Com uma sonoridade pop dos anos 00’s e rock, estéticas impecáveis, reflexões sobre suas origens no Japão, e uma mulher queer assumida, Rina Sawayama não está deixando nenhuma pessoa e, muito menos vírus impedi-la de ganhar o mundo em 2020. 

Desde o lançamento de seu EP, RINA, em 2017, a artista britânica tem, calmamente, chamado a atenção do mundo pop. 

E não é para menos, o primeiro projeto sonoro de Rina que, antes de começar sua carreira artística, se formou simplesmente na Universidade de Cambridge, onde se formou em política, psicologia e sociologia, traz uma coleção de hits e uma viagem pop introspectiva sobre assuntos um tanto quanto relacionáveis, tal como a solidão do mundo digital e a pressão social de socializar, criando assim uma persona falsa e impecável enquanto tudo dentro dela está desmoronando, na incrível “Cyber Stockholm Syndrome”. 

Além da incrível canção que fecha o projeto, a primeira faixa também diz muito sobre a visão de Rina ao entrar no mundo da indústria da música, em “Ordinary Superstar”, em que afirma ser uma superstar ordinária, no sentido de humildade e ser como todo mundo, como diz na canção, no entanto, seu estilo e diferencial sonoro a fazem uma figura nada ordinária, como ressaltado no título deste texto.

O clipe da faixa, produzido pela revista inglesa i-D, possui inspiração na vida noturna de Tokyo nos anos 90, trazendo a nostalgia da juventude da própria mãe da artista. 

Em 2018, Sawayama foi chamada por ninguém menos que Charli XCX para cantar em Londres, a parte de Carly Rae Japsen na faixa“Backseat”, do álbum de XCX, Pop 2. Infelizmente, o único registro desse dueto possui menos de dois minutos, mas seria o suficiente para ser o começo de uma grande amizade entre as artistas.

No mesmo ano, Rina abre uma nova camada em suas canções e na relação com os fãs, ao lançar a faixa “Cherry”, uma música sobre não querer mais reprimir sua sexualidade queer, como canta em, “When they tell you that you’ve got to stay the same/ Even though you’re not yourself / And you’ve got somebody else”. 

A canção e clipe levaram Rina a um novo patamar de fama, e o que parecia ser uma ponte para o esperado debut da artista. 

Finalmente, em 2019, o desejo dos fãs, e é claro, de Rina começaram a se concretizar. O debut da artista estava a caminho, e os singles, mais perto do que nunca. 

Começando pela imponente “STFU”, abreviação para “Shut the Fuck Up”, faixa eletrizante que conta na sonoridade com incríveis guitarras e um tom R&B, características do EP de 2017, no entanto, há de se notar a adoção de novas influências como mais rock e até nu metal.  

Na composição e no clipe, um recado e um cala a boca, como o título sugere, para todos que possuem preconceitos e fetiches sobre a população japonesa e, na verdade, para qualquer minoria que sofre xenofobia diariamente. Sim, o primeiro single do primeiro disco da cantora, e ela já está falando sobre assuntos que cantoras pop dificilmente falam, ou muito menos cantam? Esse é o nível de não ordinariedade de Sawayama. 

O grande momento de Rina chegou no começo deste ano, ao lançar “Comme Des Garçons (Like The Boys)”, com um baixo de arrepiar e uma batida cativante, a artista canta sobre ser confiante (como os meninos), ou seja, poder ser uma mulher confiante sem ser chamada de arrogante ou metida, prática infelizmente comum em um mundo patriarcal e machista. 

Qualquer artista sabe que conquistar o mercado brasileiro é achar o ouro no final do arco-íris, e se esse arco-íris for o dos fãs LGBTQ+, nem se fala. E foi exatamente isso que Sawayama encontrou, tornando a canção se tornou maior ainda e colocou o nome de Rina na boca dos brasileiros amantes de pop, ao lançar um remix com Pabllo Vittar, que já conhecia o trabalho da inglesa e se considerava um grande fã. 

O último single antes do lançamento do debut da cantora, é a fantástica (e minha favorita do disco), “XS”. Em uma brincadeira com o termo, “extra small”, ou seja, o PP brasileiro, e a palavra excesso, Rina crítica a indústria desenfreada do consumo. 

No dia do lançamento de Sawayama, o clipe da faixa ganhou um videoclipe divertido e trágico, mostrando o que acontece quando se é alienado pelo capitalismo selvagem, e quando se é submetido a ele, através do trabalho precarizado. 

Finalmente, em 17 de abril deste ano, o debut de Rina foi lançado. Em meio a pandemia do coronavírus, Sawayama consegue a atenção dos fãs de música pop e elogios da crítica por sua jornada que faz jus a tudo que a artista havia feito até agora e, ao mesmo tempo, oferecendo sonoridade e novas reflexões de modo honesto, divertido, e fresco em meio a tanta saturação musical e de personalidade (ou falta dela) na indústria do pop. 

Confira abaixo o disco de Sawayama, de Rina Sawayama:

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