Johnny Monster é um artista completo que esbanja simpatia e alto astral. Mesmo em meio à realidade caótica que inspirou seu novo disco, Futuro Perplexo, o músico encontra perspectivas positivas e motivos para ter esperança. Afinal de contas, o futuro chegou para todos. E o que ele nos trouxe foi realmente de se espantar. 

Na perspectiva de Johnny, o Futuro do título pode ser visto como um personagem que se encontra perplexo com a humanidade. E como nada melhor para ambientar a indignação do que o bom e velho rock ‘n’ roll, o disco traz inúmeras referências do rock clássico, do blues, do punk e do pop rock mesclados a uma variedade de gêneros e influências para formar o que Johnny Monster considera o trabalho mais diverso de sua carreira – que em 2022 completa 13 anos.

Abrindo a fila das ilustres colaborações, Futuro Perplexo traz suas duas maiores faixas de protesto bem na metade do disco. “Veneno” conta com a participação de Clemente Nascimento, da banda Inocentes, e faz uma crítica à saturação de opiniões, julgamentos e verdades absolutas encontradas nas redes sociais. A canção invoca a necessidade de ser salvo por um disco voador e levado para um outro planeta, ideia que é reforçada logo em seguida na energizante “Saída de Emergência”, com participação do ator Eriberto Leão.

Apesar do enorme descontentamento e desespero com o estado atual do mundo, Johnny Monster também quer dançar. A energizante mistura de new wave e punk rock em “Até O Fim” convida para a pista de dança e prepara terreno para o pop rock oitentista da colorida “Para Lembrar de Você”, com participação de Bianca Jhordão, do Leela. É uma grande festa que acontece durante o fim dos tempos, mas são nos momentos mais turbulentos que a necessidade de dançar se faz mais presente.

Mesmo trazendo uma série de questionamentos filosóficos e atuais, Futuro Perplexo transmite uma leveza de sonoridade e pensamento que só poderiam ser passadas por um artista que carrega essa filosofia de forma autêntica. A faixa de abertura “Juntos Outra Vez” abre o álbum não com uma perspectiva negativa da realidade, mas com a certeza e a esperança de que, ao fim de um período ruim, o coletivo poderá se unir novamente. “O céu está encoberto, mas o sol não se escondeu,” afirma Johnny Monster na canção.

O artista segue na busca por “Paz e Amor” e também equilíbrio na psicodélica “Yin Yang”, além de partir numa jornada dentro dos sonhos em “Liberdade (Antes Que Seja Tarde)”. O álbum se encerra em uma viagem de seis minutos por “Toda Coisa Tem Suas Coisas”, com Dani Aggio – uma faixa suave e sensível sobre paciência e o ciclo inevitável da vida. “Mesmo que demore a começar, toda coisa tem seu tempo de aflorar”, cantam os artistas.

Ao final de Futuro Perplexo, somos convidados a aceitar que existe um tempo para as coisas boas e um tempo para as coisas ruins, e ao longo do caminho com o disco, aprendemos a tentar manter a esperança de que essa roda continuará girando e trará um momento de calmaria depois do caos. Com muita criatividade, leveza e inteligência, Johnny Monster faz uma homenagem à história do rock ao mesmo tempo que acena também para a modernidade do gênero ao citar influências como Ezra Furman, Sharon Van Etten e Future Island. Em 2022, talvez a maior perplexidade seja descobrir que ainda podemos ter esperança no futuro.

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