O álbum de estreia de The Last Dinner Party, Prelude to Ecstasy, é construído como os três atos de uma peça teatral. Da introdução ao desfecho, o quinteto britânico navega por diferentes níveis de dramaticidade e imponência para contar sua história. 

Unindo glam-rock e new wave a elementos clássicos, a banda já reunia uma sólida base de fãs antes mesmo de ter um disco cheio. Além disso, recebeu votos de confiança de nomes consolidados do mundo da música, como Rolling Stones, Florence & The Machine e Nick Cave, que escolheram The Last Dinner Party como número de abertura de seus shows.

Abigail Morris (vocais), Lizzie Mayland (guitarra), Georgia Davies (baixo), Aurora Nishevci (teclado) e Emily Roberts (guitarra) começam o disco com um prelúdio orquestrado e cheio de camadas, que não só revela as influências clássicas da banda, mas também define o cenário do que vem a seguir. 

Em “Burn Alive”, o grupo adiciona aos poucos alguns de seus elementos mais marcantes: os vocais operísticos de Morris, que crescem no fim da música, e referências que acenam a figuras femininas, como Eva e Joana d’Arc. Aqui, no entanto, elas aparecem à luz de um relacionamento destrutivo de alguém que se queima diante das chamas de um amor tóxico e que doaria uma costela por outra pessoa. 

Já “Caesar on a TV Screen” vai pelo caminho contrário, e a fraqueza demonstrada na faixa anterior desaparece logo no minuto inicial da canção. “When I put on that suit / I don’t have to stay mute / I can talk all the time” (“Quando eu coloco aquele terno / Eu não preciso ficar muda / Eu posso falar o tempo todo”, em tradução livre). No clipe, interpretado pela própria banda, “Caesar on a TV Screen” se transforma numa adaptação da tragédia shakespeariana sobre Júlio César.

Assim como sua predecessora – que une uma peça do século 16 à modernidade de uma TV –, “The Feminine Urge” brinca ao trazer elementos contemporâneos à obra. O meme que dá nome à faixa ganhou popularidade nos últimos anos e traz à tona os mais diversos tipos de desejo feminino. Na composição de The Last Dinner Party, a vontade de  “nutrir as feridas que a minha mãe manteve” expõe a ciclicidade dos episódios violentos a que as mulheres são expostas, geração após geração. 

Os temas relacionados a questões de gênero aparecem ainda em “Beautiful Boy”, faixa que assume um tom melancólico em comparação às anteriores. À Rolling Stone UK, Abigail Morris contou que a música foi inspirada em um amigo que perdeu seu celular durante uma viagem na Espanha e conseguiu contornar a situação pedindo ajuda a estranhos, algo que não aconteceria da mesma forma com uma mulher. “Quando você é uma mulher bonita, é uma coisa diferente que tem um tipo diferente de privilégio, que traz seus próprios horrores”, diz na entrevista.

“Gjuha”, música cantada em albanês por Aurora Nishevci, encaminha o disco para o seu último ato. Um dos primeiros singles da banda, “Sinner”, e “My Lady of Mercy” trazem novos elementos religiosos à teia de referências de Prelude to Ecstasy. Apesar da vergonha e do pecado, as velas do “altar da luxúria” não se apagam. 

Prestes a chegar ao fim, o álbum atinge seu ápice em “Nothing Matters”. Nela, The Last Dinner Party se permite atravessar as fronteiras do desejo sem a culpa e as limitações exploradas nas faixas anteriores, e é significativo que o quinteto apareça mais unido neste momento, amarrando o individual ao coletivo. Por esse motivo, os filmes “As Virgens Suicidas” (1999) e “As Pequenas Margaridas” são aludidos no clipe que complementa a música.

E é com “Mirror” que The Last Dinner Party  fecha suas cortinas e reúne as armas que empunhou em Prelude to Ecstasy. Lançado pela Islands Records e produzido por James Ford, desde seu lançamento, no começo de fevereiro, o álbum já alcançou algumas marcas importantes no cenário britânico. Apenas em sua primeira semana, vendeu mais de 30 mil cópias, e se tornou o trabalho de estreia mais vendido do século no formato de vinil, com 14 mil exemplares, de acordo com dados da Billboard.