A técnica de videomapping, ou projeção mapeada, ainda é novidade no Brasil. Trata-se de uma intervenção urbana realizada através do uso de projetores que se moldam às paisagens da cidade, trazendo cor e movimento aos seus cenários. Esse tipo de manifestação artística tem seus próprios formato e linguagem, e recentemente ganhou um espaço maior na programação cultural de São Paulo.

Dos dias 8 a 11 de abril, acontece a segunda edição do SP Rock Mapping, unindo música e projeção digital em um grande festival com transmissão ao vivo através da Twitch. Além das apresentações musicais, a programação inclui também bate-papo e oficina sobre música e videomapping. 

O evento é uma expansão do sucesso da primeira edição, que aconteceu em julho de 2020. À convite da Secretaria Municipal de Cultura, o pessoal da produtora Ateliê Digital Analógico (ADA) idealizou e montou um projeto exclusivo para comemorar o tradicional mês do rock em São Paulo. Se adaptando aos moldes exigidos pela pandemia, a equipe juntou nomes como Ratos de Porão, Verônica Decide Morrer, Orquestra Vermelha, Test, Magüerbes, SHN e United Vjs em um espetáculo musical e visual, fazendo o uso de projeções em quatro prédios da Rua Augusta, o antro do rock paulistano.

Caio Fazolin é um dos integrantes do ADA e idealizador do SP Rock Mapping. O VJ conheceu a ideia de manipular imagens visuais em 2001, quando a técnica era muito usada nos clubes de música eletrônica e nas raves. Hoje, Caio soma 20 anos trabalhando com projeções digitais e participa do trabalho do ADA, que é um dos pioneiros em realizar intervenções urbanas por meio de projetores no Brasil, colecionando trabalhos ao redor do país inteiro.

A ideia de realizar projeções em prédios surgiu como uma alternativa à pandemia, que afetou profundamente o campo artístico e principalmente a área de eventos. Segundo Caio, alguns amigos notaram que suas janelas se abriam para várias empenas cegas da cidade e viram nisso uma oportunidade para a instalação de projetores que levassem arte e movimento a esses cantos sem cor. E São Paulo é o lugar ideal para explorar essa técnica.

Primeira edição do SP Rock Festival em 2020. Créditos: Divulgação

“A nossa cidade é conhecida pelo grafite,” disse Caio em entrevista ao Mad Sound. “E o videomapping também dialoga com o grafite, mas com a diferença de ele ser efêmero: desligou o projetor, acabou. E a nossa cidade é perfeita pra esse tipo de intervenção que é o Rock Mapping. Não sei se foi um desleixo dos arquitetos, mas a gente tem um monte de empenas cegas pela cidade que permitem esse tipo de intervenção e o grafite. É o mesmo suporte.”

A segunda edição do SP Rock Mapping será ambientada em um dos pontos mais emblemáticos da cidade de São Paulo, o Minhocão. O festival é uma ótima oportunidade de difundir o conceito das projeções mapeadas enquanto manifestação artística, apresentando também a abordagem pessoal do Ateliê Digital Analógico, que, segundo Caio, “traz a ideia de roteiro, de hibridizar o cinema, contando uma história que valoriza muito o visual e a ilusão de ótica.”

Ainda de acordo com o VJ, a primeira edição do festival ajudou a apresentar o videomapping para o público e os artistas, uma vez que o conceito ainda é muito novo e pouco utilizado. Já em 2021, os convidados se mostraram mais preparados, trabalhando com material inédito e criando conteúdo especificamente para esse evento, o que maximiza a experiência de todos os lados. “O videomapping não é videoclipe, não é show ao vivo. Ele precisa de um outro tipo de linguagem e conteúdo muito específico,” explicou Caio. “Então o que a gente pode esperar [do festival] é ver cantores que você gosta em tamanho gigantesco, animações incríveis, muito posicionamento político, porque a rua é um lugar de falar coisas que as pessoas podem ver.”

