13 de março de 2020. Dia que não só marcou o início da pandemia, mas também o lançamento de Aos Prantos, o último trabalho da cantora e compositora carioca Letrux. No início de 2022, quando os shows resgatavam o vigor presente no cenário pré-pandêmico, a artista comandou o show de lançamento do álbum no Circo Voador, lotando o local. Após mais de um ano, Letrux retornou à casa na última sexta-feira, 07, trazendo a turnê de encerramento do disco. 

O início da noite, o momento entre-shows e o pós-show ficaram por conta de DJ Lencinho, figura histórica que já pilotou e segue pilotando com maestria a nave do Circo Voador. Passando por artistas como Blondie, Patti Smith, Iggy Pop, Gorillaz, Gal Costa e Planet Hemp, o DJ trouxe um repertório diverso que foi deixando o público cada vez mais dançante. Não tem o que falar, é sempre um privilégio ter a oportunidade de assistir a um set do Lencinho. 

A banda Troá, formada por Carolina Mathias (baixo, teclado e voz) e Manuella Terra (bateria) foi responsável pelo primeiro show da noite. Posso afirmar isso com toda convicção: após tantos anos frequentando o Circo Voador, foi a primeira vez que vi um show de abertura tão cheio. O eco da plateia gritando “Troá, Troá, Troá!” invadiu a lona e estampou sorrisos enormes nos rostos dos amigos presentes e das duas artistas que, assim como citaram em discursos realizados entre as músicas, estavam diante da realização de um sonho. Todo brasileiro que tem banda carrega esse sonho em tocar no Circo. Foi a vez de Troá de concretizar esse desejo, depois de tanto tempo de parceria em mais de dez anos de banda. 

Logo na primeira música, “Bicho”, já percebemos toda a potência da voz de Carol e das suas linhas de baixo. Sempre fico surpresa quando alguém canta uma certa melodia enquanto toca outra completamente diferente – Paul McCartney que o diga. Músicas do álbum mais recente da dupla, Eu Não Morreria Sem Dizer (2019), como “Ímpeto” e “Tobogã”, estiveram presentes no show. 

Assim como assistir Carol tocando e cantando, é lindo observar Manuella na bateria. É como estar diante de algum tipo de mágica: ela tira um som eletrônico em uma bateria acústica. Esse elemento contribui fortemente para que as releituras realizadas pela banda assumam uma roupagem totalmente única, totalmente Troá. Entre essas releituras, estavam “Maneiras”, de Zeca Pagodinho, e “Jorge da Capadócia”, dos Racionais, em um medley com “Glory Box”, do grupo Portishead

Troá também apresentou músicas que irão compor o seu novo disco, Deboche, que será lançado ainda neste ano – assim esperamos, ein.  A dupla estava realizando um sonho e eu senti como se estivesse imersa em um universo onírico: o teclado trazendo melodias lindas, o grave do baixo gritando, os pedais produzindo efeitos que geraram as mais diferentes sensações. O Circo se envolveu com Troá. Quem não conhecia a dupla até então, se apaixonou – o que era nítido pelos gritos e interação do público. A banda entrou no palco ao som da abertura do Windows e se despediu dele ao som do encerramento do Windows. 

A ansiedade tomou conta de todos e o lugar ficou ainda mais quente, com mais e mais pessoas ocupando a lona. Depois de alguns minutos de mais um set do DJ Lencinho, Letrux e sua banda ocuparam o palco, todos com véus cobrindo as suas caras. Aos poucos, os véus foram retirados e “Eu Estou Aos Prantos” abriu o setlist. 

“Dorme Com Essa” deu continuidade ao espetáculo, contando com um solo de guitarra etéreo conduzido por Natalia Carrera. Além da guitarrista, a banda que acompanha Letícia há 4 anos é composta por Jéssica Zarpei (percussão), Arthur Braganti (teclado), Thiago Rebello (baixo), Martha V (teclas) e Lourenço Vasconcellos (bateria). Jéssica é a mais nova integrante do grupo e, ao longo do show, foi possível observar como a sua presença já é indispensável. A percussionista trouxe uma nova identidade para as músicas, adicionando o som da cuíca em várias faixas. 

Algumas releituras também compareceram ao show, como “Ladies”, de Fiona Apple – uma das musas de Letícia -, “Agora Ninguém Chora Mais”, de Jorge Ben Jor e, a maior surpresa de todas, enchendo de felicidade o coração daqueles que assistiam os clipes que passavam na MTV nos 2000s: Alala, do grupo Cansei de Ser Sexy, com participação especial da líder Lovefoxxx. Foi a primeira vez de Lovefoxxx nos palcos do Circo, acompanhando Letrux em “Fora da Foda”, portando um figurino todo vermelho e unhas postiças feitas de papel de alumínio. 

Apesar da turnê ser referente ao disco Aos Prantos, os hits do primeiro álbum de Letrux, Letrux em Noite de Climão (2017), apareceram em peso, como “Ninguém Perguntou por Você”, “Flerte Revival” e o hino das sapatãs – como proclamado pela própria Letícia no show – “Que Estrago”. 

O show contou com vários momentos icônicos, mas talvez o maior deles tenha sido o mosh em um colchão inflável protagonizado por Letícia. Durante a música “Déjà-vu frenesi”, a artista comentou que ama estar perto do público por meio de moshs, mas que estava com medo de se machucar e de machucar os outros. A solução foi a seguinte: Letrux deitou em um colchão inflável de acampamento e foi ao encontro da plateia, que a segurou, a levou para passear por toda a lona e a deixou de volta no palco. 

O repertório foi cheio, com mais de 20 músicas. Sempre que Letícia dizia “Essa é a última!”, logo em seguida ela começava uma nova canção. Até que infelizmente chegou o final: Letrux se despediu oficialmente de “Aos Prantos” com “Me Espera”. Foi uma despedida lunática – no bom sentido – e contagiante. Estamos aos prantos e sentiremos saudades.

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