácil entender o porquê da classificação quando se escuta qualquer música do duo mexicano, que intercala espaços quase silenciosos, de suaves batidas, com uma coleção de percussões, cordas e sintetizadores. O único disco lançado pela banda, Burning Feet, data de 2014.

Inglaterra

Paul Thomas Saunders

Paul Thomas Saunders. Crédito: Reprodução/Instagram

“Eu conheci ele há uns 8 anos”, relembra Byles. “Quando eu ouvi Lilac and Wisteria, EP dele de 2011, e ele me disse que havia gravado e produzido tudo sozinho, uma porta se abriu para mim. Desde então, eu tenho feito todo esse processo no Hanging Valleys e tem sido muito bacana.” Paul Thomas Saunders lançou o primeiro disco cheio, Beautiful Desolation em 2014 e, no ano passado, soltou os singles “Holding On For Love”, “I’ll Come Running” e “Christmas, the Sequel”.

Austel

Austel. Crédito: Divulgação

“Ela sempre me impressiona com os vocais que alcança”, revela Byles. A cantora originária de Devon, na Inglaterra, lançará o EP de estreia neste ano — antecipado pelos singles “Crows”, “Lost at Home” e “Anaesthesia” — mas já colaborou com nomes como Lyla Foy, Munro Fox e Stella Martyr, além de já ter se apresentado no renomado Glastonbury Festival, como número de abertura para o Fleet Foxes.

Matilda Eyre

Matilda Eyre. Crédito: Reprodução/Instagram

Matilda Eyre é de origem alemã, mas encontrou seu lar musical em Londres. É a artista que traz o som mais pop entre todas as recomendações de Byles, com um som indie-electro que combina uma melodia delicada com instrumentos orgânicas e uma base eletrônica. O vídeo completo de “FYA”, single de estreia dela, ainda não foi lançado, mas já é possível assistir a um teaser abaixo.