Nesse ano, a line-up do SP Rock Mapping apostou na diversidade e irá trazer nomes como Letrux, Aíla, Senzala Hi-Tech, Monna Brutal e Deafkids, entre muitos outros, unindo as performances musicais com artistas visuais que estabelecem esse diálogo entre som e imagem. Entre esses estão Embolex, Roberta Carvalho, Darklight Studio e Clara Cosentino.

A curadoria dos artistas participantes foi feita por Luciano Valério, da produtora Desmonta, e Amanda Moraes, que conversou com o Mad Sound por telefone. Amanda trabalha com produção cultural há mais de 10 anos, fazendo parte atualmente das produtoras Ethos e a sua própria, Artéria. Durante a conversa, ela falou com muito carinho e atenção sobre cada um dos artistas escolhidos para o festival. 

“A gente relacionou muito nossas escolhas baseado no poder de criação de cada banda que a gente escolheu,” relatou Amanda. “A gente pensou no público que a gente quer atrair, que é esse público diverso, que gosta de arte, gosta de música, que se interessa por  intervenção urbana, mas eu acho que o nosso objetivo acima de tudo é atender essa demanda do festival de ser um festival de arte visual, intervenção urbana e música. A gente procurou fazer isso pesquisando de que maneira cada artista imprime a sua realidade através da entrega visual, mas mais do que isso a gente apostou também. A gente apostou em projetos que a gente quer ouvir, quer dar voz, precisa dar voz, ainda mais nesse momento tão obscuro social e político que a gente tá vivendo. A gente acha que a arte é uma importante ferramenta de transformação social, a gente vive isso no nosso dia a dia. E a gente tem na nossa cabeça que esse festival é tão importante porque ele acontece em um momento muito duro, mas também um momento culturalmente muito representativo no Brasil.”

O SP Rock Mapping é um festival cultural que recebe financiamento da Lei Aldir Blanc (Lei Federal nº 14.017/2020), que prevê auxílio aos profissionais do cenário cultural como forma de auxiliar esse que é um dos setores mais afetados pela pandemia. Para Amanda, realizar o festival no contexto atual o transforma em “um sopro de esperança”.

“É importante para a gente continuar fazendo arte para não sucumbir,” disse ela. “[É importante] continuar fazendo o que a gente gosta e dando ferramentas para as pessoas se manifestarem.” Além da curadoria de artistas que pudessem representar um festival que celebra a arte urbana, visual e a música, Amanda também ressaltou as construções individuais trazidas pelos nomes escolhidos, que, segundo ela, “faz parte de um processo de criação e inquietude de cada artista, que assim como nós, querem gritar por um país mais justo.”

Confira a programação e a playlist oficial do evento:

SERVIÇO SP ROCK MAPPING – SEGUNDA EDIÇÃO
Data: 8 a 11 de abril de 2021
Local de transmissão: Twitch SP Rock Mapping (https://www.twitch.tv/sprmap)
Classificação indicativa: Livre
Acesso: Gratuito

08/04 e 09/04 – às 18h
Oficina: “Música em ambiente digital e remuneração”
Ministrada por Dani Ribas

10/04 – 14h
Bate Papo: Um convite para analisar o papel da arte em tempos de pandemia, e o que a linguagem do videomapping (muito evidenciada durante o isolamento social) representa e contribui com os projetos de música.
Mediação: Lorena Calábria

10/04 – das 19h às 23h
Apresentações musicais e visuais:
– Aíla e Roberta Carvalho
– Senzala Hi-Tech, Junião e Juliana Lima
– Embolex e Dengue
– Nomade Orquestra e Darklight Studio
– Letrux, Clara Consentino e Laura Fragoso

11/04 – das 19h às 23h
Apresentações musicais e visuais:
– Deafkids e Douglas Leal
– Monna Brutal e Studio Curva
– Luiza Lian e Bianca Turner
– Nelson D e VJ Suave