O duo de pop alternativo Looa expande sua sonoridade e dá um salto criativo em seu novo EP, DATAMOSH. A dupla formada em 2018 pelos amigos de faculdade Chiemi e Gabs acumula singles nas plataformas digitais e agora lança um projeto composto de 4 faixas que expressam bem seu amadurecimento musical.
O nome DATAMOSH representa um arquivo digital corrompido – uma metáfora entre as cicatrizes que são deixadas na mídia corrompida e as cicatrizes que a vida deixa nos seres humanos. O teor tecnológico do título também nos prepara para a sonoridade eletrônica e tecnológica do EP, que bebe de influências do hyperpop, eletropop e dream pop. A produção das faixas foi assinada por Gustavo Schirmer (Jovem Dionísio, Terno Rei, Lou Garcia), com Nico Braganholo na mixagem e masterização, e Álvaro Paz na captação.
Ao longo dos anos, Looa foi lapidando sua própria identidade dentro do pop alternativo falando principalmente de temas como comportamento e saúde mental, buscando refletir sobre questionamentos e sentimentos da vida moderna. Em DATAMOSH, a premissa não é diferente. O projeto olha mais fundo para as marcas deixadas por situações dolorosas e delicadas que o duo enfrentou, mas que foram importantes para a sua história.
Abrindo com a agitada e ao mesmo tempo melancólica “Voltar”, a dupla pula de cabeça no eletropop e nas influências hyperpop enquanto reflete sobre a partida de alguém e o sentimento agridoce da aceitação de algo que “não vai voltar”, como a letra mesmo nos diz. São quase três minutos de uma viagem eletrônica sem freio e até mesmo meio etérea, deixando um gostinho de “quero mais”.
Trazendo um dream pop que remete imediatamente ao som de Tuyo, “Shapeshifter” nos mostra um eu-lírico refletindo sobre seus erros e seus próprios desafios com a saúde mental, como é descrito no verso: “Acho que não é minha culpa eu ser desse jeito / Alguma coisa no meu cérebro é diferente”. Cantada totalmente em inglês, a faixa é um desabafo sensível e o refrão emocional parece algo tirado dos primeiros trabalhos do Paramore em seu disco de estreia, All We Know Is Falling (2005).
Ainda em um tom mais reflexivo e introspectivo, “Souvenirs” é a segunda faixa cantada em inglês e traz um pouco mais da melancolia de contemplar lembranças de um passado que deixou nada mais que souvenires. Ao mesmo tempo, o eu-lírico tenta encontrar seu próprio senso de identidade enquanto se questiona: “Quem sou eu sem você?”
O grande destaque do EP vai para a excelente faixa de encerramento, “NQAMO”. De profundo teor existencialista, a canção descreve os ciclos que se repetem na existência humana de um ponto de vista sem esperança, sem forças para encarar a realidade. O desespero desse lugar mental é refletido com mais força ao final da canção, que se encerra com a repetição das palavras “condenada, sem saída”, demonstrando como o eu-lírico se sente em sua situação atual.
Com seu trabalho conciso, coerente e criativo em DATAMOSH, Looa prepara um terreno bastante fértil para o dia da chegada de seu primeiro álbum de estúdio. Enquanto isso não acontece, porém, é seguro dizer que a dupla tem material o suficiente para ir construindo uma base fiel de fãs aos poucos e se tornar uma das grandes promessas do indie pop nacional.