Na última sexta-feira, 16, Maggie Lindemann lançou seu aguardado álbum de estreia, SUCKERPUNCH. Apresentado como uma extensão do EP PARANOIA (2021), o disco mescla faixas de pop punk com conteúdo pesado de rock eletrônico e noise rock, deixando para trás suas origens no pop.
Ao contrário de muitos nomes que se consolidaram em outros gêneros e decidiram experimentar no rock depois de uma insurgência do pop punk nas redes sociais, Lindemann realizou sua virada para o alternativo com um propósito e alegou que as músicas de pop chiclete que lançou aos 19 anos foram por pressão de sua antiga gravadora.
“Todo aquele som chiclete que eu fiz está no mundo agora e foi a primeira coisa que as pessoas ouviram de mim, mas não é quem eu sou de jeito nenhum,” conta Maggie em entrevista à Nylon. “É uma péssima representação de mim. Eu gostaria de ter sido quem eu queria ser desde o início.”
Depois de deixar sua gravadora, Lindemann passou a lançar suas músicas através de uma distribuidora, o que a concedeu maior liberdade criativa e total controle e posse de seu trabalho. Parte do resultado pode ser conferido no EP PARANOIA, que tem músicas com mais peso e produção ousada, já sinalizando em faixas como “Scissorhands” e “GASLIGHT (feat. siiickbrain)” um pouco do que poderia ser esperado de SUCKERPUNCH.
Atualmente com 24 anos, Maggie Lindemann usa seu primeiro álbum de estúdio como forma de apresentar o tipo de sonoridade que realmente deseja seguir. Com seus cabelos pretos e roupas que remetem ao novo estilo emo, ela escolheu faixas do novo disco com foco maior no pop punk para serem singles, como “she knows it”, “you’re not special” e a mais recente “cages”, que chegou acompanhada de um videoclipe com estética bem MTV anos 2000 e referências à Avril Lavigne na era “Sk8ter Boy”.
A estratégia é inteligente porque são as canções mais prováveis de fazer sucesso com o público e nas redes sociais, tendo como forte apelo os refrões grudentos. Quem se aventurar a entrar no álbum, entretanto, vai encontrar um conteúdo muito mais interessante, remetendo a heróis de Lindemann como Bring Me The Horizon, Evanescence, Melanie Martinez e a própria Avril Lavigne.
Liricamente, os assuntos não oferecem grande diversidade, navegando por relacionamentos frustrados de Lindemann, algumas de suas questões com a saúde mental e a busca de compreensão da própria identidade. Muito da raiva e da dor presentes em suas letras são refletidas também na produção pesada e mais sombria, que ambientam bem esse lugar de confusão.
“take me nowhere” abre o álbum com bastante força, falando da necessidade do eu-lírico de escapar para fugir da dor, assunto que é retomado mais pra frente na caótica “novocaine”. Algumas faixas, como a assombrosa “girl next door” e a obscura “break me! (feat. siickbrain)”, soam como algo saído direto de um pesadelo, remetendo um pouco ao conceito do álbum de estreia de Billie Eilish, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? (2019). Outras têm uma característica levemente gótica em partes da produção, como é o caso de “i’m so lonely with you”, remetendo a trabalhos mais antigos do Evanescence.
A voz doce de Maggie por vezes parece meio deslocada em meio ao peso das guitarras e distorções eletrônicas, mas ela soa confortável e consciente de seu alcance vocal, atingindo notas altas especialmente durante os refrões, como acontece em “hear me out” e na faixa de abertura. O álbum também conta com a participação de Kellin Quinn em “how could you do this to me?”, intensificando o sentimento de nostalgia com um riff de guitarra imitando o de “Misery Business”, do Paramore.
Mesmo não oferecendo nada de muito inovador, o trabalho de Maggie Lindemann em SUCKERPUNCH se destaca de outros exemplos de artistas que flertaram com o pop punk sem experimentar de verdade com a música alternativa. Nomes como Machine Gun Kelly e até mesmo a própria Avril Lavigne se apegaram à nostalgia dos anos 2000 e às novas tendências que misturam emo e trap, mas não se envolveram com outras subdivisões da música punk ou elementos sonoros mais afastados do mainstream.
Com seu primeiro álbum de estúdio, Maggie Lindemann tem uma chance de introduzir no mainstream mais um pouco da mistura de elementos eletrônicos com faixas que soam mais pesadas e remetem vagamente a vertentes como o post-hardcore. Ainda que muito de seu trabalho siga se consolidando nas bases do pop, o som popular mesclado a características que trazem mais peso para as canções podem conquistar novos fãs que estão em busca de estilos alternativos de música.
Em 2022, é quase impossível tentar adivinhar os próximos passos de um artista baseado em seu primeiro álbum de estúdio. Com a demanda por novos gêneros musicais mudando cada vez mais rápido, ainda é incerto dizer se Lindemann poderia ser uma nova representante do pop punk atual para a nova geração – neste momento, entretanto, ela mostra que seria capaz de ocupar esse lugar com um conteúdo bastante interessante.