O novo álbum da The Mönic chega com um aviso bastante claro: Cuidado Você. O título parece rebater uma orientação de cautela, tirando o eu-lírico do lugar de vítima e sinalizando que estamos prestes a entrar em um terreno perigoso e ao mesmo tempo poderoso.

De muitas formas, esse pode mesmo ser considerado um disco de empoderamento, à sua própria maneira. É o primeiro trabalho da The Mönic cantado quase completamente em português (com exceção de “Walk All Over Me”) e com os vocais divididos entre os quatro integrantes, criando uma sensação maior de comunidade e sintonia.

O disco trilha um novo caminho e dá um passo adiante na sonoridade da banda, trazendo um “punk rock dançante” e dinâmico, ganhando destaque na cena atual do rock nacional pela energia e irreverência. Cuidado Você foi produzido por Rafael Ramos, que já trabalhou com nomes como Pitty, Titãs e Dead Fish. A influência desses nomes – especialmente dos primeiros trabalhos de Pitty – pode ser sentida com clareza em faixas como “Sabotagem” e “Não Dá”.

Tematicamente, a The Mönic fala muito sobre autonomia, trazendo também críticas, reflexões e, muitas vezes, uma perspectiva bastante feminista. A faixa de abertura, “Simplifica”, por exemplo, sinaliza a vontade feminina de também querer algo casual e descomplicado, quebrando o estereótipo machista de que mulheres estariam sempre à procura de romantismo. Já em “Não Dá”, a banda busca um lugar de incentivo e empoderamento, cantando no refrão: “Você não vai ser calar / Não dá / O seu corpo é revolução”.

Com bastante audácia e elementos novos (como os screamos de Dani Buarque) Cuidado Você tem um toque de agressividade desafiadora que fica mais evidente em faixas como o single “Atear” e até mesmo na divertida “Bateu”. O álbum se encerra com a excelente “Kamizake”, navegando questões existenciais como a impermanência de tudo que nos habita, escancarada no refrão forte: “Pena / Somos contagem regressiva / Na fuga da impermanência / Pra naufragar na superfície”.

Em seu segundo álbum de estúdio, a The Mönic entrega um trabalho bastante coeso e coerente, abordando com força as pautas defendidas pelas integrantes, seja a autonomia feminina ou o amor sáfico, abordado em “Aquela Mina” – descrita como um “hino punk lésbico envolvente”. Ao longo de suas 11 faixas, o disco não deixa a peteca cair em nenhum momento e traz uma nova faceta de uma banda que prova ser capaz de se reinventar e manter bastante viva a eletricidade do rock.