Texto por Carol Candido
A banda Dead Fish, veterana do hardcore brasileiro, lançou no dia 12 de janeiro, seu mais novo álbum, Labirinto da Memória. O grupo, que está na estrada desde 1991, ainda se mantém atual, e, com uma sonoridade cada vez mais madura.
O trabalho conta com 13 faixas, e apresenta um álbum de recortes, extremamente intimista, da história do vocalista Rodrigo Lima. Passando pela convivência com seu pai, a infância em Vitória-ES, o motivo que o fez questionar a instituição igreja, a vivência perante às violências da ditadura e a sua constante luta por liberdade, mostra que a memória é individual, mas também passa por um imaginário coletivo.
A arte desse projeto é feita pelo artista e ilustrador Loud, que já colaborou em outros álbuns da banda. Na capa, é reunida a essência das músicas, com diversas artes, que tem significados individuais em referências às letras, mas em conjunto, formam o caminho desse labirinto.
O primeiro single que tivemos o privilégio de curtir, foi “Dentes Amarelos”, essa música apresenta um Dead Fish nostálgico, e, por que não frágil. Quando cantam “Cai o primeiro dente de repente; Tudo passa ser definitivo; A fragilidade se transforma em medo; Pra preservar se recua” exemplifica de forma sensível o processo de crescer, com todas as inseguranças, que pairam neste momento.
Continuando a analogia de crescer, se utilizando de dentes, “Aprendendo a ter orgulho dos meus dentes amarelos; Que rangem quando falo, mas se calo, esfarelam; Ainda servindo para devorar; O mundo em pedaços que uma hora eu engulo” a banda finaliza mostrando que mesmo depois de todos esse anos ainda resistem e lutam. Esse single contou com um clipe, que está disponível no canal da banda no YouTube.
Já a faixa “Avenida Maruípe”, é um ótimo exemplo de todo esse baú de memórias, que o vocalista Rodrigo abriu para nós, a começar pelo título que resgata o nome de uma avenida de seu estado natal Vitória-ES, que fica em frente a casa onde viveu em sua infância, onde havia um abacateiro na frente, abacate esse que está representado na capa do álbum. Resgata também memórias da ditadura, assim como o movimento das diretas já, nessa música é clara a passagem da inocência da infância para a violência da vida adulta.
Os fãs mais atentos da banda, perceberam um semelhança nos riffs iniciais de “49”, que lembram os da música “912 passos” do álbum Vitória, porém em “49” podemos ouvir um Dead Fish muito mais melódico, nesse som é feito um paralelo entre o pai de Rodrigo e a experiência dele agora como pai aos 49 anos, em “49”, não temos também os vocais barrados de “912 passos”. Em sua rede social, na época do lançamento, o guitarrista Ricardo Mastria fez um paralelo mostrando a diferença entre as guitarras das duas canções.
A banda que é composta por Rodrigo Lima (vocalista), Ricardo Mastria (Guitarra), Igor Tsurumaki (baixo) e Marcão (bateria), está cada vez mais harmoniosa. Labirinto da memória resgata, mas também ensina, as músicas cheias de referências, são carregadas de fatos históricos e políticos, mais melódico do que nunca, o hardcore do grupo segue afiado e devorando esse mundo aos pedaços.
Show de lançamento no aniversário de São Paulo
Com 15 álbuns gravados, o grupo conta com fãs fiéis, sempre entoando nos shows os sons clássicos que não podem faltar, mas também, as suas músicas favoritas do último álbum. Nos dias 25 e 26 de janeiro, a banda realizou dois shows gratuitos no CC Tendal da Lapa, aproveitando o feriado de aniversário da cidade, o presente foi para os fãs que tiveram a chance de ouvir alguns sons pela primeira vez.
Mesclando os clássicos já estabelecidos do grupo, com as músicas novas, o show teve a mesma energia de sempre, que quem frequenta o hardcore já está acostumado. Um exemplo de como a discografia do Dead Fish conversa muito bem entre si, é o bloco no setlist do dia 25, em que cantaram “Venceremos”, “Interrupção” e “Perfect Party”, que apesar de serem de momentos diferentes da banda, combinam muito bem ao vivo.
No dia 26 a surpresa ficou por conta da música “paz verde”, essa que é querida por muitos fãs, mas fazia tempo que não era tocada ao vivo pela banda. Esses shows foram uma ótima oportunidade para ouvirmos as músicas novas e já ensaiarmos os passos no moshpit. A agenda da banda segue cheia, e haverão muitas outras oportunidades para curtir o Labirinto da Memória ao vivo.
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