Após anos de isolamento e distanciamento social, a necessidade de conexão humana se tornou uma urgência no cotidiano de inúmeras pessoas. Com o Meltt não foi diferente. Atravessados por suas experiências individuais e questionamentos que surgiram durante o período pandêmico, os integrantes da banda canadense de rock psicodélico alternativo se juntaram em uma cabana remota durante um mês, escrevendo e solidificando a base do que seria seu segundo álbum de estúdio, Eternal Embers (2023).

Nele, Meltt expande a sonoridade e as ideias apresentadas em seu disco de estreia, Swim Slowly (2019), adicionando uma camada mais colorida de som e explorando de maneira mais refinada os vocais etéreos de Chris Smith junto a sintetizadores cintilantes e guitarras de shoegaze. Em meio ao som mais otimista, escondem-se temas relativos ao crescimento, morte, renascimento e luto – um processo cíclico que acontece em várias fases da vida humana e se tornou mais acentuado, acontecendo também de maneira subjetiva, com a chegada da pandemia.

A psicodelia de Meltt nos leva por uma viagem sonora em Eternal Embers enquanto a banda reflete sobre temas modernos e busca uma conexão maior com a natureza, procurando libertar-se um pouco do excesso tecnológico. Seja de maneira catastrófica, como “os mares que avançam” em “Into the Blue”, ou em um apelo para que a fauna e flora “abram minha mente” em “Blossoms”, o poder da natureza se faz presente em todo o álbum, tanto como força destrutiva quanto como uma nova fonte de vida.

Enquanto promove reflexões sobre os sentimentos de luto e transformação que atingiram os integrantes individualmente durante a pandemia, Meltt também olha para o presente com esperança de que coisas boas podem ser encontradas em meio ao caos. Na romântica “It Could Grow Anywhere”, a banda reflete sobre relações que se formam através das redes sociais, mas transcendem a barreira do tecnológico e se transformam em algo orgânico e duradouro, provando que “o amor não precisa de motivo / ele pode crescer em qualquer lugar”.

Levando o ouvinte em uma viagem psicodélica de sons e sensações, em Eternal Embers Meltt busca criar uma fuga do cotidiano e das influências tecnológicas, expressando sua busca por um estilo mais natural de vida – sem dúvidas influenciados pelo tempo que passaram reclusos na natureza, escrevendo o álbum. Refletindo nossos sentimentos pós-pandêmicos, a banda despeja seus questionamentos mais profundos ao mesmo tempo em que busca olhar para o futuro com esperança e dando início a mais um ciclo de morte e renascimento, como sintetizam bem na última faixa, “Another Quiet Sunday (Keep Moving On)”: “Algum dia nos veremos de novo / Por enquanto eu preciso continuar seguindo em frente”.